Mas não poderiam
demorar muito tempo ali, comendo. Abutres já voavam em círculos no céu de olho
na carcaça, e outros predadores poderiam querer se refastelar nela igualmente,
por isto, Kirilla tinha pressa.
-Agora que
acabamos de comer, vamos logo embora daqui, pois isto aqui vai virar um antro
perigoso de carniceiros e caçadores logo logo !
Ela e Karanna
arrumaram suas coisas e levantaram acampamento, certificando-se rapidamente de
que não tinham esquecido nada.
Embalado nos
braços, Karanna carregava Karajjar, o filhote de felino dentes de sabre.
Mal elas se
afastaram e uma revoada de abutres pousou na carcaça ainda fresca.
Quando elas já
estavam a vários quilômetros dali, um bando de lobos gigantes apareceu e
começou a briga pelo Homotherium morto.
Aquele vale era
realmente imenso, e caminharam por várias horas nele, tomando cuidado para não
andarem sobre o rio congelado.
Chegaram então ‘a
foz do rio, um delta largo, cercado por uma muralha de altas montanhas.
-Pelo visto, nosso
caminho termina aqui.Daqui para a frente, só existe uma possibilidade: subir, e
tentar contornar as montanhas e ver o que há lá do outro lado !
-Kirilla, estou
vendo ali em cima, bem alto, uma caverna !
-Huum, onde?
A menina apontou
para a frente e para cima. A tal caverna ficava a aproximadamente seiscentos
metros do chão, numa subida íngreme.
-Ahn... bom, acho
que dá para a gente subir sim, é bem inclinado, mas acho que a gente consegue.E
acho que nenhum lobo, nenhuma hiena, nenhum leão, nem nenhuma Morte de Dentes
Longos conseguiriam escalar até lá. Talvez, apenas talvez mesmo, um urso.Vamos
lá !
E começou a
escalada, que precisou ser feita com muito cuidado. Claro que, se caíssem, a
queda não seria vertical, mas inclinada e poderiam rolar descida abaixo, mas o
problema estava em que, debaixo da neve havia muitas pedras soltas que poderiam
provocar uma avalanche bastante perigosa, se caíssem.
Assim, a subida
foi lenta, demorada e requereu enorme esforço.
Mas finalmente
chegaram lá, e puderam descansar perto da entrada da caverna e esta era grande
!
O mais curioso, no
entanto, é que a caverna era praticamente um túnel, que varava a montanha de
fora a fora. Então, não era escura.Tinha aproximadamente um quilômetro de
comprimento, por algo em torno de cem metros de largura média e a altura era de
uns trinta metros.
Em tese, por causa
do teto alto, não oferecia lá muita proteção para a chuva, nem para o frio, e
tinha dois lados para vigiar, de modo que necessitaria de no mínimo duas
fogueiras.
Após descansarem
um pouco, exploraram a caverna e descobriram que ela era estranhamente
quentinha, apesar do vento gelado.E a
explicação para isto não tardou a descobrirem: Havia uma câmara lateral, que
descia para o subsolo, e logo se enchia de água quente: era um rio subterrâneo,
e ali perto, uma fonte de lava
borbulhava enchendo a caverna de calor.
Logo no começo da
descida, havia uma rampa íngreme , que levava a uma câmara escura, mais ou
menos quadrada, medindo aproximadamente seis metros de lado.A rampa, que tinha
uns trinta metros de altura, era íngrime o suficiente para só seres humanos
conseguirem escalá-la com facilidade, e a entrada dela, era estreita, não cabia
mais do que um corpo humano ali, tornando impossível qualquer predador entrar,
já que o entorno da entrada era de pedra maciça e não terra .Era perfeita para
passarem noites seguras e despreocupadas. Ali não haviam insetos imensos,
apenas morcegos frugívoros, que poderiam ser caçados e devorados.
Decidiram então,
que ficariam no corpo principal da caverna durante o dia, e a noite, iriam para
a câmara escondida.E, por precaução, fariam três fogueiras:uma em cada entrada
da caverna, e outra na entrada do corredor para a câmara secreta.
Mas , se água e
alimento ali não eram o problema, como fazer as fogueiras era sim um problema.
Não por falta de pedras para acender o fogo, estas tinham em abundância.O que faltava ali era lenha, e
tornava-se extremamente arriscado e extenuante ir buscar lenha lá embaixo, na
foz, e quase que impossível escalar aquela ladeira carregando lenha!
-Como vamos fazer,
Kirilla?
-Vamos do outro
lado, na outra entrada, quem sabe do outro lado tenha uma descida menos
inclinada e tenha mais lenha...
Caminharam então
para a outra entrada, e quando chegaram na boca da caverna, se espantaram:
A outra entrada
dava para um segundo vale, ainda mais
imenso que o outro, cheio de florestas, e um rio com águas que não congelaram,
quentes, que vinham da fonte termal da caverna.
E ali, manadas de
Mamutes, riinocerontes lanudos, cervos gigantes, preguiças gigantes ,
gliptodontes e outros animais da mega fauna, ‘as centenas, milhares
!Predadores, claro, também tinham aos montes, mas nenhum parecia interessado em
subir para a caverna, ali, presas para caçarem não faltava, era um verdadeiro
paraíso da Era do Gelo, verdadeiro santuário !
E sim, a descida
para o vale daquele lado era muito menos íngreme, e a boca da caverna ficava
escondida por mato alto e uma florestinha.
Aquele vale,
inclusive, parecia centenas de metros mais alto do que o outro, do outro lado
da caverna, por onde tinham chegado, era como se fosse um vale instalado num
platô baixo.
Ali, elas
pensaram, daria para viverem sozinhas e em segurança por anos a fio !
(Por Continuar)
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