Enfim elas
conseguiram fazer sua fogueira, e cozinhar seu morcego.
-Nunca em minha
vida pensei que um dia viria a comer um morcego, Kirilla!
-Nem eu, mas na
vida, a gente tem de comer o que encontrar, não dá para ficar escolhendoo
sempre!
-Ih, verdade !Uh,
carne dura, horrível, detestei...
-Ainda muito que
temos algo para comer, Karanna, não reclame. Pelo visto, teremos de ficar um
bom tempo por aqui comendo morcegos todo dia! Pelo menos isto tem em abundância
aqui, então não nos faltará comida!
-E por que não
podemos ir embora amanhã mesmo?
-Por que, menina,
lá fora não tem comida, o frio está intenso, a neve enorme e podemos morrer de
fome e frio viajando sem encontrar nada! Melhor aguardar este inverno passar
!Aqui ao menos é quentinho, tem comida, tem água e não tem animais caçadores
para nos matar !
-Entendi, mas está
cheio de maus espíritos dos que morreram aqui !
-Karanna, você não
é mais criancinha para acreditar nestas coisas, deixe de ser medrosa, menina
!Eu vou aproveitar que tem água fresquinha aqui e vou tirar minhas vestes e
entrar no riacho !
-Então vou com você
!
E as duas se
desnudaram completamente e entraram no rio, e aproveitaram para beber da água,
que era pura, fresca, deliciosa.
Depois aproveitaram
o calor do fogo para se secarem .
-Bom, lá fora já
está começando a escurecer, já comemos, então vamos estender nossas colchas,
deitar e dormir!
Disse Kirilla.
E assim o fizeram,
pois muito cansadas estavam, depois de tão exaustiva e penosa caminhada.
A noite chegou e
com ela veio a escuridão, que só não era total por causa da fogueira.
Porém, aquele fogo
não duraria ara sempre, e aquela noite não seria tão tranquila quanto elas
pensavam- não seria mesmo !
Karanna dormia seu
sono leve, insegura que estava , pensando nos maus espíritos e em todos os
animais que ali tinham morrido.
Foi quando sentiu
algo tocando em seus pés, e lhe mordiscando a pele, lhe machucando.
Ela, amedrontada,
se recusava a abrir os olhos.
Dali a pouco
sentiu mais alguém lhe incomodando, tocando, e agora parecia subir por suas
pernas.
Ela encolheu as
pernas, assustada, num gesto reflexo.
Foi quando sentiu
que agora eram vários lhe picando pés, pernas, braços, barriga, peito, e só então
sentiu uma mordida mais forte em...seu sexo !
-Aaaaai ! Ela
gritou, e desta vez não teve jeito, sem querer, ela abriu os olhos !
E eles se
arregalaram, e ela soltou um grito de puro pânico, e se levantou:
Ela estava coberta
de insetos, grandes besouros do tamanho de um punho de homem adulto ou até
maiores !
E Kirilla também !
Ela mais que
depressa acordou a companheira chutando-a no ombro.
-Ei, o que é
isto?O que está acontecendo?
-Bichos, bichos
horrorosos !
Kirilla se
levantou e viu os besouros.
El pegou uma
madeira da fogueira, envolta em chamas, e passou por eles em um semicírculo, e
eles saíram correndo.
-Você está bem?
-Toda machucada,
mas estou !
-Eles estavam nos
devorando vivas, e tem uma montanha deles lá na frente, e só o fogo os impede
de nos atacar! Pior que a fogueira está no fim, daqui a pouco se apaga e não
teremos mais armas contra eles !
-E você disse que
aqui era seguro...
-Nunca tinha visto
insetos tão agressivos e tão grandes, não tinha idéia de que tivessem tantos e
de hábitos noturnos, pois de dia, nenhum apareceu !
-E agora?
-Acho que esta
noite vamos ter de passar o resto desta noite lá fora, no frio. Amanhã vamos
trazer muita madeira para cá e vamos fazer uma fogueira em volta de nós a
noite, assim, eles não conseguirão nos alcançar!
-Mas não é
perigoso?
-Inofensivo nunca é,
Karanna, mas acredito que , com este frio, não haverá nenhum animal caçador lá
fora, devem todos ter seguido os animais viajantes.
-É, que
jeito...ficar aqui, com estes bichos é que não fico mesmo !Prefiro passar frio
!
-Então vamos logo,
que a fogueira já vai apagar !
E lá se foram
elas.
Mal elas foram
para a saída da caverna, um exército de besouros foi atrás, as mordendo, e elas
corriam desesperadas dentro do túnel íncrime, tentando subir o mais depressa
que podiam.
Quando já estavam
perto da saída, o frio desencorajou os insetos, pois como eles tem sangue frio,
não suportam baixas temperaturas e morrem.
Aquela foi a noite
mais gelada que tiveram em suas vidas até então!
Tremiam tanto que
pensaram que iam morrer !
Elas improvisaram
uma fogueira para se aquecer, mas o vento a toda hora a apagava e elas tinham
de reacende-la de novo, o que não era fácil, nem rápido, ainda mais com o vento
atrapalhando.
No fim, quase não
dormiram, e foi com alívio que viram enfim o sol nascer.
Por em todo caso,
preferiram aguardar o sol se firmar bem no céu para entrarem de novo na
caverna.
Mas antes, fizeram
diversas viagens carregando folhagens e
madeira que estavam sob a neve, para dentro, para ter uma provisão duradoura de
lenha para fazer fogueiras. Agora havia uma fogueira central, e , distante
vinte passos, uma outra circular, periférica, que seria usada só a noite, como
barreira contra os insetos gigantes. Delimitaram a fogueira circular externa
com pedras e pedaços de estalagtites e estalagmites , para evitar que o fogo
chegasse até elas, que dormiriam entre as duas.
(Por Continuar).
Nenhum comentário:
Postar um comentário