segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Episódio 130- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP






E quanto a Lune?
Ela via aquelas cenas com outros olhos...
Lembrou-se do documentário que vira anos atrás sobre o parto, e a conversa que teve com sua avó sobre ser mãe.
E lembrou-se também da sua expeiência em pegar a priminha de Takeo, Washu, nos braços.
O que lhe chamou a atenção foi a sujeira do bebê, a mesma do documentário.Imediatamente lhe pareceu um pedaço de carne viva ensanguentada!
Não conseguia ver qualquer beleza naquilo. Não conseguia sentir nada por ela, estava profundamente chocada, de olhar vidrado, e distante de tudo o que todo mundo falava.
-Lune-san?Lune-san?
Era a voz de Takeo.
-Sua sobrinha, Lune-san, vá vê-la de perto...
Lune permanecia estática como uma estátua, boquiaberta, olhos arregalados, pupilas dilatadas.
Takeo abanou a mão na frente dos olhos dela e ela nem piscou.
Só ele percebeu como ela estava, pois o bebê era o centro total das atenções.Então, Takeo teve uma idéia ousada: deu um forte beliscão na nádega esquerda de Lune, que deu um pulo e soltou um gritinho.
Sem seqier pensar, num gesto automático, deu um tremendo tapa na cara de seu noivo.

Só então as atenções se voltaram para ela.
-Ei, filha, que é isto?
Disse Momiji, surpresa.
-Isto é para você aprender a não beliscar meu traseiro, seu idiota !Idiota !
Disse Lune, raivosa, na frente de todo mundo.
Takeo corou de vergonha imediatamente.
-É que você estava catatônica, olhar vidrado, nem piscar você piscava, amor...estava preocupado !
-E isto lá é jeito de me acordar, seu pervertido de uma figa ?Olha a vergonha que você está me fazendo passar !
-Desculpe, amor, desculpe, não fiz por mal...
-Filha, ele não fez por mal, a intenção era boa...
-Muito de perverso já se fez com boas intenções, mãe!Os fins não justificam os meios!
-Filha, ele já pediu desculpas...
-Desculpas não vão fazer passar minha dor nem minha vergonha, pai !Doeu, viu?
E Lune fuzilava Takeo com o olhar, e o olhar dele decaiu, assim como a cabeça.
Magoado, ele se retirou do recinto.
-Shhhh!Silêncio no Hospital !
Disse a Enfermeira.
O clima era constrangedor, e até Rena começou a chorar.
Ruri e Soichiro olharam feio para Lune.
Kazuo, aflito, resolveu intervir:
-Vem filha, vem tomar um lanche comigo...
A contragosto e contrariada, Lune resolveu sair. A vontade dela era de brigar com o casal, mas isto pegaria mal e ela percebeu o clima geral desfavorável a ela.
Parecia que todos apontavam para ela e diziam:
-Culpada !
Ela e Kazuo saíram da sala e desceram até a lanchonete.
Sentaram-se numa mesa. Lune tremia de nervosa !
-Peça o que quiser, filha...
-Não estou com fome, pai ...
Kazuo soltou um suspiro e revirou um pouco os olhos, respirou fundo e disse:
-Filha, você tem razão. O Takeo-san fez realmente algo de muito errado....
-Meu traseiro não é o brinquedo dele para o prazer dele, pai !
-Claro que não é, te dou razão novamente, você está certíssima. Mas, além de pedir desculpas, o que mais ele poderia fazer para se redimir?
-Não tem como ele se redimir, pai !
-Bom, como você mesma disse, não tem como.Então, como queria que ele se comportasse?
-Sei lá, pai, queria que ele sumisse!
-Bom, ele fez isto, ele foi embora. E provavelmente magoado...
-Ah, sei, ok, então, ele belisca meu traseiro, do modo mais pervertido e doloroso possível na frente de todos e ele é que fica magoado?E eu?E eu, pombas?Deixa de defender ele, pai, isto é machismo !
-Está certo, filha, você é quem tem os motivos para estar magoada...
-Traumatizou, entende?Traumatizou, caramba, droga !
-Entendo, filha, entendo sim. Mas, quer saber?Traumas existem para serem superados, e você em sua vida já superou traumas muito, muito piores do que este...
-Mas não  justifica !
-Não justifica mesmo, filha , tem razão, e nem estou tentando convencê-la , ou justificar nada, afinal, eu quero o seu bem, a sua felicidade...
Lune se levantou, de olhos marejados.
-Ai, pai...meu ego dói muito mais que meu traseiro...
Kazuo teve vontade de rir, mas se segurou.
Ele se levantou e abraçou a filha, que chorou em seu ombro, desatinadamente, e ficou acariciando os cabelos dela.
Com o passar dos minutos ela foi se acalmando e se recompondo novamente.
Assim que se sentiu melhor, ela voltou a se sentar.
-Agora me diz, filha, por que você ficou naquele estado?
Lune então contou a ele do documentário e da conversa que teve com a avó anos atrás.
-Entendi, entendi, filha...eu agora entendo melhor seu comportamento e sei que você fez bem e só estava se defendendo.Bom, eu acho que o Takeo-san aprendeu mais esta lição e não irá repeti-la, mas convém depois vocês dois conversarem e você explicar tudo isto a ele, ele vai entender.Agora, só há uma maneira de se trabalhar um trauma:revivê-lo. Então vamos voltar para o quarto da Ruri-san, agora a Rena-chan já deve estar limpinha e perfumada, e não lembrará mais uma massa de carne ensanguentada e nojenta.Pegue-a no colo e vamos ver o que acontece, ok?
-Se depois de tudo isto a Ruri deixar...
-Fique tranquila, filha. Olha, eu vou subir lá primeiro e vou explicar tudo direitinho para todo mundo lá e aí o clima vai ficar bom.Assim que estiver tudo bem, eu te dou um toque no celular e você sobe, combinado?
-Tudo bem então, pai, vai lá, eu espero aqui...
Kazuo fez uma carícia nos cabelos da filha e beijou-lhe a testa com carinho e foi.

(Por Continuar)

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