domingo, 27 de julho de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 4



Episódio 4

Lune parou de desviar o olhar dele, e olhou para ele com olhar inflamado:
-Ah, não apela, pai, isto é chantagem, sabia?Está querendo me corromper?
-Bom, se você não quer a torta, nem ir na livraria para eu comprar as últimas novidades da Filosofia para você, você quem sabe, filha, eu ia te deixar levar quantos livros você quisesse...
- Aaaah, está bem, está bem, vai gostar de chantagem assim lá longe !Tudo bem, eu vou com o senhor!
-Opa, então termine logo e se troque, que nós vamos já já !
Pouco depois eles estavam na garagem, e Kazuo abriu a porta de seu luxuoso Mitsubishi Diamante para filha entrar.
Lune se acomodou no banco do acompanhante da frente e colocou o cinto de segurança.
Eles logo ganharam a rua.
-Não sei porque o senhor está fazendo isto!Porque tanto esforço para passar o dia comigo?Você não tem a mamãe? E o senhor não era para estar trabalhando?
-Vamos lá, vou te responder pergunta por pergunta: 1e 2) por que te amo e faz anos que não saímos juntos, só nos dois, para conversar e nos divertir; 3)Sua mãe e eu somos marido e mulher e você é minha filha, portanto são relacionamentos diferentes e o que faço com ela não faço com você e nem poderia;4) como sabe eu sou dono de uma editora de mangás e resolvi tirar do dia de folga hoje só para passar o dia com você.
-1 e 2)Me amar é irrelevante para mim;3) Não poderia mesmo e também nem estou interessada;4)Sua editora é de mangás eróticos e sem vergonha, totalmente imorais , e eu estaria muito mais feliz estudando sozinha.
-Ah, muito bem,se é irrelevante, então sou irrelevante para você e vou cortar a sua mesada então, que tal?E escuta bem, ô, mocinha, é esta editora sem vergonha que paga sua mesada, a comida que você come, as roupas que você veste e te dá um teto para você morar e que evita que você vire uma mendiga ou se prostitua !
-Ah, mas tende paciência, heim, pai?Não precisa jogar na minha cara o que estou cansada de saber,pombas !Como o senhor é chato, seu chantagista emocional, manipulador !
-Ah, tudo bem, já estou acostumado com suas agressões verbais, sua sinceridade insensível e sua...sua ingratidão!Está vendo, você fez seu pai chorar...
Disse Kazuo fingindo que chorava.
-Ah, mas que drama insuportável...está bem, está bem, eu reconheço o seu trabalho e agradeço seu esforço e seu amor por mim...
-Chegamos, vamos descer do carro.
Eles começaram a passear pelos jardins floridos tendo como fundo o enorme e belíssimo Castelo de Osaka.
Kazuo abraçou a filha, que se desvencilhou rápidamente.
-Pára com isto ,pai !Que mania !
-Uh, oh, tristes tempos estes em que um pai não pode abraçar a própria filha...
-Não faça dramas, pai, o senhor é muito dramático e espalhafatoso para o meu gosto,que mania de ficar me tocando...
Foi quando um rapaz passou por eles  com um cão de grande porte na coleira e correia. Por alguma razão, o cão antipatizou com Lune e parou, rosnando alto para ela e arreganhando os dentes.
Lune instintivamente deu um passo para trás e o cão avançou nela.
Imediatamente ela correu para o pai e o abraçou, sem nem pensar.
O cão, contido pelo dono esticou a correia e não conseguiu alcançá-la.
O dono pediu desculpas e foi embora.
Quando Lune se deu conta, Kazuo estava rindo.
Ela ficou brava:
-Está rindo de quê, pai?Eu podia ter morrido, sabia?
-Onde estão toda a sua segurança de si, sua auto confiança e arrogância agora? Falar de Kant para o cachorro não iria salvá-la agora, sabia?Ele não iria se sentar para debater com você...
Os olhos de Lune se encheram de lágrimas...não haviam argumentos possíveis, ela tinha errado, se traído e ela não se perdoava, e agora estava extremamente magoada, sobretudo consigo mesma!
Kazuo soltou-a do abraço, tirou um lenço do bolso e enxugou as lágrimas da filha, depois tocou com o dedo indicador no queixo da menina, puxando o rosto para forçá-la a olhar nos olhos dele.
E o que ela viu foram olhos meigos e carinhosos,num olhar doce e amoroso para ela, em lágrimas também.
Lune abraçou o pai com força e disse:
-Desculpe, paizinho...eu fui má com o senhor...desculpe...eu..
-Não precisa falar mais nada, filha, você me ama, eu fico tão feliz de presenciar seus sentimentos...ah, minha filha, minha filhinha do meu coração,minha queridinha, eu te amo também, viu?Foi preciso que eu te machucasse um pouquinho para que você  aprendesse o valor da humildade,minha filha, me desculpe...
-Eu que fui uma boba, uma burra, eu tenho tratado mal o senhor,mas obrigada pela lição de hoje...o senhor está sempre me ensinando, não é ,paizinho?
-Ora, filha, pais existem para isto, não é mesmo?Vamos indo?
E os dois começaram a caminhar abraçados.
-Eu entendo como você está se sentindo, filha, sim, é muito chato se sentir dependente, sentir que precisa das pessoas, sentir que não dá para resolver tudo sozinha como você achava...eu também fui assim quando eu tinha a sua idade,viu?Mas  sabe, filha, o que eu te disse no dia em que você nasceu, na frente da sua mãe?
-O que o senhor disse, pai? Eu era bebê, não tem como eu me lembrar de uma coisa destas...
-Claro que não, filhinha! E você era uma bebê linda !Eu falei assim para você: Sejas bem vinda 'a vida, minha filha ! Seu pai está aqui para te proteger,te amar e te educar , e nunca lhe faltará, isto eu lhe juro, Lune, minha amada filha !
Lune se emocionou e abraçou o pai mais forte e lhe deu um beijinho no rosto com carinho, dizendo depois:
-E o senhor está cumprindo  sua promessa até hoje...me protegeu mais uma vez, que lindo ! E...eu me senti tão protegida no seu abraço, pai...muito obrigada !
Kazuo beijou-lhe a testa e lhe fez um cafuné nos cabelos pintados de alaranjado.
-Imagine, filha, é só a minha obrigação, não precisa me agradecer!Hehei, faz tempo que não a vejo tão doce comigo, viu?
Lune fez beicinho como se fosse criança:
-Bobo !
E se desvencilhou do abraço, virando de costas para ele, cruzando os braços abaixo do busto.

Kazuo riu-se com gosto:
-Eh, Lune...mas é uma menininha mesmo....ahahahah !
-Acho muito chato quando o senhor me trata como criança e ri de mim !
Lune não percebia o quanto tinha sido infantil e imatura agora, e achou que ele agia assim para humilhá-la.
-Desculpe, filha, saiu sem querer...bom, vamos na doceria?
E assim o dia se passou com os dois conversando o tempo todo e se divertindo.
Chegaram no finalzinho da tarde, e Lune carregava um monte de livros de filosofia  novos nos braços e ao chegar, nem cumprimentou ninguém.Sua alegria com os novos livros ela tanta, e a ansiedade para lê-los era tamanha, que parecia que a família nem existia para ela, tanto que quase atropelou seu irmão mais novo, Otaru, na escada !
Entrou no quarto, trancou a porta, e deitou-se na cama, começando a ler imediatamente!

(por continuar)

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