sábado, 25 de outubro de 2014

Sensibilidade de Viver:Ensina-me a Amar ETP -Episódio 79



-Deixe a gente fazer a faculdade primeiro e conseguirmos nossos empregos, aí nós pensaremos nesta possibilidade, obaba. Não concorda comigo, Takeo-kun?
-Concordo sim, Lune-san.
-Ah, aí está. Que bom menino ! Parabéns, minha netinha, você tem um rapaz ajuizado ao seu lado, escolheu muito bem ! E você,  Takeo-san, trate de cuidar muito bem da minha neta tão preciosa, e nunca machuca-la, entendeu?Ou eu vou ficar muito brava com você!
-Sim, obaba. Eu seria simplesmente incapaz de machuca-la!
-Fico feliz em saber disto, meu rapaz!
A conversa se estendeu e mais tarde  Takeo  subiu ao escritório com Kazuo e lá eles ficaram por horas , enquanto o pai de Lune o colocava à prova e lhe ensinava o seu ofício, e exibia para ele seus trabalhos com orgulho e prazer.Ele se deleitava em fazer isto, e Lune notou o  vivo interesse de Takeo nestas coisas e percebeu o quanto ele estava se esforçando.Ela tentou acompanhar um pouco os dois, mas logo se enfadou, achando tudo aquilo desinteressante.Ele e seu pai viraram grandes amigos, e depois das lições Takeo foi embora para a casa dele.
No dia seguinte, Lune ficou sabendo que havia se espalhado o boato de que a escola estaria mal assombrada porque ela teria visto os fantasmas de Rina e de Yurika.
Lune passou a enfrentar o olhar desconfiado de todos, e começaram a apelidá-la de “amiga dos fantasmas”. A crença  em fantasmas aqui no Japão é muito generalizada, mas Lune sempre foi uma das raras pessoas que nunca acreditou nisto.Lune acreditava que  Ruri tenha andado contando para as amigas, já que , durante a conversa do dia anterior,diante da família e de Takeo, Lune contara o seu sonho.Com exceção de Lune e de Takeo, todo os outros acreditaram piamente que ela tinha visto os fantasmas delas.
Mas Lune já estava muito acostumada a um certo preconceito das colegas, então, não ligou para os comentários maldosos.
À noite, Asuka a  chamou para uma conversa reservada:
-Lune-chan, venha cá. Sabe, eu gostei muito do Takeo-san, é um bom rapaz e vai ser um marido muito bom para você.Porém, sua mãe me contou que você ficou muito abalada psicológicamente depois que foi ver a filha da prima do Takeo-san, e sinceramente , fiquei preocupada com você. Eu a conheço desde que nasceu, e sei muito bem que você deve ter ficado muito pensativa sobre o valor da maternidade, e da importância da reprodução em si para a mulher como papel social.
Lune explicou como tinha passado a noite, e sobre o vídeo da gestação e parto.
-Eu entendi, eu entendi, Lune-chan.É um choque, mas ouça sua velha avó, que já teve filhos e netos e já cansou de criar outras gerações...o que a Madoka-san te falou quando você pegou o bebê no colo é verdadeiro, assim como o é o sofrimento no parto, especialmente se for natural, como eu acho que deva ser sempre.O que não é real é que as mulheres gostem de sofrer, como muitos homens pensam por aí. Ninguém gosta!
É preciso muito esforço para gerar um bebê , dar à luz à ele e  mais ainda para cria-lo.Não existe vida sem esforço, tudo é esforço na vida e tudo na vida só se consegue com mérito. Às vezes, mesmo com mérito, dando tudo de si pelo que se tem a fazer, não se consegue o que se quer...Mas os sentimentos de uma mãe, só quem é ou foi mãe entende. Eu perdi o seu tio Takashi quando ele tinha oito anos de idade, e você não tem idéia do sofrimento que foi. Apesar de toda a minha pobreza na época, de todo o meu esforço e o do seu  falecido avô para sobrevivermos e criarmos nossos filhos, nós queríamos o Takashi!
A dor , a dor é tão grande que, como você nunca teve um filho, não poderia nem imaginar,pois só podemos imaginar com base na realidade e nas experiências passadas.E porque tanta dor? Só por causa do instinto maternal?
Não, a maternidade vai muito além do simples instinto, e não se  limita à questões práticas de quanto esforço, quanto sacrifício se investiu na criança,nem a questões subjetivas de quanto sentimento foi investido.
Tem a ver com nós mesmas, algo da alma, algo do coração,algo de dentro da gente, muito íntimo; algo que e´preciso sentir!Um filho é o que existe de mais precioso na vida da gente, Lune-san,pois é algo que veio de dentro de nós.Durante a gestação  a criança foi crescendo dentro de nós, é como se fosse nós mesmas nascendo de novo, de dentro de nós.É claro que tem a herança do pai, mas esta é muito menor, um pai tem sempre a opção de aceitar ou não o próprio filho, mas as mães nunca têm opção alguma. Nem querem ter.Uma vez que o processo da gestação começou, ainda que no início não quiséssemos ter uma criança, o próprio processo começa dentro de nós e não pára mais.E acabamos por querer a criança ansiosamente, nos devotamos à ela inteiramente. Muitos pais pensam que os deveres para com os filhos terminam quando eles completam vinte anos (Nota do autor: a maioridade legal no Japão é alcançada somente aos vinte anos de idade) e que depois disto eles que se virem sozinhos e que os laços estão cortados.Mas estes laços nunca são cortados, especialmente entre mãe e filho, a não ser que um dos dois morra.E quando um filho morre, o rompimento deste laço, a perda deste filho é tão traumático,tão intenso é o sofrimento, que se sente que era preferível ter morrido no lugar do filho!

(Por continuar)

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