-Vamos para as
Montanhas !Tanto vai fazer morrermos de fome e frio andando atrás dos animais,
como morrermos de fome e frio nas Montanhas !Se tudo quanto é animal caçador
está sendo atraído por esta manada imensa , nenhum estará nas montanhas e
estaremos mais seguras ! Aqui sempre corremos o risco de sermos atacadas !
Disse Kirilla
resolutamente, tomando finalmente sua decisão.
-Tudo bem então,
vamos lá...
As duas garotas
seguiram na direção das montanhas, para o Oeste, enquanto os animais iam para o
Sul.
-Quanto tempo de
caminhada precisaremos por chegarmos até lá, Kirilla?
-Huum, acho que
antes do anoitecer chegaremos lá. Mas não adianta termos pressa, se nos
apressarmos, esgotaremos nossas energias e não conseguiremos chegar lá!
E lá se foram elas,
pesadamente, aos tropeços, reunindo forças nem elas mesmas sabiam de onde, com
a firme esperança de encontrarem uma caverna segura e confortável, quentinha e
aconchegante.
Depois de horas de árdua
caminhada, chegaram no sopé das montanhas, que na verdade nem eram lá grande
coisa de altas.
Olharam de lado a
outro e nada de caverna- as montanhas todas pareciam feitas de rocha sólida e
elas começaram a duvidar que tivessem feito a escolha certa.
Desanimadas e
exaustas, começaram a caminhar ao largo das elevações rochosas, para a
esquerda.
Ali, a neve funda
escondida o que antes fora um matagal luxuriante, e elas sentiam a vegetação
morta por baixo dos pés.
Súbitamente, o chão
lhes pareceu faltar- e faltou mesmo !
Era um buraco fundo
no chão e elas caíram nele!
A perfuração na
rocha seguia inclinada para baixo, para dentro do coração do subsolo e elas
rolaram buraco abaixo, até que pararem num imenso, mas imenso mesmo, salão subterrâneo,
cujo teto era mais alto que o de uma catedral !
A vista era, no
entanto , de cair o queixo:
Ali um rio subterrâneo
, límpido e cristalino corria bem no meio,e as estalagmites e estalagtites
brancas brilhavam na pouca luz do sol que entrava aqui e ali por estreitíssimas
fendas no teto.
Zonas iluminadas se
revezavam com zonas de breu profundo, e outras de penumbra quase fantasmagórica.
Só então olharam
para o chão e levaram um susto:
Centenas de
esqueletos de animais, mortos há muito, rebrilhavam por ali, por todo canto, o
lugar mais parecia um cemitério !
-Kirilla, estou com
medo...aqui está cheio de espíritos de cavalos, Garras Grandes, Caudas Mortais,
Mortes de Dentes Longos, Rinocerontes e Mamutes !
-Esqueça o que o Xaman
te ensinou, espíritos não existem !Estão mortos, não farão mal a ninguém ! Deve
ter algum outro buraco grande o bastante para eles caírem em algum lugar por
aqui, e não conseguiram sair, e como não tem nada para eles comerem...
-Será que vamos
morrer como eles, de fome,Kirilla?
A menina se agarrou
no braço da mulher feita.
-Não, se usarmos
nossas cabeças !
-Uff, como tem morcegos
aqui ! E enormes !
-É isto ! Vamos
caçar os morcegos , mata-los e comê-los !
-Mas como faremos
isto? Eles voam, a gente não...
-Cabeça existe para
a gente sobreviver, menina !
E Kirilla pegou uma
das abundantes pedras ali e a jogou num morcego que passava. Errou o bote.
O animal, no entanto
se enfureceu e foi para cima delas.
Instintivamente,
Karanna pegou sua lança e quase o acerta.
Kirilla pegou sua
arma e , com movimentos rápidos, o manteve afastado dela.
-Pega uma pedra e
acerta ele enquanto o mantenho ocupado, Karanna !
A menina começou a
jogar no animal quantas pedras achou e no fim, começou a acertar, rasgando uma
das asas dele, que caiu no chão, e então a lança de Kirilla foi certeira,
estraçalhando- lhe o crânio. O morcego estava morto!
-Venha, vamos
depelar e desossa-lo !
-Será que vamos ter
de comer ele cru?
-Não, nós trouxemos nossas
pedras de acender fogo, Karanna.
-Mas e lenha, onde
arranjaremos?
-Huuum, deixe-me
pensar...vai retirando a carne dele por enquanto, enquanto reflito aqui
comigo...
-Tudo bem...
-Bom, lá em cima, de
onde caímos, havia muita vegetação morta debaixo na neve, teríamos de sair lá
fora para pegar e trazer para cá!
-Mas e se tiver
algum animal caçador lá fora?
-Não vai ter, estão
todos na manada que foi para longe. Está vendo aquela abertura na parede ali? Foi
por ali que entramos !
-Mas deve ser muito íngreme...e
se os animais não conseguiram sair daqui e morreram aqui, quem garante que
conseguiremos?
-Os animais que caíram
aqui eram todos grandes e não pensavam como nós.Eles não conseguiriam passar
por uma passagem tão estreita, mas nós sim , Karanna!
-É, isto é
verdade...
-Então deixe o
restante do morcego comigo, e vá lá fora buscar vegetação !
-Mas eu tenho
medo...
-Vá logo , menina,
ou vamos morrer de fome !
A contragosto,
Karanna foi. A passagem, larga o
suficiente só para uma mulher adulta passar, com seus ombros estreitos, não era
tão inclinada a ponto de tornar impossível subir, mas ainda assim, a subida era
íngreme e penosa.
Depois de muito
esforço, a menina finalmente conseguiu chegar até o lado de fora, separou a
neve da vegetação com sua lança, pegou um monte com as mãos, e voltou a entrar.Não
faltava muito para escurecer.
(Por Continuar)
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