quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Episódio 21- Neanderthal 2: Transição de Sangue !



E assim seguiram viagem, abandonando mais estas paragens que lhes pareceram tão promissoras.
Tudo parecia indicar que teria sido para lá que a migração da Megafauna tinha ido e lá teria se estabelecido.
Mas, naqueles tempos tão imprevisíveis, tirar tais conclusões poderia ser temerário.
A preocupação delas, no momento, era ter de dormir ao relento, expostas a animais predadores.
Elas julgavam já ter ficado fora do alcance de  Karajjar e dos predadores do vale, masnão dava para confiar ou se sentirem seguras.
E como não havia nem sinal de caverna ao alcance da vista, e com a noite já por cair, elas estavam extremamente preocupadas.
E como conseguiriam caminhar na escuridão completa?
Era o que se passava na cabeça de Karanna.
-Kirilla, estou cansada...
-Eu sei, eu também estou!
-Já está começando a escurecer, como vamos poder continuar?
-Não tem jeito, vamos ter de parar aqui mesmo e arriscar. Vamos procurar lenha nas imediações, montar uma fogueira e  dormir.
-Ainda não saímos do vale, melhor dormirmos nas  campinas ou na floresta, Kirilla?
-Acho aqui nas campinas mais seguro. Na floresta há muitos lugares para os animais se esconderem e podemos não vê-los e sermos pegas de surpresa.
-Mas no escuro não vamos enxerga-los da mesma maneira. E tem árvores altas na floresta, onde podemos subir e dormir em segurança.
-Leopardos sobem em árvores. Cobras sobem em árvores. Não estaremos tão seguras assim, Karanna!
-Mas os animais enxergam no escuro muito melhor que nós e eles sabem disto.  E, sem caverna, sem abrigo, sem ter onde se esconder, seremos presas fáceis!
-E por acaso alguma vez você já dormiu em cima de um galho de árvore?Basta nos desequilibrarmos e podemos morrer na queda.Ou mesmo que  a queda não seja fatal, se quebrarmos um braço ou uma perna, não conseguiremos mais caçar, e poderemos morrer de fome!
-Sim, mas uma fogueira na escuridão é fácil de qualquer animal caçador ver, e eles sabem muito bem, onde tem fogueira, tem gente !
-Está bem, está bem, desta vez vamos dormir na floresta então. Mas lembre-se que não vamos ter floresta para sempre e poderemos ter de percorrer longas distãncias nas campinas sem ter alternativas, como temos agora !
Karanna estava feliz por finalmente ter convencido sua amiga a dormir na floresta.
E assim nela entraram, e encontraram uma a poucos metros da planície do vale, bem alta.
Foi uma dificuldade para subir, especialmente por que levavam muitas tralhas consigo, então primeiro uma subiu um pouco, a outra jogava as tralhas para ela, que as colocava num galho, depois outra subia, e iam se revezando até chegar no galho definitivo. Encontraram um balho a mais de cinco metros de altura, espesso, que tinha outro bem espesso bem próximo ao lado .Assim, puderam colocar as lanças de atravessado apoiadas nos galhos, e as tralhas em cima.
Não estavam acostumadas a dormir sem o calor e o barulhinho crepitante do fogo.Não havia também, como colocar as colchas para amortecer um pouco a dureza da madeira. E teriam que dormir, cada uma num galho, recostadas no tronco, praticamente sentadas.
E bem que tentaram!
Mas estava difícil, e passaram a noite toda assustadas com os barulhos da floresta, aos quais não estavam acostumadas, e cada leve desequilíbrio era um susto danado, então a noite dela foi uma série de cochilos curtos e despertares súbitos.
Mas ainda assim, tiveram sorte:nenhum predador apareceu durante a noite.
Já estava, no entanto, amanhecendo,quando acordaram, sentindo os galhos vergarem e algo comprido, molhado e pegajoso passar pelas pernas delas.
No início, ainda sonolentas, acharam que fosse uma cobra, mas estava longe disto.
Kirilla esfregou os olhos e olhou para baixo:
-É um Garras Grandes !O maior que já vi !
De fato, era um Eremontherium, e ele abaixava os galhos com suas patas e garras enormes, e arrancava as folhas da copa com a língua.
-Vamos dar o fora daqui!Pegue nossas tralhas e me siga !
Disse Kirilla, saltando do galho com sua lança e parte das tralhas em uma das mãos, e caindo direto nas costas da preguiça gigante , escorregando por ela e saltando no chão e tratando de correr.
Sem outra alternativa, Karanna fez a mesma coisa e usou as costas do Eremonthérium, que mugiu, irado.
Mas até ele se virar e ir atrás delas, elas já tinham disparado para fora da floresta e ganharam as campinas, deixando ele bem para trás, que acabou desistindo e voltando a comer suas folhas.
-Mas que animal fedorento!Urr !
-Ainda bem que nos livramos dele, Karanna!
-Esta corrida me deixou com fome!
-Huuuum, deixe-me ver... ali, saindo do buraco! Uma toupeira !
-Vamos caçá-la  como,Kirilla? Se ela entrar no buraco, nunca mais a acharemos !
-O que comem toupeiras? Minhocas! Vamos revolver a terra ali, pegar umas minhocas e coloca-las na frente do buraco e ficar atrás do buraco com nossas lanças. Ela vai sentir o cheiro das minhocas, vai sair, e quando ela sair, a gente a mata !
E assim fizeram a armadilha.
Como a toupeira é praticamente cega, não as viu, e saiu do buraco para comer a minhocas, e a lança voou na cabeça dela, rompendo-lhe o crânio. Ela estava morta.
Elas então pegaram lenha  de galhos que o vento levava da floresta para as planícies, e fizeram uma fogueira.
Depelaram, descarnaram, desossaram e desmembraram a toupeira e a assaram, e depois comeram.
Saciadas, se levantaram logo, arrumaram suas coisas e partiram antes que a carcaça do que restara chamasse abutres e predadores.
Não andaram muito e o vale finalmente terminou na foz do rio, e logo depois, um paredão de montanhas.
-É, vamos ter de subir, não tem jeito !Ainda bem que aquela parte ali não é muito íngreme!
Disse Kirilla e começaram a árdua subida.
Levaram horas subindo e chegaram ao cume da montanha baixa e olharam a paisagem que se descortinava: outro vale, agora muito mais curto, mas muito mais largo.E com florestas muito maiores e mais densas em algumas partes. Nas montanhas do outro lado do rio, , viram duas cavernas, uma grande e outra pequena não muito distante.
Para Kirilla havia algo de familiar naquele vale.Alguma coisa que lhe lembrava seus tempos de criança e adolescência.
De fato !
Aquele era exatamanete o vale onde ela nascera, onde crescera e vivera com Kros-Ganik! E aquela caverna grande, situada a uns dem metros de altura das planícies, perto do sopé das montanhas , numa subida não muito íngreme, era a Caverna de Kros-Ganik !
Ali, e somente ali, estavam suas origens !

(Por Continuar)
 

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