E lá foram elas !
Saíram da caverna,
e caminharam pela neve, não antes de deixarem, enterrada na frente da entrada
da caverna, um grande pedaço de presa de Mamute, para não se perderem e acharem
a caverna novamente.
Com seu faro e
visão aguçadas, logo encontraram os rastros olfativos do búfalo, já que o veneno
tinha um cheiro forte e marcante.Era um inseticida natural.
Caminharam por
mais de quatro quilômetros, até que o cheiro ficou mais forte.
Foi então que
encontraram um atoleiro de lama gosmenta, misturada com o tal pó branco. E
dentro dele, dezenas de carcaças de animais mortos, herbívoros e carnívoros. No
centro do atoleiro, uma profunda poça de água, que, por algum motivo
misterioso, talvez a contaminação dela pelo pó branco, que parecia vir de entro
da terra, não se congelara.
Os animais eram
atraídos por esta armadilha natural, e uma vez que entravam, atolavam, ficavam
contaminados e morriam.
-Foi daqui que ele
veio .Provávelmente ele pressentiu a armadinha, e não foi fundo o suficiente
para atolar, ou conseguiu escapar, mas já estava irremediavelmente contaminado
e doente, e depois, acabou caindo na caverna.Vamos voltar, agora que
descobrimos, e vamos descansar mais um pouco, e depois a gente volta com
utensílios para levar este pó branco para a caverna !
-Tudo bem,
Kirilla, vamos voltar sim, está frio demais aqui fora !
E as duas voltaram
para a caverna, aproveitando para trazer mais lenha.
De volta lá,
puseram-se a descansar um pouco.
Karanna ficou então
sentada no chão, de pernas cruzadas, e olhando para o riacho.
Súbitamente ela se
espantou, ao ver sua imagem refletiva no espelho d´agua.
Em pé, Kirilla
chegou ao seu lado:
-O que foi,
menina?
-Aaaahn...então é
assim que eu sou !
-Sim, é assim que
você é, do mesmo jeito que eu vejo você.
E Kirilla olhou-se
na água.
-Eu também sou do
jeito que você me vê?
-Sim, você é,
deste jeito mesmo !
-Então é assim que
sou, e assim que somos.
-Eu fiquei meio
assustada quando me vi, não entendi direito o que eu estava vendo.
-Você já tinha se
visto antes, Karanna?
-Não...
-Então é por
isto.Assim nós nos encontramos com nós mesmas e descobrimos como somos!
-E quem somos?
-Quem somos sempre
soubemos, basta pensar.Mas como somos...veja, se a gente passa a mão no corpo,
no rosto, nós sentimos como somos. Mas sentir não é o suficiente para saber. É
preciso ver. E depois de ver, pensar.Nós passamos a saber quem somos e como
somos, após pensar, sentir, e ver. E só depois de ver, e pensar juntando o
pensar anterior, com o sentir e com o ver, passamos a saber o que somos!
-Ka Gigur?
-Ka Gigur é apenas
um nome que demos a quem somos.Mas só agora que vimos e juntamos tudo é que
sabemos quem somos e podemos ter na nossa cabeça uma imagem de o que somos!
Uh, como você é sábia,
Kirilla !
-Obrigada, mas no
fundo, ensinamos muito uma ‘a outra, não sou só eu que ensino, eu também
aprendo, como você aprende e me ensina.
Súbitamente
ouviram um estrondo de um desmoronamento, e uma nuvem de poeira, terra, gelo e
neve se espalhou pela câmara catedrálica. Fora lá no fundo, a pelo menos
setecentos metros de distância!
-Mais um animal
caiu aqui, e pelo visto, é dos grandes !Vamos, vamos nos esconder no túnel da
saída, depressa !
As duas pegaram
suas armas e foram para o túnel.
Era uma Hiena
Gigante ! E estava tremendamente esfomeada !
Ela caíra na
armadilha natural, mas sobreviveu ‘a queda, embora tenha quebrado a pata
dianteira esquerda ao cair. Ainda assim, mancando em três pernas, era
extremamente perigosa!
-Ela é grande
demais para passar pelo túnel, então estamos seguras!
Sussurrou Kirilla.
-Mas hienas sabem
escavar...
O predador perambulava pela margem direita do
riacho, e o acampamento delas ficava na margem esquerda. Mas ele era raso e
estreito e ela poderia facilmente atravessá-lo.
Mas ela não se
atrevia a se molhar. Havia um ferimento profundo na sua perna traseira direita,
que sangrava forte, e ela sabia que molhá-lo iria doer muito.
Ela ficava
farejando, em busca de alguma presa.
-Quer carne de
hiena hoje?
-Kirilla, não seja
louca!É a maior hiena gigante que já vi ! Só duas pessoas não tem como vencê-la,
muito menos mata-la. Não é melhor esperarmos aqui no túnel?A noite os besouros
vão votar e vão ataca-la...
-Só que aí eles a
devorarão, não nós!
-Mas é loucura !
Se ela nos descobrir, vamos morrer ! Não é melhor fugirmos pelo túnel enquanto é
tempo?
-Hienas nunca são
solitárias, vivem em bando. Se esta caiu, podem ter outras lá fora, e lá fora,
sem termos onde nos esconder, será muito mais perigoso ! Olha, eu por sorte
tinha feito diversas lanças com pontas de lascas afiadas de Mamute !Podemos
atirar daqui uma delas, do jeito que os Ke Gemmar fazem! Se acertarmos, a
mataremos!
-Mas se errarmos,
a enfureceremos ainda mais e denunciaremos a ela nosso esconderijo!
As duas agora
estava diante de uma dúvida crucial: o que iriam fazer?Tentar se esconder, ou
atacar?
(Por Continuar)
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