Não
demorou, Sakuya apareceu vestida com uma calça de moleton folgada e uma
camiseta sem mangas, ainda descalça.
-Huum,
deixa ver o que você comprou...oooh, quanta coisa, puxa, tem comida aqui para
um mês inteiro, você deve ter gasto uma fortuna !
-Imagine, Sakuya-san, você merece !
-Nem
sei como te agradecer, minha amiga...
-Me
oferecendo um gostoso chazinho com biscoitos e depois me ajudando com a faina
de sua casa! Vamos deixar isto aqui brilhando, comprei bastante produtos de
limpeza !
-Opa,
com certeza, agradecida de coração, Lune-san, vamos nesta sim, vou fazer um
chazinho para nós, e aproveitar estes biscoitos de canela que você comprou !
Enquanto
Sakuya lavava a louça e fazia depois o chá, as duas foram conversando:
-E
aí, como foi lá na prisão?
-Ai,
amiga, sofri tanto, tanto, você nem imagina, viu? Eu estava acostumada a ficar
tomando esteroides e anabolizantes e comidas
de mega massa, e fiquei viciada naquelas coisas, e me deu síndrome de
abstinência, foi horrível, você nem imagina as dores, fui parar no hospital,
quase morri, olha, terrível, viu?
-Uns
tempos atrás eu tive o pressentimento de que você corria perigo e me chamava,
fiz o Takeo-kun me trazer aqui de carro em plena madrugada, mas não me deixaram
entrar...
-Sim,
eu fiquei sabendo, a fofoca chegou até mim, e eu tinha certeza de que só
poderia ter sido você. E de fato, na quela noite mesmo que tive a maior crise
de minha vida e pouco depois que você foi embora, fui internada num hospital, e
realmente eu gritava seu nome, e dizia:Como
eu queria que você estivesse aqui para me ajudar e e me apoiar, Lune-san !
Disse
Sakuya , de olhos rasos.
-Eu...eu
bem queria ter estado mesmo, minha amiga...obrigada...
Disse
Lune, de voz embargada e de olhos marejados.
-Sabe,
Lune-san, eu me recuperei e não me entreguei, pensando em você , na nossa
amizade, sabe, você foi e é, a minha única amiga de verdade, que sempre me
ajudou, e que sempre fez tudo por mim,eu pensava comigo enquanto sofria as brasas do inferno: Eu tenho de resistir,
eu não posso morrer agora, se eu morrer, Lune-san vai sofrer e chorar, e ela
não merece isto, a minha amiga, minha única e preciosa amiga, tão preciosa,
que adoro tanto, tanto...tenho de viver, por Lune-san, pela nossa amizade, que
tem de continuar, pois é tão bonita, tão bonita...eu vou aguentar, por Lune-san,
por ela eu aguento tudo !
Lune
se levantou da cadeira, de cabeça e olhos baixos, e abraçou a amiga, que a
abraçou de volta.
Novamente
Sakuya se abaixou, para ambas chorarem uma no ombro da outra.
-Você
nunca me abandonou, sempre me defendeu...isto não tem preço, Lune-san, você não
tem idéia do quanto isto significa para mim, do quanto você significa na minha
vida, você é meu exemplo, minha inspiração, que me dá forças para continuar
vivendo !
-Faço
minhas tuas palavras, Sakuya-san...sua amizade e suas superações também me
inspiram e impulsionam a viver !
-Sabe,
Lune-san, minha estadia lá também foi até boa para mim, refletir sobre os rumos
da minha vida, me ensinou a valorizar minha vida e minha liberdade, só se dá
valor quando se perde...eu aprendi muito lá, lições preciosas, que não
esquecerei.Eu estava muito revoltada com a vida, e no começo, minhas
companheiras de cela me temiam, por eu ser tão grande e forte, mas um dia
dezenas delas se uniram e se amontoaram em cima de mim e levei uma das piores
surras da minha vida, aí vi que não se consegue tudo com a violência, e que um
dia a violência se volta contra nós! Aquilo é um mundo- cão, minha amiga, e
cheio de sujeiras, trapaças e perversidades, corrupção...é um mundo político também, onde o dinheiro e a
diplomacia ajudam muito mais do que a
simples força bruta.Por tudo isto, eu mudei. Não quero mais saber de
halterofilismo, treinamentos, e as loucuras que eu estava fazendo, que quase
arrebentaram meu fígado, meu pâncreas, meus rins... hoje sou diabética, e não
estou longe da insuficiência renal, um rim inclusive já foi.E se não fosse um
transplante que consegui graças a meu dinheiro, já teria falecido.Então, não
mais dietas hipercalóricas e exercícios intensos que quase estraçalharam com as
juntas dos meus ossos e com os
ligamentos de meus músculos.Chega !Agora vou me feminimizar novamente e tentar
recuperar o corpinho bonito que eu tive, ou pelo menos ficar próxima.Aprendi a
não mais comer como um boi, depois de viver da ração prisional.Agora minha vida
é nova, nasci de novo, foi um parto difícil, mas aprendi a lição e não viverei
mais nem pela nem para a violência.Se precisar me defender, me defenderei, e
só, não vou mais atacar as pessoas, intimidá-las, agredi-las. A vida é curta e
preciosa demais para ser desperdiçada deste jeito !
-Puxa,
Sakuya-san, fico tão emocionada de ouvir tudo isto, tanto, tanto...
(Por Continuar)
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