-Vamos, Karanna,
vamos logo arrumar alguma coisa para comermos !
E lá se foram elas
pelo Vale.
Era, no entanto,
preciso ter sangue frio e coragem, e conhecimento também, para andar no meio de
tantos animais gigantes, para não se deixar perceber.Observação atenta também
era fundamental.
Procuraram se
proteger escondendo-se no mato alto, e tentando evitar que os animais
farejassem-nas.
Porém, acabaram
vendo que nas campinas abertas do vale era inútil tentar: a grande maioria das
presas alieram grandes demais para duas mulheres sozinhas conseguirem matar.
Então, decidiram-se a procurar na florestinha que margeava as montanhas.
Lá, com muita
dificuldade, conseguiram caçar dois coelhos gordos e os levaram para a caverna.
Lá, ao chegarem,
encontraram Karajjar já dormindo, aparentemente satisfeito com sua refeição
recente.
Elas então foram
para a outra boca da caverna, acenderam a fogueira, depelaram, abriram , desossaram
e desmembraram os coelhos, e os cozinharam.
Porém, o cheiro da
carne assada atraiu o faro de Karajjar e ele chegou justo quando elas estavam
sentadas no chão, de pernas cruzadas.
Ele começou
rosnando baixinho, com as orelhas voltadas para trás.
-Karanna, dê as vísceras
dos coelhos para ele, por favor.
Ela juntou-as num
pequeno monte, se levantou e começou a carrega-las para um canto.
O rosnar ficou
alto , e os beiços se arreganharam, deixando a dentuça alva ‘a mostra.
Assustada, Karanna
deixou as vísceras caírem no chão, e a fera avançou nelas.
Kirilla percebeu
que era hora de pararem de comer- o Homotherium queria tudo para ele. Ela se
armou com um galho incanscente.
-Vem para perto de
mim, Karanna ! Devagar, sem mostrar medo, nem movimentos bruscos.
A menina veio, e a
fera veio atrás.
Elas se afastaram
da comida, e deixaram ele comer.
Elas já finham
comido mais da metade, mas ainda restava bastante.
-Pegue nossas
armas no canto. Ele sabe que quando pegamos nossas armas e damos as costas a
ele, é por que vamos caçar, então ele nos seguirá.
Disse Kirilla.
E de fato, foi o
que ele fez.
Elas saíram da
caverna novamente e foram para a planície, como sempre, pelo capim alto, até
que avistaram, num baixio perto do rio, um bando de Homotheriuns de olho nos
filhotes dos mamutes, e esperava que um dos bebês paquidermes se desgarrasse do
bando.
Karajjar parecia
intensamente interessado, e lambia os beiços.
-E agora, como
vamos despistá-lo?Não podemos chegar muito perto das feras, ou elas nos atacarão
!
-Eu sei como,
confie em mim! Vamos aguardar o tempo certo. Karajjar não vai resistir ‘a
tentação, ele quer aquele filhote de mamute !
-Aquele ali? Mas não
parece que ele vai se desgarrar tão cedo...
-Sim, mas Karajjar
é muito jovem e inexperiente ainda. Ele não terá a paciência de esperar. Daqui
a pouco ele começará a se aproximar do filhote!Quando ele denunciar sua presença,
nós aproveitaremos a confusão e fugiremos!
-Mas e se ele nos
seguir de volta?
-Ele não irá, por
que ele vai querer caçar o filhote!
E realmente, a
pequena fera estava trêmula de nervosismo e ansiedade, com olhar fixo na
suafutura refeição.Não demorou quinze minutos, e ele começou a se afastar das
meninas, pata ante pata.
Normalmente, elas
o seguiriam, mas desta vez ficaram no lugar.E de fato, o felino parecia nem
lembrar das duas de tão concentrado que estava em sua caçada.
Ele achou que o
capim alto o esconderia, mas os Mamutes adultos o viram e deram seu
trombeteante alarme !Seguiu-se a confusão, com o estouro da manada.
Os outros
Homoterium , já que foram denunciados, resolveram tentar atacar.
-Agora é o momento
!Vamos embora, depressa !
Disse Kirilla, e
as duas dispararam na direção contrária.
-Venha, vamos
passar nesta touceira de flores e passa-las no corpo para disfarçar nosso
cheiro, assim, Karajjar não nos seguirá de volta mais tarde !
-Tuo bem, Kirilla
!
E assim o fizeram
e depois voltaram correndo para a caverna, e depois vogaram fora todos os
restos de comida para evitar chamar a atenção de predadores.
Então, acenderam a
fogueira da entrada da passagem para a câmara secreta e para lá rumaram.
-Sabe o que me
preocupa, Karanna?
-O quê?
-Karajjar
acostumou-se conosco e sabe o caminho de volta.Ele pode voltar mais cedo ou
mais tarde, mas o que é pior: ele cresceu acostumando-se ao fogo, então, ao
contrário de outros caçadores, este não tem medo do fogo, e nenhuma fogueira irá
mantê-lo longe.
-Verdade, Karanna,
mais cedo ou mais tarde ele voltará !
-Sim, e ainda por
cima poderá atrair outras Mortes de Dentes Longos para cá !
-Isto seria
extremamente perigoso !Então, o que devemos fazer?
-Sinto dizer, mas
acho que não vamos mais poder ficar nesta caverna, ficou muito perigoso agora!
Melhor fugirmos logo daqui, e procurarmos outro lugar! Vamos aproveitar que o
frio amainou e a neve diminuiu bastante
e irmos embora!
-Está bem,
vamos...
-Pegue logo suas
coisas, pegarei as minhas e vamos embora !
E as duas cataram
suas coisas apressadamente e saíram da caverna, e foram margeando o pé das
montanhas pela florestinha, até encontrar o final do vale.
No caminho, quando
já estavam bem distantes, mataram mais coelhos, improvisaram uma fogueira e
comeram as pressas.
(Por Continuar)
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