terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Episódio 73: Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP





Deitou-se nua na cama, e desta vez, ferrou pesadamente no sono, bem rápido.
Depois de um tempo, começou a sonhar que estava chovendo forte, e o barulho de água correndo persistia em seus ouvidos.
Acordou e só ao ficar em pé que percebeu que estava segurando fazia tempo uma enorme vontade de urinar e que estava quase fazendo ali mesmo.
Correu para o banheiro e aliviou-se.
A dor de cabeça tinha enfim passado, eram seus pensamentos enquanto se limpava.
Saiu do banheiro e começou a procurar novas roupas. Vestiu a mesma calcinha que já tinha usado para ir tomar café da manhã, mas a sentiu molhada. A abaixou e viu que estava forrada de corrimentos.
Não tinha jeito, agora teria de tomar banho de novo !
Com nojo, jogou a calcinha suja no cesto de roupas para lavar.
Mais um banho e agora sim, depois de se enxugar, escolheu outra calcinha  menos decotada, de algodão e mais confortável, mas de cor marrom.
-Preciso fazer uma visita ‘a ginecologista !
Pensou Lune consigo mesma.
Vestiu o shorts jeans e um sutiã tomara que caia, e colocou uma blusinha amarela.Calçou sandálias amarelas para combinar com a blusa, se penteou, se perfumou e se olhou no espelho.
Ao pé do espelho tinha um estojo de maquiagem e diversos batons.
-Ah, não estou com paciência para isto agora, deixa para lá !
Colocou o desodorante nas axilas e saiu do quarto, ganhando as escadas.
Ao chegar no final da escada, Momiji a viu e disse:
-Sorria !
-Para quê?
-Apenas sorria, quero ver uma coisa...
Lune não gostava de forçar sorrisos, mas obedeceu.
-Era o que eu pensava. Vá escovar os dentes, filha !
-É mesmo, esqueci , mãe !
-Não esquece a cabeça por que está no pescoço, senão esquecia também !
-Ah, não enche, mãe, vá !
E Lune subiu as escadas correndo para escovar os dentes.
Dali a pouco ela voltou e sua mãe voltou a implicar:
-Onde você vai?
-Não é da sua conta !
-Como não é da minha conta?Não sou sua mãe por acaso?
-É !Só que eu sou adulta e não te devo satisfações !
-Ah, não? E quem é que paga os custos de sua faculdade?Quem te sustentou a vida inteira, sua ingrata?
-Gratidão não se cobra, muito menos com juros e correção monetária !Não vou ficar te agradecendo só para satisfazer o seu ego e a sua vaidade !E quer saber, se você me sustenta e sustentou, não é mais do que ...
-Se você completar esta frase vais levar um tapa, filha !
-Não vai dar tempo !Fui !
E Lune bateu a porta da sala que dava para a rua.
-Filha !
Kazuo apareceu.
-O que está acontecendo, amor?
-O que está acontecendo, Kazuo-kun, você é um  ser aéreo que nunca sabe o que está acontecendo, só isto ! Estou cheia !Cheia !Nunca, você nunca está do meu lado para me ajudar nestas horas, nunca !
-E...
-Não fale nada, Kazuo-kun! Nada ! Me deixa em paz ! Some da minha frente ! Suma !
Alheia ‘a brigaiada, Lune caminhava pela rua, pensando consigo:
-Não estou a fim de ficar com gente me torrando hoje ! Está um dia tão bonito !
E ela continuou caminhando, como ela fazia antigamente. Ela notava que sentia falta de caminhar sozinha pelas ruas pensando, filosofando, observando as pessoas,criticando a sociedade.
Sem dúvidas que ela amava estudar, mas aquele tempo para si ela não estava tendo em Sakura City.
Ela tinha de dividir seu quarto e seu tempo com Mercedes, com suas colegas, fora os rolos em que ela estava eternamente implicada.
Ela também adorava a companhia de Takeo, por decerto, mas naquele momento ela sentia que seu tempo era só seu, só para si, e sentia-se livre, completamente livre.
Então ela passou em frente a um carrinho de lanches de rua onde, anos atrás, ela e Rina adoravam parar, comer alguma coisa e conversar, sempre que podiam.
As saudades de sua amiga bateram forte, e ela podia imaginar, parecia estar vendo Rina sentada no banquinho ali.
Coração apertado, ela continuou seu caminho, aparentemente inconscientemente, quando deu de cara com a escola onde estudara tantos anos.
Um enorme suspiro foi inevitável !
-Tantas lembranças...tantas lembranças...
Foi quando passou pelo portão principal e, quando percebeu, estava no mesmo lugar, na mesma posição em que o episódio do assassinato de Rina aconteceu.
As imagens, sons e cheiros lhe voltaram ‘a mente imediatamente, fortes!
Ela podia escutar o barulho do tiro, o cheio do sangue, o grito de Rina, seu próprio grito,  e via o corpo de Rina caindo, ensanguentado, e a cabeça de  Yurika explodindo com o novo tiro e murchando tenebrosamente, e ela sentiu um arrepio fantasmagórico , sua espinha gelou e ela encheu-se de um profundo terror, olhos arregalados, pernas bambas, trêmulas,todos os pelos do corpo arrepiados, tremedeira geral e sem fim, parecia até com febre!
Sua consciência, ela sentiu um lapso, um vazio,  a visão turvou-se e a tontura ficou insuportável, ela se desequilibrou e desabou vertiginosamente para a frente até que...
Ela sentiu braços femininos a amparando, não a deixando ir ao chão.
Lune olhou, buscando precariamente reconhecer o rosto, mas não conseguia, com seus olhos semi cerrados inundados de lágrimas.
-Calma, calma, menina! Não está me reconhecendo? Eu fui sua professora neste colégio e vi o que você está lembrando agora. A professora Yamada ! Vem, vou te levar na minha casa, moro aqui pertinho !
Yamada, com muita dificuldade, levou Lune pelo braço até a casa dela, e lá chegando, a fez se sentar no sofá e deu-lhe um copo de água com açúcar.
Finalmente Lune se recompôs e reconheceu sua professora:
-Muito obrigada, Yamada-sensei !Por favor me desculpe estar te dando trabalho !
-Não tem problema, Lune-san, eu estou aposentada mesmo,tive um problema  crônico na garganta que deixou a minha voz permanentemente rouca, aí tive de me aposentar preconcemente...imagine, eu, com quarenta e cinco anos, aposentada !
-É uma injustiça do destino, sensei...

(Por Continuar)

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