terça-feira, 24 de julho de 2018

Episódio 38-Sensibilidade de Viver:Gestação




No dia seguinte, Lune acordou elétrica!
Ao contrário do de sempre, desta vez ela acordou primeiro, e já correu a preparar o café da manhã para ela e o marido.
Depois acordou Takeo e o mandou para o banho, enquanto o desjejum ficava pronto.
Quando ele terminou e se trocou, o café da manhã estava pronto e os dois se sentaram a  mesa e comeram.
Takeo então foi trabalhar, e agora foi  a vez de Lune tomar um novo banho e se trocar.
Tudo pronto, pegou sua bolsa, foi para a garagem e pegou seu carro e foi até a estação de trem, onde deixou seu carro no estacionamento da estação. Então, pegou o trem para Kyoto, e depois o metrô a levou na estação que ficava em frente ‘a universidade.
Lá ela se reencontrou com Keiko e as duas se abraçaram fortes, chorando de emoção e saudades.Foram então conversar com Sumika, uma senhora que tinha idade para ser mãe dela, muito simpática e atenciosa.
As negociações foram rápidas e a papelada foi preenchida e  preparada.
Lune conheceu a universidade e soube como seria seu trabalho: ela seria pesquisadora auxiliar de Keiko, onde passaria parte do tempo pesquisando arquivos e biblioteca, e outra parte participando  de expedições arqueológicas e principalmente, preparando e catalogando as peças para o Museu arqueológico da cidade.Nada mais de dar aulas, era um trabalho muito mais interessante  e que tinha muito mais a ver com Lune.
Keiko e Sumika a convidaram para almoçar com elas em um restaurante no centro da cidade, e foram as três no jipe Toyota de Keiko.
Depois, ela se despediu delas e tomou o metrô de volta para a estação de trem, onde , logo ao chegar, foi ao estacionamento, pegou seu carro e foi a Universidade Kansai tratar de seu desligamento.
Não a surpreendeu que, ao chegar lá, sua papelada já estivesse toda prontinha no departamento de recursos humanos- ela logo soube que seria demitida assim que acabasse a suspensão.
Procurou então correr com a papelada e fazer o desligamento oficial  o quanto antes, pois para seu currículo, era melhor se demitir do que ser demitida.

Recebeu, em um envelope, o salário de uma semana em que ficou lá, sessenta e oito mil yenes.
Saiu então de lá, entrou no carro e passou no seu banco, onde depositou  seu salário.
Só então voltou para casa, e nisto, o dia todo tinha se passado, e já era hora de voltar para casa.
Mal chegou, já foi para outro banho, e tirou um kombini para o jantar.
Não demorou, e Takeo chegava  do trabalho.
Ele a cumprimentou com um selinho e depois foi para a cozinho e abriu a geladeira para pegar um refrigerante.
-Nossa, querida, quanta coisa tem na geladeira !Está abarrotada !
Ele disse ao se sentar na mesa para jantar.
-É que eu fiz compras anteontem, querido !
-Entendi, mas...faltava tanta coisa assim?
-Ah, Takeo-kun, faltar não faltava tanto, mas eu que não resisti...
Takeo levantou-se da cadeira e olhou os armários, estufados de tanta comida !
-Bem, quanto você gastou?
Lune empalideceu:
-Duzentos de oitenta mil yenes, aproximadamente...
-O queeeeê? Duzentos e oitenta mil yenes? Querida, você tem idéia quanto é o salário médio que um trabalhador japonês ganha? Quatrocentos e trinta mil yenes, se for homem, duzentos e quinze mil yenes se for mulher !E quanto você estava ganhando na Kansai?
-Duzentos e setenta e dois mil yenes...
-Você tem idéia do absurdo que você cometeu?É mais do que o seu salário inteiro de um mês !Em um dia de supermercado, Lune-san !Você ganhava de mesada de seu pai setenta e dois mil yenes por mês, é o equivalente a quatro meses da sua mesada antiga !É mais do que o salário médio inteiro de um mês de uma trabalhadora média japonesa !
Lune ficou constrangida e envergonhada, de cabeça baixa com a bronca:
-Por isto que as pessoas me olharam tanto no supermercado...
-Claro, ninguém faz uma compra maluca, gigantesca destas! Ficou maluca?E agora descontrolou todo o nosso orçamento ! Pensa bem, Lune-san, pensa bem: seus pais tem renda familiar mensal de setecentos e vinte mil yenes, isto é um terço do que eles ganham com uma só compra!E para quê tanta coisa deste jeito?Metade do que você comprou foram guloseimas e doces, salgadinhos, tem toneladas deles aqui...se a gente comprou kombini para o mês todo, para quê comprar carne, e tantos laticínios?Vai é estragar um monte de coisas na geladeira e nos armários, olha, olha só, tudo das marcas mais caras, marcas caríssimas, nem minha família fica comprando estas coisas todo dia...bem, presta atenção, eu ganho quatrocentos mil yenes por mês e você ganhava duzentos e setenta e dois mil yenes  no seu trabalho, o que daria um total de seiscentos e setenta e dois mil yenes , mas como agora você mudou de universidade, vai reveber duzentos e doze mil yenes, ou seja, nossa renda conjunta vai ser de seiscentos e doze mil yenes, é é com isto que vamos viver , mas um terço inteiro disto já foi com esta compra enorme ! E as contas, como vamos pagar?Nossos pais não vão mais nos socorrer!
-Comprei no cartão de crédito, pois só tinha trinta e seis mil yenes na minha conta...
-Bom, então não afetará este mês , mais afetará o mês que vem !Olha, amor, este mês ainda recebemos mesada, e ainda assim, você recebeu setenta e dois mil yenes e eu, cem mil yenes, então, este mês ainda teremos de viver com apenas cento e setenta e dois mil yenes, e não podemos mais ficar desperdiçando. Seu pai lhe deu uma poupança de setecentos e cinquenta mil yenes que ele poupou a vida inteira para você, mas você já gastou mais que um terço dela com esta compra.E eu ganhei outros setecentos e cinquenta mil. Mas estas poupanças são para emergências, se a gente ficar doente, precisar se internar num hospital, serão para a sua gravidez, exames, parto, etc,não podemos usar deste dinheiro, ainda mais a toa assim!
-Eu me deslumbrei...foi a primeira vez que fui num supermercado... era muita tentação...desculpe!
-Querida, é...é difícil de entender, você nunca foi consumista, pelo contrário, sempre combateu o consumismo...mas, bom, tudo bem, foi a sua primeira vez, desta vez passa, está desculpada, mas eu vou precisar tomar uma medida radical, para nosso bem: por favor me entregue seu cartão de crédito!
Lune levantou-se, cabisbaixa, foi até a bolsa dela e entregou o cartão.
-É melhor você não usá-lo por enquanto, nem eu, para evitarmos novos desastres financeiros.
-Eu...eu recebi sessenta e oito mil yenes da minha demissão hoje...
-ótimo, transfira para a sua poupança, para diminuir nosso prejuízo, ao menos reporá parte do que gastou...tinha setecentos e cinquenta  mil, gastou duzentos e oitenta mil, repôs sessenta e oito mil, você ficará com quinhentos e trinta e oito mil, mas, por favor, não mexa mais, sem necessidade, ok?
-Ok...
Lune, de olhos rasos, abraçou Takeo e chorou aos cântaros. Ele a abraçou e ficou a acariciar seus cabelos.
-Eu errei...eu errei, fui tão boba, tão iludida...não sei o que deu em mim...me perdoa, Takeo-kun...
-Não se penitencie por isto, amor, não fique assim, olha, vai dar tudo certo, ok?
-Diz que me perdoa !Eu preciso ...eu preciso !
-Perdoo sim, anjinho, claro que si, desculpe eu ter ficado bravo com você...
-Nossa primeira briga...
Sim, mas nenhuma briga vai nos separar, fique tranquila, acabou tudo bem, e eu continuo a amando como sempre  amei...
-Obrigada...eu...eu vou dormir...eu...eu ainda estou magoada, traumatizada, por favor, entenda...
-Lune, Lune, minha Lune, tantas vezes se faz de forte, mas é frágil e livre como um passarinho...vai lá meu bem, eu também já vou...
-Deixa para ir depois, fica um tempo aí ventdo televisão ou no computador...preciso muito de um tempo sozinha agora...
-Claro, querida, seu desejo é uma ordem!
Lune esboçou um torto e desengonçado sorriso tímido, e, de cabeça baixa, olhar baixo e encharcado de lágrimas, e postura algo corcunda, foi para a cama, com a roupa que estava, se cobriu até acima da cabeça e virou para o lado. Estava coberta sim, sobretudo de vergonha...

(Por Continuar)

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