sábado, 23 de dezembro de 2017

Episódio 165- Sensibilidade de Viver:Interlúdio ETP



Lune encontrava-se muito pouco ‘a vontade para comer ali, embora a comida estivesse deliciosa.
Ela simplesmente não estava acostumada a comer na frente de um monte de empregadas, se sentindo vigiada por todas, e , sobretudo,sem elas comerem também. E também estava nutrindo poderosa antipatia pela Sra. Severe, e ficou parada em pé na altura do centro da mesa, olhando os dois, e lançando olhares coléricos para quem quer que ousasse romper com os preceitos da etiqueta ‘a mesa.
Lune via nela uma ditadora fascista e autoritária, insensível e miseravelmente feroz.
Foi quando Lune se decidiu a desafiá-la indiretamente:
-Amor, por que as empregadas não sentam ‘a mesa para comer conosco?
-Por que, Lune-san, elas costumam almoçar depois dos donos da casa e convidados. Elas tem uma ala só delas com cozinha própria, e refeitório, onde elas comem, fica num anexo separado da casa.
-Isto se chama elitismo e arrogância !
Respondeu Lune.
-As refeições para elas são outras, muito menos elaboradas e as regras aqui são claras: alimentar-se, só depois dos patrões e no local adequado, longe da vista patronal.
Disse a Sra. Severe.
-Minha pergunta não foi para você, não seja mal educada!
Ao ouvir a resposta de Lune, a Sra. Severe ficou trêmula de nervosa, mas não podia descontar sua raiva, então, batia os calcanhares no chão com fúria.
-Aqui nesta casa se vê bem a questão de luta de classes que Marx citava, com a superexploração dos trabalhadores e proletários, é um exemplo vivo de mais valia!
Takeo, preocupado com as provocações de Lune, que ele sabia, eram dirigidas ‘a governanta, ficou tremendamente sem graça ao receber o olhar furioso da Sra. Severe, e o olhar constrangido e submisso das demais empregadas.Depois de pensar um pouco, respondeu secamente:
-A filosofia desta casa é adepta de Adam Smith, querida!
O “querida” foi dito quase em tom de súplica, e o olhar dele ao dizer era de quem diz:
“-Por favor, pare!Vamos mudar de assunto”
E Lune percebeu tanto o tom de voz, quanto o olhar. E percebeu o olhar maligno da governanta para ela, ao que respondeu com um olhar de loba prestes a atacar a presa para a Sra. Severe, que viu:aquela garota não iria se deixar intimidar , nem dominar por ela, o que a fez ter ainda mais raiva da convidada.
Para o alívio de Takeo, porém, Lune terminara seu almoço, e ele também.Ela fez menção de ajudar as empregadas a tirar a mesa, mas Takeo a dissuadiu com um olhar reprovador.
Assim que saíram da sala de almoço, a Sra. Severe logo desabafou para si mesma, em voz alta:
-Era só o que me faltava !O senhor Takeo arranjar uma noiva comunista!
As demais empregadas se encolheram de medo e ficaram caladas, olhando para o chão.
-O que estão esperando, vadias?Tirem a mesa agora !
Disse a governanta, com olhar colérico e tom de voz imperial e tirânico.
Elas correram a tirar tudo correndo, pois elas temiam, e muito, a governanta, que dominava a casa com mão de ferro e disciplina de chumbo.Sabiam do que ela era capaz e dos crimes que já cometera.
Takeo e Lune foram para o jardim de inverno, onde se sentaram nas confortáveis poltronas de casemira inglesa.
-Docinho, por favor, não bata de frente com ela, vai estragar nossas férias e me criar sérios problemas...
-E eu lá sou de baixar a cabeça, Takeo-san?Você não me conhece?Não sabe como sou depois de tantos anos?Eu fui capaz de enfrentar seu pai, enfrento a ela também !
-Ela é muito pior do que meu pai já foi, meu bem...não terá sido por falta de avisar, você não sabe a fera com que está se metendo...
-Quanto mais difícil o desafio, mais prazeiroso será vencê-lo !
Takeo nem insistiu. Sabia ser inútil.Franziu a testa preocupado, e limpou os óculos com um lenço.
No entanto, nem ele, nem ela , sabiam dos segredos terríveis que aquela mulher escondia, nem de por que ela se tornara tão amarga e feroz, e igualmente não sabiam de muitas das barbaridades que ela já praticara na vida.
Takeo sabia de algumas, menos contundentes e impressionantes, mas do verdadeiro lado de trevas dela ele ainda desconhecia. Mas desconfiava, e , com razão, temia do que ela era capaz!
Foi quando uma das empregadas chegou:
-Ahn, com licença, tenho um recado da Magna Sra. Severe: ela mandou dizer que, conforme as regras da casa, aqui é proibido  andar dentro da casa, entrar e sair em trajes de banho, em nome da Moral, decência e bons costumes.Por favor, quando forem para a praia ou piscina, coloquem os roupões apropriados por cima, fornecidos pela casa.
-Muito obrigado, está dispensada.
Disse Takeo.
A moça, fez uma mesura, baixando o torso na direção dele, e o decote generoso dela ficou bem de frente para os olhos dele, deixando entrever os seios quase inteiros.E ela sorriu para ele, lançando-lhe um rápido olhar de desejo.
-Com licença!
Disse ela, e foi embora.
-Ah, certo, acho que de agora em diante vou andar completamente nua pela casa e fazer poses sensuais para aquela megera então!
Disse Lune.
-Por favor, não faça isto !
E os olhos de Takeo se arregalaram, numa expressão de espanto.
-Por que, amor, não gostas de me ver nua?
-Eu amo a ver nua e sabes disto, docinho. Porém, se fizerdes isto, ela nos expulsará desta casa e fará nossas caveiras junto aos meus pais!
-Ai dela se tentar fazer isto !
-Ela já expulsou minha mãe daqui, há uns dez anos atrás, querida...minha mãe, que é patroa dela !Por que você acha que ela detesta vir aqui e quase não vem?

(Por Continuar)

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