Nami levou Maki para casa,deu-lhe novo banho e
colocou novas roupas nela, sem esquecer de fazer curativos nos ferimentos
deixados pelas cordas em seus pulsos e tornozelos.Colocou-a na cama ,procurou
consolá-la e deu-lhe um sonífero para que conseguisse dormir.
Mas o sono de Maki não foi
tranquilo. Mesmo com o remédio, demorou a pegar no sono e Nami precisou ter muita
paciência:depois de dez estórias contadas na cabeceira da cama, Maki finalmente
adormeceu.
Porém os pesadelos e os
gritos dela levaram Nami a deitar-se na cama com ela e abraçá-la.
No dia seguinte, Maki não
queria mais ir para a escola, mesmo sabendo que toda a corja de Arisa tinha
sido presa, e quem não foi preso foi expulso.
Nami suspirou fundo- era um
fardo aquela garota de quase treze anos que me muitas situações se comportava e
dava o trabalho de crianças de metade da
idade dela.Ela amava a irmã, mas estava difícil aguentar tanto trabalho- que
atrapalhava seu próprio trabalho,e ela se sentia culpada.
Culpada não apenas de pensar
muitas vezes em Maki como um estorvo,mas também de tê-la criado mimada demais,
numa redoma de vidro, mas que vivia falhando em isolar Maki de traumas e
sofrimentos, como agora.
Nami tinha obsessão por
evitar que a irmã sofresse, e estava firmemente
obstinada em manter a pureza infantil de Maki, apesar de todos os
problemas que isto causava.E a razão para isto era muito humana e típica da
maternidade:ela era simplesmente incapaz de ver Maki como uma pré-adolescente,
já quase na adolescência, capaz de tomar decisões e ter opiniões próprias. Ela,
na verdade via Maki como uma eterna criança que não crescia, destinada a ser
criança pelo resto de sua vida, mesmo que a idade lhe pesasse aos ombros.Ela
não conseguia aceitar uma realidade de uma Maki adulta, madura,segura de si
mesma, independente, ela queria ,de modo bem egoísta,sua irmãzinha só para si,
totalmente dependente dela e infantil para o resto de sua vida ,protegida de
tudo e de todos.E se pudesse, se não fosse a lei vigente, ela nem deixaria Maki
ir para a escola, para que sua irmã não
fosse "contaminada" pelas idéias,luxúrias e comportamentos de outras
adolescentes,nem fosse vítima de rapazes mal intencionados.Quando Maki
conquistou a amizade de Hitomi, Nami na verdade fingiu ter
ficado feliz,na verdade estava preocupadíssima com as "influências"
que a amiga pudesse trazer,pois ela queria Maki sem sociabilidade alguma,relacionando-se
só com Nami,pois esta era obstinada, teimosa e perfeccionista, e fazia parte da
sua vaidade pessoal ter a irmã como seu bibelô pessoal, reservada só para si,
isolada do mundo e das pessoas.Mas na frente da agora morta Hitomi, Nami
procurou ser o mais agradável e simpática possível, pois era extremamente
educada, discreta e polida, e não podia nem pensar em destratar uma convidada,
por mais que isto lhe doesse.Tinha também um ciúmes doentio por Maki.
Nami, no entanto, na maior
parte do tempo pensava em Maki como se fosse sua filha, muitas vezes se
comportando como uma mãe.
Tudo isto deixou Maki
extremamente infantilizada e mentalmente frágil,com uma ingenuidade e um
desconhecimento dos fatos da vida e do sexo absolutamente anormais para sua
idade, o que a fazia extremamente crédula e sem malícia, sem falar na extrema
timidez e baixa auto estima.
Mas o extremo amor de Nami
por ela era plenamente correspondido,e Maki confiava absolutamente na irmã e a
palavra dela era lei,como quem entrega sua vida à uma Deusa idolatrada -para
Maki ,Nami era sagrada, e o inverso era verdadeiro.Sem mencionar que Maki era
absolutamente incapaz de se rebelar contra a irmã, que ,disfarçado de amor, lhe
impunha um domínio tirânico, ditatorial.
O que era extremamente
prejudicial para Maki, pois a tornou extremamente dependente de Nami, seja
financeiramente, emocionalmente, em todos os sentidos enfim.
Era com dor no coração que
Nami ia trabalhar, e deixava Maki sózinha, preocupada se a irmã iria resistir a
um trauma tão violento como a menina sofreu.
Ela nunca supôs que a
menina podia ser alvo de bullying e
chacotas, embora temesse que isto pudesse ocorrer um dia, mas suas tentativas
desesperadas de enganar-se à si mesma, achando que Maki era tão graciosa e simpática
que ninguém teria coragem de mexer com seu anjinho , e novamente se sentia
culpada,culpando a obrigação de as
crianças irem à escola pelos males da irmã.
-Maki-nee-chan, eu vou
trabalhar agora. Olha, amanhã eu vou viajar novamente para Okinawa ver o
Tetsuo-kun,tudo bem? Será que não vai ter problemas para você ficar sózinha em
casa uns dois dias?Eu volto correndo, onee-chan!
-Pode ir, onee-chan, eu vou
ficar bem, aqui sózinha. Você sempre deixa muita comida em casa e eu já sei
cozinhar, então, não tem problema. O Popotan vai me fazer companhia, não é,
Popotan?
Disse Maki, abraçando seu
ursinho tão precioso.
-Tudo bem, então,
onee-chan.Deixo você aos cuidados do Popotan-chan. Esteja sempre com o celular
no bolso e qualquer coisa me ligue ou aperte o botão de emergência, entendeu,
Maki-chan?
-Combinado, onee-chan!Boa
sorte e bom trabalho!
-Obrigada, meu amor !Tchau!
Maki , na verdade escondia
seus sentimentos.Não tinha idéia de o quanto Nami pudesse ficar brava ou
preocupada se soubesse que não parava de pensar na morte de Hitomi, e o quão
traumatizada estava- seu maior temor era que Nami deixasse de gostar dela e a
abandonasse para sempre.
Da garagem se ouviu o
barulho do motor do carro de Nami, que foi para o trabalho.
Maki tentava se concentrar
no video game, sem sucesso, e, abraçada com o ursinho, que era a única
lembrança de Hitomi, não parava de pensar na morte da amiga, e as imagens
horríveis do sacrifício e tortura dela, nas poucas olhadelas que
deu,horrorizada, lhe vinham na mente à toda hora.
Mas o pior eram mesmo os
gritos lancinantes de dor da amiga, que ressoavam sem parar em sua mente
torturada.Maki não quis comer, nem beber.Ficou o dia todo chorando.Não se
conformava de Nami tê-la proibido terminantemente de ir ao enterro da amiga,
mas como não tinha coragem de confrontar a irmã, calou-se sofrendo em silêncio.
Demorou mas finalmente
ferrou no sono, porém, teve um pesadelo terrível: o de que Nami saía pela porta
da sala para nunca mais voltar, sem se despedir dela, e deixando um recado de
que não gostava mais dela e a estava abandonando.No sonho, Maki corria atrás do
carro da irmã, pedindo para que não a deixasse, e repentinamente Nami não
estava mais no carro, estava caminhando a pé, à uma distância muito grande
dela, de mãos dadas com um homem misterioso,sem ouvir seus clamores, e quanto
mais Maki corria, mais os dois se distanciavam.Ela acordou sobressaltada,mas
para sua sorte logo escutou o barulho do carro de Nami entrando na garagem.
(por continuar)
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