Ao ser avisada dos novos movimentos do navio
mercante, Ariadne disse:
-Curva a bombordo, a mais fechada possível,
timoneira !
Agora não havia mais jeito, os dois círculos que
os navios estavam descrevendo os levariam a fatalmente se encontrar lado a lado
um com o outro. Para azar do bergantim, a distância entre os dois era maior que
o alcance de seus canhões pequenos, mas era suficiente para os grandes canhões
do navio pirata.
Os dois atiraram ao mesmo tempo: dez canhões
piratas enormes contra quatro canhões pequenos do navio mercante.
E o resultado não poderia ser mais previsível: As
balas do navio genovês não alcançaram o inimigo e suas balas explodiram no mar
e as do Barracuda Feliz atingiram em cheio os canhões e a amurada do navio
mercante, que balançou perigosamente.
Correntes com ganchos foram jogadas e içaram o
navio civil para mais perto do pirata até um quase encostar no outro e o
pranchão foi baixado.
Uma avalanche de mulheres piratas invadiu o navio
mercante, e a luta começou.
Mas o pai de Ângela não estava mais lá. Ele fora
um dos atingidos pelos tiros de canhão e caiu no mar já morto. Sem liderança,
os demais mercadores ao perceberem que os inimigos eram mulheres, as
subestimaram e tentaram agarrá-las sexualmente, pagando por este erro com suas
vidas.
Logo estavam todos mortos e as piratas começaram a
descer para a galé para saquear a
preciosa carga de especiarias, víveres, pólvora e água.
Foi Débora a primeira a descer e quando retirou
uma saca de pimenta seca, ela viu, escondida, Ângela, tremendo de medo.
A garota, com seu vestido todo sujo, soltou um
grito de terror ao ver aquela pirata com sua espada na mão, ainda pingando
sangue !
-Eu não esperava encontrar uma mulher aqui !Quem
é você, garota?
-E..e...eu...eu...sou a filha...filha do Capitão
!
Aquilo mexeu com o coração de Débora.
Ela fez uma mesura, e respondeu:
-Eu sinto muito por seu pai...ele foi atingido
por uma bala de canhão nossa e caiu no mar...
-Papai...nãaoooo !
-Não grite, por favor !Eu vou ter de leva-la
comigo , quem sabe alguém queira resgatá-la por um bom valor...
-Não, por favor, por favor não me viole...eu..eu
eu....ainda...ainda sou...
-Ei, eu sou tão mulher quanto você! Nem precisa
falar mais nada, eu já entendi !Aliás, a tripulação inteira da qual faço parte
também é. Jamais faríamos uma coisa destas com você !
-Vocês não vão me matar?
-Não posso garantir sua vida, mas quem decidirá é
a Capitã!
E Débora pegou Ângela e a carregou em cima do
ombro, exatamente do mesmo jeito que se carrega um saco de mantimentos, e subiu
as escadas até ganhar o tombadilho.
-Capitã, olha o que eu achei ! É a filha do Capitão
! O que devemos fazer com ela?Matá-la?
-Levem-na a bordo. Nos dará uma boa escrava !
E foi assim que Ângela Darkwings, filha de Samuel
Sebastian Darkwings, inglês radicado em Gênova, foi parar no Barracuda Feliz !
Logo o navio genovês foi separado do navio pirata, que abriu fogo
contra ele, agora na direção da linha de água e ele afundou cheio de mortos.
Não demorou, o Barracuda Feliz, com toda a sua
tripulação e Ângela a bordo, sumiu no horizonte.
Agora Ângela não tinha mais tempo sequer para
chorar. A humilhação de ter sido poupada para ser escrava lhe era intensamente
dolorosa, mais as saudades do pai dela e da família dela. Ela estava acostumada
a uma vida nobre, de riqueza e fartura, e na verdade o navio de seu pai a
levava para visitar parentes ingleses na América do Norte, mas não
conseguiu cumprir sua missão.
Ela nunca imaginara que poderia um dia ser
reduzida a mera escrava. E como tal, recebia tratamento violento e grosseiro das
piratas, que a humilhavam e ofendiam constantemente, e recebia frequentes
castigos físicos.
Mas ela não se esquecera das palavras de seu pai,
e não se continha de tanto remorso por não ter lutado por sua vida quando foi
encontrada.
Planejava em detalhes, enquanto fazia os serviços
mais pesados, nojentos e imundos do navio, sua vingança. Como era impossível
saber quem foi a autora do tiro de canhão que matara o pai dela, decidira-se a
vingar-se matando a tripulação inteira. Ela decidiu que a melhor maneira era
procurar ser a melhor possível em que fazia, para ser promovida a pirata
também, e então trair a tripulação na primeira oportunidade. Para tanto,
resolvera se aproximar e fingir amizade com Débora e Sofia as duas que se
identificavam pais com ela e a tratavam sempre bem melhor que as outras, as
únicas que a tratavam bem, com humanidade. Esperava que as duas acabassem
recomendando que ela fizesse parte da tripulação.
(Por continuar)
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