quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Episódio 89- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP




-Lune-san, minha netinha, sejas bem vinda !Desculpe tê-la feito esperar !Que bela surpresa !Venha, entre por favor...
-Muito obrigada, vovó. O cachorrinho é seu?
-Sim, é o Goku-san, ele é minha companhia inseparável aqui.E fica muito triste quando viajo !
E entraram na casa.
-Não repare na simplicidade da minha casa, minha netinha!Venha, coloque sua mochila no meu quarto, por enquanto, minha casa só tem um quarto, então você terá de dormir na sala.
-Eu não ligo, obaba !
-Fico feliz que penses assim. Sente-se um pouquinho  no sofá, farei um chá para nós duas.
-Obrigada, vovó. Só não quero dar trabalho...
-Não sejas hipócrita!Já deu vindo aqui sem me avisar !
O tom foi duro e o olhar para ela, mais ainda. Lune engoliu em seco.
Asuka foi na pequena cozinha da casa e fez o chá em silêncio.Quando voltou e trouxe a bebida, disse:
-Agora me conte por que veio me visitar de surpresa, sem me avisar, logo depois de tudo o que aconteceu na casa de seus pais. Quero sinceridade, os verdadeiros motivos!
-É justamente por causa do que aconteceu lá, obaba. Eu fiquei preocupada com a senhora, por que a senhora sempre foi tão compreensiva e tão sensível, e estava tão fria, tão ríspida, tão nervosa, de mau humor,  implicando e brigando com todo mundo...a senhora nunca tentou me bater na minha vida, mas desta vez quis...eu queria saber o que estava acontecendo com a senhora , que a estava deixando tão amarga...
-Por acaso a Vida é doce?A Vida é fácil? Para você, que é  jovem, que ainda depende de seus pais para viver, que ganha mesada, que tem tudo na mão, todos os recursos, um noivo rico e poderoso, deve ser mesmo !Mas minha vida não é assim, nunca foi assim, menina mimada! Minha Vida foi e é um inferno, criei sua mãe com tantas dificuldades, vivi e perdi uma guerra, sobrevivi ‘a bomba a tômica...sabe o que é isto, Lune Tamasuki?Não, você não sabe o que é isto, não sabe o que é sofrer, o que é passar fome, o que é perder filhos para a fome, o que é viver os horrores da guerra e da miséria, não, você não sabe !Você não sabe o que é perder um marido, ser traída pelo segundo, ser explorada pelo terceiro, sofrer chantagens e humilhações...não sabe o que é perder tudo e viver de favor na casa dos outros, que não são sua família e te tratam como uma escrava, inclusive sexual! Não sabe o que é engravidar de um estupro e ser obrigada a abortar, perder mais um filho...você nunca se perguntou por que você não tem tios por parte de mãe?Pois eu te falo: por que morreram todos antes de você nascer. Sua mãe foi a única que sobrou !O que você sabe da minha vida , para me julgar?O quanto você sabe sobre o quanto sou, e sobre o quanto eu sofri, junto com sua mãe, quando você nasceu prematura, com suas convulsões diárias que você tinha até os quatro anos de idade e que passaram de repente?E as febres que você tinha, quantas doenças você não teve?E a peregrinações nos hospitais para te salvar?O quanto eu e sua mãe sofremos por você não falar até os cinco anos, e por ter levado quatro anos para começar a andar?Ora, veja se toma vergonha nesta sua carinha, Lune Tamasuki !
Asuka pegou as mãos da neta, e as colocou abertas com as plamas para cima, e continou:
-Olhe para suas mãos !Olhe ! São lisas, impecáveis, não tem um só calo!Olhe as minhas!Está vendo como são calejadas?Foi de tanto trabalhar !Olhe minhas rugas ! São de tanto me preocupar com sua mãe e você ! Como quer que depois de tudo isto eu seja doce e agradável?Que direito tem você de exigir isto de mim?
Lune ficou de cabeça baixa e olhar baixo, corada de vergonha. Seus olhos ficaram marejados de lágrimas.
Ela tremia tanto, que derramou boa parte do chá na mesinha de centro.
-E não quebre a xícara ! É cara e de estimação !
Lune colocou a xícara de volta no pires, e ficou em posição de pedido de desculpas:
-Por favor, minha avó, me perdoe...eu...eu realmente não deveria ter vindo aqui...
-Não, Lune-san, você deveria sim! Eu estava com tudo isto atravessado na garganta para te falar,  e precisava desabafar. Mas você nunca veio aqui sozinha antes, ainda mais espontaneamente, por iniciativa própria, e com sua vinda aqui, você me provou que se preocupa comigo, pensa em mim, me ama, apesar de tudo, e, oras, eu a conheço desde que você nasceu,e sei muito bem quando você está sendo sincera e quando está sofrendo.Não adianta se culpar, assim como não adianta eu te mostrar tudo o que você e nós passamos por você no decorrer de sua vida,nem ficar remoendo as mágoas do passado. Mas era preciso, para você amadurecer e crescer, conhecer outro lado meu, mais real, mais verdadeiro, não a máscara que voc~e conheceu a vida toda. Claro que é um choque para você, eu entendo, imagino que seja um choque muito forte, muito duro, traumático mesmo, Lune-san, mas a gente só amadurece quando supera.É preciso errar para superar, é preciso errar para crescer, e ao contrário do que diz a neurótica filosofia de vida tradicional japonesa, errar não é uma vergonha, nem uma derrota. É a oportunidade de aprender. De crescer. E para aprender tudo isto, precisamos saber quem somos, e para aprender quem somos, precisamos aprender que fomos e quem foram as pessoas de nosso passado e que garantiram nosso presente e nosso futuro com tanto sacrifício. Sem saber de nada disto, não há como sermos gratas de coração. A maior gratidão que se pode expressar não é ser bem sucedida na vida, ser rica, ter família, filhos, assumir sozinha as responsabilidades. A maior gratidão também não é reconhecermos o que nossos pais e avós fizeram por nós.A maior gratidão é mostrarmos a nós mesmas e a todos, que aprendemos com eles e conosoco , é superarmos e amadurecermos, crescendo como gente na nossa própria frente e na de nossos pais e avós.É na estatura moral e na estatura de nossas vitórias pessoais, na estatura de nosso méritos, que reside nossa maior gratidão. E a maior gratidão não é a prestada aos pais e avós, mas ‘a Vida! Por que nossos pais e avós fazem parte da Vida, nossa Vida,e nos mostrarmos preparadas para a Vida é a nossa maior superação, nosso maior orgulho, nossa maior demonstração de gratidão e amor ‘a Vida, e que faz nossa Vida valer a pena!
-Que...lindo...muito...muito obrigada, vovó !
Disse Lune , de voz embargada, e com as maçãs do rosto inundadas de lágrimas.
Asuka, de pé em frente a ela, abriu seus braços.
Lune se levantou e a abraçou, e chorou no ombro dela, que também jazia emocionada, e acariciava os cabelos da neta com carinho.
-Me desculpe, minha netinha,mas eu precisava tanto...muito obrigada por ter vindo, eu fiqueimuito feliz com sua visita !Por favor, fique !
Lune olhou nos olhos de sua avó. O olhar da senhora agora voltara a ser doce e terno como antigamente.
-Eu te amo, obaba...
-Eu te amo também, Lune-san...e tenho muito orgulho de você !

(Por Continuar)

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