segunda-feira, 28 de julho de 2014

Poesia: Pássaro na Gaiola



O pássaro na gaiola,
 Cantasua triste canção,
Com os olhos vidrados,
De sonhos e esperanças,
Em meio ao caos,
Em meio à Escuridão,
Sem perceber que seu mundo já ruiu,
E a Morte,
Em forma de Realidade,
Já consumiu seu coração!

Abafado pelas impostas limitações,
Aspirando por uma Liberdade,
Que todos julgam impossível,
A solidão da voz no peito encerrada,
Lhe assalta o coração,
A tudo assiste aparentemente impassível...

A vontade suprema que o arrebata,
Parece que o peito lhe quer arrebentar!
Sob a opressão de ter tido sempre um dono,
E de ficar sempre passando de mão em mão,
De tutela em tutela,
Sem voz nem opinião,
A lágrima que não sai,
Mas que queria tanto sair,
Pássaros não choram!

A Vida sempre lhe foi ditadora,
Impondo-lhe dificuldades pelas quais não erapara ter passado,
E que teimosamente superou,
Mas eis que quanto mais supera e ultrapassa,
Mais dificuldades a Vida lhe passa,
Pois a tarefa da Vida é negar,
Negar veementemente tudo de bom!

O pássaro se debate na gaiola,
Ao ver ali próximo,
O pobre filhote que caiu do ninho,
Sozinho,
Acabando por morrer,
Ele sabe,
Sim, ele sabe,
Que a morte adveio,
Não porque um dia os pais um dia deixaram de oalimentar,
Mas porque não o ensinaram a voar,
E seu próprio alimento procurar,
Aquele filhote na verdade,
Reflexo de quem está enjaulado,
Apesar da liberdade,
Também vivia como ele,
Na gaiola,
Viveu e morreu no jugo,
E foi a tutela que o matou,

Quem da tutela vive,
Da tutela morre,
Posto que veneno lento,
Que consome alma e coração por dentro,
Mata os sonhos,
Passa tristemente pela vida,
De que adiantam tesouros da Vida,
Se a ironia da tutela não o deixa aproveitar?

A luta do filhote que caiu do ninho foi em vão,
Suas aspirações foram encerradas
Com ele,
Pela limitação a ele imposta,
De não confiarem que ele poderia ter aprendidoa voar,
Triste a sina de quem morre cruelmente no chão,
Varrido,esquecido e consumido pela vida!

-E se você cair?
-E se você se machucar?
-Eu não posso te ensinar a voar,
Você precisa cair do ninho,
E me deixar te cuidar !
Era o que ele ouvia,
Quando ele pedia aos pais,
Ao vê-los voar,
Também aquele filhote um dia sonhou,
Ter liberdade,
Ganhar o ar,
Decidir seus caminhos,
As limitações quebrar,

Os pais tentavam entretanto,
Lhe mostrar,
Que aquelas limitações que lhe colocavam,
Posto que grades de gaiola,
Seriam para sua própria proteção,
Dando-lhe supostas benesses,
Que todos os cegos achavam irresistíveis,

Mas proteção demais sufoca,
E mata!
Após morto,
Com outros donos,
Aquele que um dia foi filhote,
Continua confinado,
Em sua prisão!
Tudo do pouco que aconteceu em sua vida,
Apareceu tarde demais,
Pela sua liberdade tão desejada ele tantolutou,
E no final seus pais até o ajudaram,
E muito,
Mas era uma falsa liberdade,
Liberdade confinada,
Limitada e com dono,
Autonomia estava fora de questão!

Quantas vezes teria ele de morrer,
No chão da vida,
Varrido e esquecido,
Enquanto todos os outros pássaros,
Sem sequer saber que ele um dia existira,
Viviam em liberdade e autonomia,
Ilimitados e sem opressão?

De que lhe adiantara tanta obstinação,
Tantos limites superados,
Se morreu na praia,
E foi levado pelo Oceano da incompreensão?
Sem conseguir ao menos,
Se fazer entender que não,
Não era ingratidão?
Quantas vezes vivia,
Tantas vezes morria,
Lá estava ele de volta para sua prisão!

A sua vida de servidão,
De um mestre a outro passando,
Quando o primeiro falecia,
O outro se apossava de seu quinhão!
Não havia o que ver,
Escuridão,
Desesperança de Não Ser,
Todo um mundo infinito,
Gritando por Liberdade na prisão!

Assim o passo canta,
Seu triste canto mudo,
Encerrado dentro,
Mas arrebatando-lhe o peito,
Só o que não conseguem matar,
Nem encarceirar,
É seu sonho de autônoma liberdade,
Que mesmo dentro do peito de dor estufado,
Não cala jamais,
Nem deixa de a sua Libertar,
Aquela que não se rende,
Aquela vontade que não desiste nunca,
Aquela força inesgotável  e solitária que diz,
Voz embargada no peito sem chorar:
-Recuso limitações !

FIM

Cristiano Camargo

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