quinta-feira, 30 de abril de 2015

Depois daquela fria manhã de Outono-Episódio 70



No quarto de Kaede, ela chorava e era amparada por Kemeko,que lhe dava carinhos e beijinhos, procurando acalmá-la.
Apesar dos seus menos de quarenta anos, Kaede havia envelhecido visivelmente nos últimos tempos.Após um período de emagrecimento,passou a engordar muito.  As celulites e estrias se proliferaram em seu corpo, seus seios murcharam e caíram, o ventre cresceu,cheio de gorduras abdominais e ela se recusava a fazer higiene íntima, e não raro cheiro era tão forte que mesmo com ela vestida todos percebiam com asco.
Ela não se deixava pentear e perdera toda a vaidade, apesar de todos os esforços de Kemeko.No rosto as rugas proliferaram e envelheceram o semblante. Até os lábios afinaram e enrugaram.
Ela era amarga, ficava nervosa a toa, era crítica e ácida, mas não aceitava crítica alguma. Ela mandou jogar fora todo o guarda roupas e mandou comprar uma dúzia de vestidões pretos, de mangas compridas e sem decotes, que iam até quase os calcanhares. Dizia que estava de luto por sua própria morte e se considerava uma morta viva.
O penteado mandou fazer no estilo coque de senhora de idade, não usava mais maquiagem alguma,e ficava a maior parte do tempo recolhida no seu quarto, a não ser quanto todos saíam ou viajavam.
Passava o tempo olhando a paisagem na janela, ou na televisão. E ficava todos os dias um pouquinho no computador, administrando a fortuna da família.
Não raro ela falava para Kemeko:
-Ah, Kemeko-san, eu tenho tantas saudades do Shinji-kun ! Hoje em dia eu me arrependo tanto de tê-lo traído com aquele canalha do Tetsuo !Eu me arrependo de todos os maus tratos que fiz a ele, de tudo o que não aproveitei com ele...hoje sei que ele estava certo, era um homem muito sábio, honesto, decente, nunca me traiu e...sim, Kemeko-san, eu o matei ! Eu sei que o matei, é culpa minha, minha traição, que contei a ele e ele não aguentou...ele não aguentou por que ele me amava, me amava como nenhuma outra pessoa na minha vida, viu?Ele era um homem bom, no final das contas, hoje eu o compreendo...queria tanto ir para junto dele e deixar esta maldita vida de uma vez !
Mágoa, arrependimento, dor...ela não se conformava em ter ficado paraplégica e para ela a vida parecia ter acabado e não haver mais motivos para viver. Não fosse Kemeko, ela já teria se suicidado!
Sua cuidadora sempre a levava ao hospital para fazer exames e ter consultas com médicos, pois muitos problemas que ela não tinha antes apareceram: colesterol alto, diabetes, pressão alta. E com sua compulsão por comida, ela estava bem acima do peso.
Nem de longe lembrava a jovem e saudável Kaede, agitada e sempre presente,dinâmica.
Porém, as coisas estavam para mudar, e nem ela sabia o quanto!
E não só para ela, para Maki a vida mudaria, e muito, também, e não demoraria.
No dia seguinte, Myumi foi com Maki, Kuome, Midori e Hideo para a escola.Quando chegaram , viram um carro de polícia na porta:era Akane entregando Tenka !
-Oieeeee !Akane-san !
-Maki-chan ! Quanto tempo ! Que saudades !Olha, está toda bronzeada !
-Nós viajamos para Okinawa, Akane-san !Foi lindo ! Amei !
E as duas se abraçaram.
Myumi ficou meio receosa. Não gostava de polícia, e para ela, Maki ter uma amiga policial era má notícia !
-Gozado, esta menina ao seu lado parece muito com você, apesar da cor e do corte de cabelos, quem é ela,Maki-chan?
-Ah, é mesmo, esqueci de apresentar, esta é mais uma irmã minha, Myumi-chan ! Ela é de Okinawa e agora se mudou para cá e está morando com a gente!
Akane e Tenka a cumprimentaram no típico cumprimento japonês, inclinando seus torsos,e Myumi respondeu da mesma maneira e mal conseguia esconder seu nervosismo.
Mas Akane era policial experiente, e ela percebeu este nervosismo e desconfiou.Mas disfarçou na hora:
-Como é linda ! Prazer em conhecê-la !
Com o sorriso mais falso e forçado do mundo, Myumi respondeu:
-O prazer também é meu ,Akane-sempai !Prazer também, Tenka-san !

-Bom, eu preciso ir agora fazer minha ronda! Até mais ,gente !
-Aparece em casa para uma visita, Akane-chan !
-Apareço sim, Maki-san, prometo !

(Por continuar)

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