Por
uma velha amiga muito querida
Um a brisa fria e macia
irrompia pelo ambiente escurecido pelo tempo nublado e cinzento como a paisagem
repleta de frio e insensível concreto.
Nem tão fria assim:
Ele estava ali
parado,sozinho, a frente da lápide de uma velha e muito querida amiga que havia
pouco subira às estrelas para não mais voltar.
Ou ao menos ele achava que
não voltaria.No alto da lápide estava esculpida a imagem feminina de um anjo.Ele
olhava para o anjo, mas não conseguia chorar,eis que começava um leve chuviscar
e o tempo chorava por ele,refletindo seu pranto mais íntimo.
Sua mente viajava,naquele
entardecer tão obscuro, por trinta e
cinco anos de lembranças ternas,de um convívio tão raro com alguém de uma
sensibilidade tão delicada e bela,a resplancescer o brilho daquela alma, não,
daquele ser humano ,tão precioso em sua beleza de coração que ele não se
conformava de ela ter-se ido assim tao cedo.
Eis que a beleza daquelas
lembranças tao desesperadamente guardadas,posto que fugazes ,pela inconfiável e inexata memória,fazia doer o
coração,que jazia pesado e pequeno para tamanha piedade.
Piedade como profunda
compreensão da pessoa humana,da beleza de entender quem ela realmente é,da
dimensão da perda que a ausência toma
quando o coração à pessoa querida
não falta.Coração como querer bem as pessoas e entender o quanto lhe são
importantes e lhe significam.Tudo isto ele tinha certeza que eram intrínsecas a
ela, faziam parte de sua essência de ser.
Ele pensava em toda a vida
dela que ele sabia, o que ela viveu, sofreu e se alegrou,o que lhe fazia sentido
e o que lhe aprazia o coração,enlevava o carinho de gostar do fundo do coração
de fazer as pessoas amigas se sentirem queridas e amparadas e o que lhe doía
agora era não poder ampará-la quando ela precisou, nem ter podido estar ao lado
dela quando ela já estava por ir.A impotência diante da cessão da vida, eis que
pois é tão grandiosa que está acima da capacidade dos corações humanos de
sentir a dor.Eis que o peito dele doía e parecia explodir em soluços convulsos
e indecisos e as palavras, para seu exaspero, não lhe vinham sequer à mente.
Num fio de esperança ele
olhou uma última vez para o anjo e um pedido profundo cujas palavras não se
podiam expressar, e nem precisavam aflorou em sua mente tanto assim torturada.
Foi quando notou que débeis
raios de luz solar iluminaram um pouco a lápide,e as gotas de chuva brilhavam
ao por do sol escorrendo dos olhos do anjo qual lágrimas,e foi então que olhou
atrás de si, e viu um arco-íris se formar.Quando voltou os olhos a frente,o
reflexo da luz foi forte e cegante, e por um momento parecia que o anjo de
concreto adquiria vida.
Neste preciso momento
sentiu-se abraçado por trás,e asas alvas o envolveram.
No inicio, sentiu medo, mas
o calor daquele abraço, e o bem querer que daquelas asas emanava refletia o bem que do coração
que batia mansamente às suas costas irradiava, fazendo-o relaxar e se sentir
querido e seguro como se estivesse nos braços da própria mãe.
Virou-se para a frente e a
abraçou, e ela lhe acariciava os cabelos como faria com um filho.
Foi quando toda a sua dor e suas saudades transbordaram e o pranto lhe
veio copioso,prato que ele não conseguia externar.
Uma enorme sensação de
alívio lhe percorreu o coração, agora leve como as plumas que o envolviam.
Palavras não são
necessárias quando existe a mútua delicadeza ,sensibilidade de alma.
Ele então sentiu que ela
partira porque precisara,mas não iria lhe faltar,e ele o sabia bem porque a viu
diminuir de tamanho e voar para dentro do seu coração, parecia que podia vê-la
se aninhar lá dentro e repousar tranquila e feliz.
Já era noite alta quando
acordou.Levantou-se de cima do túmulo e viu o céu estrelado, e como as
estrelas, seus olhos brilharam também.
Agora ele já não sabia se
dormira e sonhara, se tinha desmaiado e voltado a si,ou se passara por transe hipnótico, enfim, nada disso mais
importava.Apenas lhe importava que aquele anjo parecia suspeito e parecia com
alguém que conhecia muito bem.Despediu-se da amiga que ali jazia como se fosse
só mais uma visita.Ao sair, podia jurar que aquele anjo piscara um olho para
ele,para dizer que estava tudo bem que podia ir embora sem remorsos,mas agora
ele não distinguia, e nem queria saber de distinguir naquele momento,realidade
da fantasia. Isto não importava-o que sentira fora real para ele, e é para ele e só para ele que isto
importava.Sorriu e devolveu-lhe a piscadinha, e o guarda do cemitério não
entendeu mais nada.
Nem precisava. Apenas viu o
homem sumir no horizonte de concreto de aço, com o coração leve e quente e um
sorriso no rosto- era bem querido afinal
!
FIM
Cristiano Camargo
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