Deitou-se nua na
cama, e desta vez, ferrou pesadamente no sono, bem rápido.
Depois de um
tempo, começou a sonhar que estava chovendo forte, e o barulho de água correndo
persistia em seus ouvidos.
Acordou e só ao
ficar em pé que percebeu que estava segurando fazia tempo uma enorme vontade de
urinar e que estava quase fazendo ali mesmo.
Correu para o
banheiro e aliviou-se.
A dor de cabeça
tinha enfim passado, eram seus pensamentos enquanto se limpava.
Saiu do banheiro e
começou a procurar novas roupas. Vestiu a mesma calcinha que já tinha usado
para ir tomar café da manhã, mas a sentiu molhada. A abaixou e viu que estava
forrada de corrimentos.
Não tinha jeito,
agora teria de tomar banho de novo !
Com nojo, jogou a
calcinha suja no cesto de roupas para lavar.
Mais um banho e
agora sim, depois de se enxugar, escolheu outra calcinha menos decotada, de algodão e mais
confortável, mas de cor marrom.
-Preciso fazer uma
visita ‘a ginecologista !
Pensou Lune
consigo mesma.
Vestiu o shorts
jeans e um sutiã tomara que caia, e colocou uma blusinha amarela.Calçou
sandálias amarelas para combinar com a blusa, se penteou, se perfumou e se
olhou no espelho.
Ao pé do espelho
tinha um estojo de maquiagem e diversos batons.
-Ah, não estou com
paciência para isto agora, deixa para lá !
Colocou o
desodorante nas axilas e saiu do quarto, ganhando as escadas.
Ao chegar no final
da escada, Momiji a viu e disse:
-Sorria !
-Para quê?
-Apenas sorria,
quero ver uma coisa...
Lune não gostava
de forçar sorrisos, mas obedeceu.
-Era o que eu
pensava. Vá escovar os dentes, filha !
-É mesmo, esqueci
, mãe !
-Não esquece a
cabeça por que está no pescoço, senão esquecia também !
-Ah, não enche,
mãe, vá !
E Lune subiu as
escadas correndo para escovar os dentes.
Dali a pouco ela
voltou e sua mãe voltou a implicar:
-Onde você vai?
-Não é da sua
conta !
-Como não é da
minha conta?Não sou sua mãe por acaso?
-É !Só que eu sou
adulta e não te devo satisfações !
-Ah, não? E quem é
que paga os custos de sua faculdade?Quem te sustentou a vida inteira, sua
ingrata?
-Gratidão não se
cobra, muito menos com juros e correção monetária !Não vou ficar te agradecendo
só para satisfazer o seu ego e a sua vaidade !E quer saber, se você me sustenta
e sustentou, não é mais do que ...
-Se você completar
esta frase vais levar um tapa, filha !
-Não vai dar tempo
!Fui !
E Lune bateu a
porta da sala que dava para a rua.
-Filha !
Kazuo apareceu.
-O que está
acontecendo, amor?
-O que está
acontecendo, Kazuo-kun, você é um ser
aéreo que nunca sabe o que está acontecendo, só isto ! Estou cheia !Cheia
!Nunca, você nunca está do meu lado para me ajudar nestas horas, nunca !
-E...
-Não fale nada,
Kazuo-kun! Nada ! Me deixa em paz ! Some da minha frente ! Suma !
Alheia ‘a
brigaiada, Lune caminhava pela rua, pensando consigo:
-Não estou a fim
de ficar com gente me torrando hoje ! Está um dia tão bonito !
E ela continuou
caminhando, como ela fazia antigamente. Ela notava que sentia falta de caminhar
sozinha pelas ruas pensando, filosofando, observando as pessoas,criticando a
sociedade.
Sem dúvidas que
ela amava estudar, mas aquele tempo para si ela não estava tendo em Sakura
City.
Ela tinha de
dividir seu quarto e seu tempo com Mercedes, com suas colegas, fora os rolos em
que ela estava eternamente implicada.
Ela também adorava
a companhia de Takeo, por decerto, mas naquele momento ela sentia que seu tempo
era só seu, só para si, e sentia-se livre, completamente livre.
Então ela passou
em frente a um carrinho de lanches de rua onde, anos atrás, ela e Rina adoravam
parar, comer alguma coisa e conversar, sempre que podiam.
As saudades de sua
amiga bateram forte, e ela podia imaginar, parecia estar vendo Rina sentada no
banquinho ali.
Coração apertado,
ela continuou seu caminho, aparentemente inconscientemente, quando deu de cara
com a escola onde estudara tantos anos.
Um enorme suspiro
foi inevitável !
-Tantas
lembranças...tantas lembranças...
Foi quando passou
pelo portão principal e, quando percebeu, estava no mesmo lugar, na mesma posição
em que o episódio do assassinato de Rina aconteceu.
As imagens, sons e
cheiros lhe voltaram ‘a mente imediatamente, fortes!
Ela podia escutar
o barulho do tiro, o cheio do sangue, o grito de Rina, seu próprio grito, e via o corpo de Rina caindo, ensanguentado,
e a cabeça de Yurika explodindo com o
novo tiro e murchando tenebrosamente, e ela sentiu um arrepio fantasmagórico ,
sua espinha gelou e ela encheu-se de um profundo terror, olhos arregalados,
pernas bambas, trêmulas,todos os pelos do corpo arrepiados, tremedeira geral e
sem fim, parecia até com febre!
Sua consciência,
ela sentiu um lapso, um vazio, a visão
turvou-se e a tontura ficou insuportável, ela se desequilibrou e desabou
vertiginosamente para a frente até que...
Ela
sentiu braços femininos a amparando, não a deixando ir ao chão.
Lune
olhou, buscando precariamente reconhecer o rosto, mas não conseguia, com seus
olhos semi cerrados inundados de lágrimas.
-Calma,
calma, menina! Não está me reconhecendo? Eu fui sua professora neste colégio e
vi o que você está lembrando agora. A professora Yamada ! Vem, vou te levar na
minha casa, moro aqui pertinho !
Yamada,
com muita dificuldade, levou Lune pelo braço até a casa dela, e lá chegando, a
fez se sentar no sofá e deu-lhe um copo de água com açúcar.
Finalmente
Lune se recompôs e reconheceu sua professora:
-Muito
obrigada, Yamada-sensei !Por favor me desculpe estar te dando trabalho !
-Não
tem problema, Lune-san, eu estou aposentada mesmo,tive um problema crônico na garganta que deixou a minha voz
permanentemente rouca, aí tive de me aposentar preconcemente...imagine, eu, com
quarenta e cinco anos, aposentada !
-É
uma injustiça do destino, sensei...
(Por Continuar)
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