Fogueira central
acesa de novo, as duas puderam sentar-se no chão , descansar um pouco e beber água.
Uma vez
descansadas, agora havia ânimo para conversarem:
-E agora, Kirilla?
Os dias ficarão bem entediantes por aqui só com nós duas, e sem muito o que
fazer...
-Não se anime
tanto. Caçar morcegos não é tão simples, nem tão fácil, e é demorado.E na
verdade, já estou com fome, um morcego só para as duas é pouco, eles não tem lá
muita carne.
-Verdade, vamos
ter de caçar pelo menos dois por refeição, talvez o melhor seja quatro, dois
para cada uma, se pudermos.
-Falou bem: se
pudermos, pois eles são inteligentes e logo vão começar a nos evitar, então
temos de aprender os hábitos deles. Vamos caçar uns agora então, a gente come e
aí a gente vê o que fazer.
Levantaram-se e
olharam para cima: eles não ficavam no teto mais claro, preferiam as áreas mais
escuras, então elas fizeram tochas com a madeira da fogueira.
Foram a uma câmara
do lado esquerdo, bem escura, e lá encontraram dezenas de morcegos dormindo de
cabeça para baixo.Ali, a câmara não tinha um teto muito alto, então, dava para
elas acertarem pedradas neles.
Uma pedra acertou
um morcego na cabeça, e ele caiu morto, e os demais fugiram em revoada.
Elas pegaram o que
morrera, e o levaram para junto da fogueira.
Elas se esconderam
numa câmara ao lado e esperaram o bando voltar , e não demorou, eles voltaram.
Acertaram mais um,
e nova revoada.
E elas se esconderam
de novo, esperaram , mataram mais um, e no fim juntaram quatro.
Elas então os
depelaram, desossaram e cozinharam no fogo.
Procuravam
esquecer o sabor ruim, e ao menos agora estavam
de estômago cheio.
Por precaução,
acenderam a fogueira externa e dormiram por algumas horas.
Acordaram já próximo
do meio dia.
-Bom, Karanna, já
que estamos sem ter o que fazer, talvez seja melhor explorarmos esta caverna e
conhecermos melhor os lugares que estamos vivendo.
-Eu tenho medo! É
perigoso ! E se nos perdermos, Kirilla?
-Não iremos tão
longe. Aliás, nem sei qual o tamanho desta caverna. Sei que tem muitas câmaras
e corredores a explorar !
-Por isto mesmo
que podemos nos perder...
-Huum, deixe-me
pensar, temos de inventar uma maneira de tornar nosso caminho de ida conhecido,
para que possamos seguir nosso caminho de volta...eu já sei! Vou lascar um
pedacinho de parede por onde formos, em cada câmara ou corredor, de um jeito
que só eu sei fazer !
Ela fez um pequeno
entalhe na pedra da parede, do tamanho de um polegar.E o dedo conseguia mesmo
caber direitinho dentro do entalhe.
-Vamos indo,
Karann ! Não se esqueça de sua lança e sua machadinha!
-Mas aí minhas mãos
ficarão ocupadas...
-Está vendo estas
lascas de ossos afiadas? Dobre um canto de sua roupa assim, e coloque duas das
lascas para que fique dobrada, assim, como eu fiz, está vendo?
E o primeiro bolso
da humanidade acabara de ser inventado...
E lá se foram as
duas corajosas garotas!
Saíram do enorme
salão central e enveredaram por um corredor lateral, bem escuro.
Caminharam por
dezenas de metros, até que encontraram uma pequena câmara fracamente iluminada
por uma trinca no teto.
-Aaaaaaaah !
Gritou Karanna, assustada!
-O que foi?
A menina apontou
diretamente em frente:
Ali estava: um
enorme esqueleto de um Urso das Cavernas, ainda articulado, pois a câmara era tão
estreita e cheia de vincos, que manteve os ossos no lugar.
Elas viram pedras,
muitas pedras no chão e perceberam que havia uma parede fechando a câmara antigamente,
mas ela cedeu.
-Ele caiu pelo túnel,
que era muito estreito e vertical, e ele mal cabia nele, de modo que ficou
preso, e morreu de fome e sede.Vamos procurar outro lugar e deixa-lo em paz.
Disse Kirilla, que
não se assustava facilmente.
Elas retornaram ao
salão principal e continuaram indo para o fundo, e desta vez, entraram numa câmara
que ficava do lado direito.
Ali havia uma
outra fenda, e uma visão ainda mais fantasmagórica: Um esqueleto de cervo
gigante, ainda com restos de tendões e nervos que seguravam os ossos
articulados, em pé, com a cabeça presa para fora do buraco, pelos enormes
chifres.
-Uff, este caiu de
costas e ficou com a cabeça presa e as pernas no ar! Pobre coitado, não
conseguiu livrar a cabeça para dentro por causa dos chifres e também morreu de
fome e sede !
-Kirilla, vamos
voltar para onde fizemos a fogueira, este lugar me dá arrepios !Estou apavorada,
só tem animal morto aqui !
-É que eu esperava
encontrar uma saída pelo outro lado, mas tudo bem, vamos voltar.
Elas iniciaram o
longo caminho de volta.
Por todo lugar que
andavam, tropeçavam em ossos e crânios de animais dos mais diversos possíveis.
Quando chegaram,
Kirilla teve mais uma de suas brilhantes idéias:
-Sabe, Karanna,
estava pensando cá comigo: quanto estávamos com nosso povo, o que mais usávamos
para fazer nossos utensílios eram pedras e madeira, mas principalmente
pedras.Aqui pedras também não faltam, mas a maioria não é dos tipos que
costumamos usar.Em compensação, temos muitos, muitos ossos !
E podemos fazer
armas de ossos, e outros utensílios com eles, por que não aproveitar?
-Acho meio tétrico...os
espíritos dos animais vão se zangar...
-Você e esta
conversa de espíritos de novo!
(Por Continuar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário