Prosseguiram em
sua caminhada então, e notaram que o terreno ia-se elevando cada vez mais e
ficando mais íngreme.
-Estou vendo
montanhas ao longe !E são bem altas !
-Verdade, Karanna,
e onde tem montanhas, podem haver cavernas!Não estão muito longe, acho que
conseguiremos chegar nelas antes de escurecer !
-Então vamos em
frente !
Mais algumas horas
de viagem e chegaram ao sopé das montanhas.
-Vamos subi-las?
-Não, vamos
caminhar pelo meio delas, entre elas, para pouparmos esforços.
E continuaram,
contornando por entre as montanhas e já estavam com os pés doloridos de tanto
caminhar, quando finalmente encontraram uma caverna.
Não era gigante
como a outra, na verdade era curta, relativamente estreita e seu teto não era
dos mais altos.
-Será a toca de
algum animal, Kirilla?
A moça mais velha
farejou a entrada da caverna.
-Não tem cheiro
nenhum recente de nenhum animal aqui.Se é, foi abandonada faz tempo.
-É por que é
pequena, e baixa...
-Bom, se temos
dúvidas....
Kirilla pegou uma
pedra no chão e a jogou dentro da caverna.
Não se viu nada, nem
se ouviu nada. Ali tinha aproximadamente seis metros de largura, por três de
altura e doze metros de profundidade. Não haviam túneis, nem corredores, nem
outros salões.
-É, parece segura!
Vamos passar a noite aqui então. Vamos procurar lenha nas redondezas para
fazermos uma fogueira !
Saíram da região
das Montanhas, e havia algumas árvores pequenas e ressecadas na campina, onde
puderam arrumar uma boa quantidade de lenha.
Levaram para a
caverna, fizeram a fogueira e a acenderam, estenderam suas colchas no chão e
finalmente, dormiram.
No dia seguinte,
acordaram tremendo de fome!
Quando o dia
amanheceu, a fogueira se apagou, tendo consumido toda a lenha, e o frio também
era intenso.
-Karanna, vamos
indo, temos de encontrar comida!
-Mas eu nem
aguento me levantar, de tão fraca...
-Tome esta raiz,
vai te ajudar, acabei de comer minha última !
Karanna praticamente
engoliu a batata, quase sem mastigar.
-Vamos indo, vem !
E Kirilla ajudou a
outra a se levantar.
E lá se foram
elas, seguindo em frente , passando pelo meio das montanhas, usanso suas lanças
com se fossem bengalas, para se apoiarem e se manterem em pé.
Só então
perceberam que, ao fim das montanhas, tinha um vale , que durante o verão deveria
ter sido verdejante, com um rio congelado no meio, formando um corredor, já que
do outro lado do rio,havia mais uma parede de montanhas.
-Será que aqui é
onde iremos perecer, Kirilla?
-Não espere desistência
de mim, Karanna, temos de sobreviver !
-Mas não vejo
nenhum animal, nenhum, mesmo de longe!
-Muitas vezes
procuramos longe o que está perto e por isto não encontramos !
-Mas nem por
perto, Kirilla !
-Ontem também, e
estava debaixo de nossos pés !
-Será que
conseguiremos achar outro animal daqueles?
-Quem sabe?
Súbitamente
ouviram o pio de um falcão.
-Onde tem aves
caçadoras, tem comida ! Preste atenção onde ela irá pousar !
-Boa idéia,
Kirilla !
O falcão passou
por elas em alta velocidade, e, lá na frente, deu um rasante,atacando algo que
parecia invisível sob a neve,
Repentinamente,
pareceu que um monte de neve reagiu e se levantou e atacou seu algoz.
O falcão errou o
bote e caiu de baixa altura na neve fofa.
Também o volume de
neve pareceu cair de novo.
Agora, porém,
periclitantemente as duas garotas se aproximavam do incidente, e tiveram uma
surpresa, estacando imediatamente:
-Morte de Dentes
Longos !
Disse Kirilla.
Sim, era uma fêmea
Homotherium sérum, um felino dentes de sabre , de grandes proporções, um
exemplar adulto, mas em um estado tão miserável que estava quase irresconhecível:
pele sobre ossos de tanta magreza, seu esqueleto se desenhava nitidamente sob a
pele. Ela tinha usado suas últimas forças para repelir o falcão, e caíra morta
de fome. E o motivo de seu último esforço estava ali ao seu lado, também
bastante magro, e morrendo: o filhote dela, recém desmamado!
Corajosamente,
Kirilla colocou a mão na frente da boca da fera, e ela não mais respirava.
-Esta já morreu!
E depois examinou
o filhote, fraco demais para reagir.
-Este está vivo,
porém, morrendo.
-Eu não tenho
coragem de mata-lo...é tão novinho...um bebê !
-Não precisamos mata-lo,
vamos nos aproveitar da carne da outra, que acabou de falecer e tem sua carne
ainda fresca.
-E vamos abandonar
o filhote para morrer?Coitadinho...
-Olhe para a mãe
dele e veja o que ele vira quando crescer. Hoje nos alimentamos da mãe dele,
amanhã ele poderá nos devorar...
Disse Kirilla.
Porém Karanna
resolveu olhar nos olhos do filhote. E o que viu, pareceu a ela um comovente
pedido de socorro.
-Não, este nos
poupará e nos defenderá.Nos reconhecerá e será grato a nós um dia !Eu sinto
isto em meus ossos!
-Ossos não sentem,
Karanna...
-Claro que sentem,
eu vi quando um parente meu quebrou um braço uma vez e ele gritava de dor !
-Eu quis dizer em
outro sentido...
-Karajjar ! Este
será o nome dele!
-Já vi que não
conseguirei convencê-la do contrário...bom, então vamos entrar em ação. Pegue o
que achar de lenha nas imediações e traga aqui para acender uma fogueira. Vamos
depelar e tirar uns pedaços de carne
dela logo,cozinha-los e matar a
nossa fome, aí você dá uns pedaços para
ele !
-Ele vai comer a
carne da própria genitora dele?
-Ou isto, ou ele
morre, não hpa escolhas.
-É um sofredor
mesmo, Karajjar...
-Pense nisto como
a última contribuição dela para ele viver, dar da própria carne dela para ele
seguir pela vida ...
-Tudo bem !
Assim foi
providenciado.
Karanna conseguiu
achar pedaços de lenha por perto, acenderam a fogueira, tiraram vários pedaços
da pouca carne do predador, a assaram, comeram, e deram alguns deles para o
filhote.
Porém, este ainda
estava muito fraco, então Karanna pegou em sua mandíbula e fez os movimentos de
mastigar dele com a boca, e ele engoliu.
Depois de alguns
pedaços, ele foi ficando mais forte e desperto, e foi comendo sozinho.
E ele parecia
gostar das carícias e carinhos de Karanna para com ele, que cuidava dele com
dedicação. Se apegara ao filhote, era puro amor que sentia por ele!
(Por Continuar)
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