Elas então desceram
a montanha em direção ao Vale .
Kirilla fez questão
de ir direto para a sua caverna de nascimento.
-Esta caverna parece
bem adequada para morarmos dela...
-É a caverna onde
nasci, Karanna!
-Certeza?
-Sim, esta caverna e
a região inteira me trazem tantas lembranças...por isto é tão familiar para
mim! Minhas origens, entende? De certa forma, esta caverna é sagrada para mim,
por que é a caverna de meu pai, do meu povo, de onde vi o mundo, onde cresci ,
onde passei minha infância, e onde meu pai passou a maior parte da vida dele !
-Entendo sim, ela
significa muito para você!
-Muito mesmo !Está
vendo aquele canto ali, entre as estalagmites e estalagtites? É onde a família
de meu pai morou, junto com meus avós e minha tia, todos já falecidos!
Kirilla apontava
para uma câmara lateral,em boa parte aberta, do lado direito da caverna.
E na verdade esta
tinha doze cãmaras destas, seis de cada lado, separadas por muretas naturais
com algo em torno de trinta centímetros de altura, e estalagmites e
estalagtites que se uniram nas extremidades delas, formando verdadeiros quartos
abertos. As marcas das velhas fogueiras ainda estavam claras, bem no meio do
salão principal, e bem na boca da entrada da caverna.
As câmaras laterais
começavam a partir de uns seis metros da boca, e formavam “quartos” de
aproximadamente quatro metros de lado, de formato mais ou menos quadrado, cada
uma. Depois do salão principal, que tinha aproximadamente quarenta e oito
metros de comprimento por dezesseis metros de largura, havia um estreito e
escuro túnel na pedra, que descia em direção ao subsolo, não muito inclinado,
mas na parte final tinha invasão de água subterrânea, que chegava até a altura
da cintura. Acima da linha de água ficavam, dos dois lados das paredes do
túnel, prateleiras naturais escavadas de pedra, onde se acumulavam uma miríade de ossos de animais dos mais
diversos. Havia, no entanto, uma pequena câmara na lateral esquerda, com secção
mais ou menos quadrada de uns oito metros de lado, por quatro de altura, no
meio do percurso, acessada por meio de uma rampa estreita e íngreme, onde havia
uma espécie de cama de pedra natural, e ali estavam ossos de diversos ursos das
cavernas que ali hibernaram e forma mortos pelos povos Neanderthais que
habitaram a caverna.
No final do
corredor, que depois de descer, voltava a subir numa rampa suave, havia uma
outra câmara maior, com cerca de vinte metros de diâmetro, de secção redonda e
teto abobadado, com uma fresta comprida e com cerca de vinte centímetros de largura,
e no centro dela, havia uma espécie de mesa natural de pedra, com marcas
de fogo em cima, onde eram feitos os rituais religiosos e principalmente
fúnebres dos povos que ali viveram. E era ali que a caverna terminava.
-O que tem lá no
fundo, Kirilla?
-Não vá lá, são
locais sagrados! O local de descanso do Deus Urso, e a câmara Mortuária.
Karanna sentiu
calafrios ao ouvir isto.
-Agora que não vou
mesmo !
-Venha !
Disse Kirilla,
saindo da caverna principal e indo para a menor, que tinha apenas dez metros de
comprimento, por cinco de largura e dois e meio de altura, sem cãmaras, túneis,
corredores,”quartos”, nada, bem simples.
-Esta é a caverna em
que Fros-Hostorn viveu seus últimos tempos.É aqui que ficaremos, ao menos por
em quanto, em respeito a meus ancestrais e a memória deles.
-Como preferir,
Kirilla.
A menor ficava a
menos de cinquenta metros da segunda, mas ambas não se comunicavam entre si.
Mas antes de entrar
na caverninha, elas caminharam a pé um pouco mais a frente dela, e lá
encontraram , meio soterrados na neve rasa, o esqueleto de um Homotherium, e o
de um Mamute.
-Esta é a Morte de
Dentes Longos que matou Fros-Hostorn, e este foi o Mamute que meu pai salvou a
vida e que depois deu sua vida pela do meu pai.
-Uh, então o que
você me contou deles era verdade mesmo!
-Por que eu
mentiria, ou inventaria histórias, Karanna?Claro que é verdade...
-Desculpe...
-Aproveite que tem
muita lenha próxima das cavernas e faça uma fogueira na caverninha. E espere
aqui, vou dar umas voltas na caverna maior, e quero ir sozinha.
-Mas, Kirilla...
-Não precisa ter
medo, aqui é seguro. Esta região parece vazia de animais. Ao menos por
enquanto. Eu não demorarei. Vamos, eu vou te ajudar com a fogueira primeiro.
Elas então colheram
a lenha das imediações e fizeram e acenderam a fogueira. Kirilla pegou um tição
dela e o fez de archote.
Depois,
corajosamente, embrenhou-se nas profundezas assustadoras da Caverna maior.
Percorreu o corredor
do túnel e chegou na Câmara Mortuária. Na mesa de pedra, colocou seu archote encaixado
em uma depressão na lateral da parede do fundo, onde havia um buraco, em que
ele se encaixava perfeitamente, e que pr milhares de anos havia servido
justamente para iluminar o salão.
Então, sob a
penumbra da fraca luz do fogo, colocou sua lança ao seu lado direito e deitou-se
na mesa dos Mortos, e fechou os olhos, onde uma estranha e gélida sensação tomou
conta de seu corpo.
(Por Continuar)
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