Mas o que ocorreu de mais
impressionante foi na segunda noite após a morte de Rina:
Durante a madrugada Lune foi assaltada
pelo que pensou ter sido um sonho com
ela, mas mesmo depois de muito tempo ela nunca soube muito bem o que foi aquilo, afinal.
No suposto sonho , todo em câmara lenta, se passava toda a cena da morte de Rina e então Lune sentiu como se
alguém estivesse a observando de algum lugar acima de dela.
Então a multidão desapareceu, além de Takeo e
todas as outras pessoas conhecidas à sua volta.O colégio ficara deserto, e
até o corpo de Rina tinha desaparecido.Veio-lhe uma sensação de vazio de uma
profundidade como nunca vira antes,e uma solidão tão pesada que parecia
esmagá-la sob pressão! Em sua alma ela sentia saudades, inicialmente de modo
vago, mas que posteriormente foram crescendo em ondas.A angústia a oprimia
como os vagalhões o fazem numa ressaca de mar agitado!
Só conseguia pensar em Rina, e uma
tristeza avassaladora tomou conta dela, e Lune dizia:
-Rina-san, oh, Rina-san, isto não podia ter
acontecido com você...não podia...você não merecia...o que será de mim agora?
Então, com uma piedade terna e
profunda dela,Lune não suportou mais a dor, e seu pranto convulso não parava mais,
tão convulso que ela tinha até dificuldade de respirar!
Então ela senti uma mão tocar seu ombro.
-Calma, calma, eu estou aqui...não
precisa mais chorar...
Na hora Lune pensou que fosse Takeo, e
quando olhou para baixo notou que estava sendo abraçada por trás com todo o
carinho.Olhou então para trás.
- Rina-san !
-Ah, porque esta cara de
espantada?Até parece que viu um fantasma...
Disse Rina entre risadinhas.
Ela saiu de trás de Lune e lhe enxugou as lágrimas.
-O que me aconteceu, ocorreu por
amor, Lune-san.Você estava certa quando discursou naquele dia!Aliás, foi
comovente...
-Rina-san! Isto não podia ter
acontecido...não com você! Você nem imagina o quanto preciso de ti...se não
fosse aquela...aquela...
-Shhhh...não a julgue, Lune-san, por
favor...apenas perdoe, como eu mesma perdoei à ela.É preciso compreender as
pessoas, minha amiga,saber compreende-las profundamente é o que nos torna
realmente especiais.E você sabe pensar muito bem, só precisa agora aprender a
pensar...sentindo !
-Pensar ...sentindo?
-Sim, alcançar as profundezas do seu
coração, ir ao âmago dos seus sentimentos, o centro de sua alma!Eu não posso
mais te ensinar, a única pessoa que pode faze-lo agora é você mesma.Claro que o Takeo-san vai te ajudar,
e muito, vocês ainda vão ser muito felizes!
-Ai, Rina-san, você é uma pessoa tão
boa...
-Você também, Lune-san. Não precisa ficar
triste! Como você mesma disse em seu discurso tão lindo, que tanto me
emocionou, presenteei à você com a minha vida e agora moro em seu coração,
então, estarei contigo para sempre,onde você for! Estou em boas mãos, pois sei
que você saberá cuidar muito bem de mim!
-Ah, Rina-saaaaaaaaaan! E eu a abracei forte.
-Fique tranqüila agora, Lune-san, viva a
sua vida, seu futuro, não se preocupe comigo mais. Enquanto você se lembrar de
mim, sempre viverei!
-Eu nunca vou me esquecer de você !
-Nem eu, Lune-san.Ah, eu quero ver você
feliz, muito feliz, não vejo a hora de ver a expressão de alegria no seu rosto
quando sua filha nascer !
-Filha? Mas eu sou contra o
casamento, a reprodução....
-É que você ainda é muito ingênua,
ainda tem muito a aprender, precisa aprender à pensar sentindo, antes de
compreender a beleza e a magia divinas
da Maternidade, Lune-san. Você só terá idéia disto quando ela nascer, então
agradecerá por ser mulher e ter sido agraciada com este dom maravilhoso...dom
que não pude ter e sempre quis...
Lune estava pasma:
-Você , Rina-san? Eu nunca imaginei que
você quisesse ter filhos !
-É verdade, Lune-san. Mas você terá este
privilégio, e fico muito feliz por você. Acima de tudo, estou feliz com você,
orgulhosa de você, honrada de ser sua amiga!Obrigada, muito obrigada por tudo,
Lune-san !
-Eu é quem tenho de lhe
agradecer...imagine...
-Já me agradeceu com aquele discurso
maravilhoso, com seus sentimentos tão lindos para comigo...entenda, por favor,
amar pode matar, como pode trazer a própria vida e continua-la. Como você mesma
diz, é a velha ambigüidade humana!Tudo ocorreu por amor, e o amor se fez, tinha
de ser assim...foi a minha maneira de faze-la mais feliz !
-Rina-san...oh...Rina-san... eu te juro:
Quando minha filha nascer, dar-lhe-ei seu nome
à ela!
-Então renascerei...e você terá me
presenteado novamente com o dom da vida... que lindo, minha amiga ! Mas não se
precipite, há um longo caminho pela frente! Mas fico contente, você não sabe o
quanto este gesto significa para mim, e a beleza, a profundidade da beleza
deste sentimento por detrás do seu
gesto, e o quanto me fará feliz com ele... Bom, agora é hora de você acordar!
E Lune acordou. Ou pensou ter acordado,
pois quando olhou no espelho do quarto
iluminado pela luz da lua cheia,ela viu não o seu reflexo, mas Rina, sorrindo
para ela.
Incrédula, Lune esfregou os olhos e então
viu ao lado da sua velha amiga, de mãos dadas com ela, Yurika, que, de cabeça baixa e olhos rasos disse:
-Perdoa...por
favor, me perdoa...
-Eu a perdôo.De agora em diante você
também será minha amiga,Yurika-san! Lune disse, também de olhos rasos.
-Cuida bem do Takeo-kun por mim,com todo o amor e carinho que sempre
tive por ele, por favor, Lune-san, já não posso mais faze-lo...
-Cuidarei, Yurika-san.
-Obrigada, Lune-san...muito obrigada...é
uma pena que eu não tenha podido ser sua amiga quando tive a chance, mas
desperdicei minha vida, sou uma tola mesmo,e agora...agora é tarde demais !Mas
nunca me esquecerei do seu gesto, sua generosidade...
Disse Yurika, ainda corada de
vergonha.
-Você não desperdiçou sua vida, você,
do seu modo, a presenteou ao Takeo-kun, e agora moras no coração dele e não tenho o
direito de sentir ciúmes disto...
Lune disse cabisbaixa e melancólica.Foi dolorido dizer aquilo para ela !
Yurika nem respondeu, só sorriu, um
sorriso luminoso que encheu o coração de Lune de alegria, mostrando à ela mesma o
quanto é gratificante perdoar...
-Estou orgulhosa de você,
Lune-san.Obrigada!Nunca me esquecerei de você...boa noite !
Disse, risonha, Rina, acenando um
adeus para Lune. Yurika também estava sorrindo agora, e também acenou. Então as
imagens delas no espelho foram se diluindo, diluindo, até desaparecer...
Então uma sensação de torpor tomou
conta de Lune e ela caiu na cama de novo.
Ao levantar, já era dia, e nascia um
dia lindo, com um azul tão intenso que até doía nos olhos ! Seus sentimentos eram de uma paz, um alívio,
uma felicidade tão contagiante que ela jurava que podia sentir o quentinho do
coração de Rina pertinho do seu, como se ela estivesse abraçando-a....
Sentada na cama, ainda impressionada, ela disse em voz alta:
-Pensar...sentindo !
E soltou uma risadinha...
(por continuar)
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