-Deixe a gente fazer a faculdade primeiro e
conseguirmos nossos empregos, aí nós pensaremos nesta possibilidade, obaba. Não
concorda comigo, Takeo-kun?
-Concordo sim, Lune-san.
-Ah, aí está. Que bom menino ! Parabéns,
minha netinha, você tem um rapaz ajuizado ao seu lado, escolheu muito bem ! E
você, Takeo-san, trate de cuidar muito bem da minha neta tão preciosa, e
nunca machuca-la, entendeu?Ou eu vou ficar muito brava com você!
-Sim, obaba. Eu seria simplesmente incapaz
de machuca-la!
-Fico feliz em saber disto, meu rapaz!
A conversa se estendeu e mais tarde
Takeo subiu ao escritório com Kazuo e
lá eles ficaram por horas , enquanto o pai de Lune o colocava à prova e lhe ensinava
o seu ofício, e exibia para ele seus trabalhos com orgulho e prazer.Ele se
deleitava em fazer isto, e Lune notou o vivo
interesse de Takeo nestas coisas e percebeu o quanto ele estava se esforçando.Ela
tentou acompanhar um pouco os dois, mas logo se enfadou, achando tudo aquilo
desinteressante.Ele e seu pai viraram grandes amigos, e depois das lições Takeo
foi embora para a casa dele.
No dia seguinte, Lune ficou sabendo que havia se
espalhado o boato de que a escola estaria mal assombrada porque ela teria visto
os fantasmas de Rina e de Yurika.
Lune passou a enfrentar o olhar desconfiado de
todos, e começaram a apelidá-la de “amiga dos fantasmas”. A crença em
fantasmas aqui no Japão é muito generalizada, mas Lune sempre foi uma das raras pessoas
que nunca acreditou nisto.Lune acreditava que Ruri tenha andado contando
para as amigas, já que , durante a conversa do dia anterior,diante da família e
de Takeo, Lune contara o seu sonho.Com exceção de Lune e de Takeo, todo os outros
acreditaram piamente que ela tinha visto os fantasmas delas.
Mas Lune já estava muito acostumada a um certo
preconceito das colegas, então, não ligou para os comentários maldosos.
À noite, Asuka a chamou para uma
conversa reservada:
-Lune-chan, venha cá. Sabe, eu gostei muito do
Takeo-san, é um bom rapaz e vai ser um marido muito bom para você.Porém, sua mãe me
contou que você ficou muito abalada psicológicamente depois que foi ver a filha
da prima do Takeo-san, e sinceramente , fiquei preocupada com você. Eu a conheço
desde que nasceu, e sei muito bem que você deve ter ficado muito pensativa
sobre o valor da maternidade, e da importância da reprodução em si para a
mulher como papel social.
Lune explicou como tinha passado a noite, e
sobre o vídeo da gestação e parto.
-Eu entendi, eu entendi, Lune-chan.É um choque,
mas ouça sua velha avó, que já teve filhos e netos e já cansou de criar outras
gerações...o que a Madoka-san te falou quando você pegou o bebê no colo é
verdadeiro, assim como o é o sofrimento no parto, especialmente se for natural,
como eu acho que deva ser sempre.O que não é real é que as mulheres gostem de
sofrer, como muitos homens pensam por aí. Ninguém gosta!
É preciso muito esforço para gerar um bebê ,
dar à luz à ele e mais ainda para cria-lo.Não existe vida sem esforço,
tudo é esforço na vida e tudo na vida só se consegue com mérito. Às vezes,
mesmo com mérito, dando tudo de si pelo que se tem a fazer, não se consegue o
que se quer...Mas os sentimentos de uma mãe, só quem é ou foi mãe entende. Eu
perdi o seu tio Takashi quando ele tinha oito anos de idade, e você não tem
idéia do sofrimento que foi. Apesar de toda a minha pobreza na época, de todo o
meu esforço e o do seu falecido avô para
sobrevivermos e criarmos nossos filhos, nós queríamos o Takashi!
A dor , a dor é tão grande que, como você
nunca teve um filho, não poderia nem imaginar,pois só podemos imaginar com base
na realidade e nas experiências passadas.E porque tanta dor? Só por causa do
instinto maternal?
Não, a maternidade vai muito além do simples
instinto, e não se limita à questões práticas de quanto esforço, quanto
sacrifício se investiu na criança,nem a questões subjetivas de quanto
sentimento foi investido.
Tem a ver com nós mesmas, algo da
alma, algo do coração,algo de dentro da gente, muito íntimo; algo que e´preciso
sentir!Um filho é o que existe de mais precioso na vida da gente, Lune-san,pois é
algo que veio de dentro de nós.Durante a gestação a criança foi crescendo dentro de nós, é como
se fosse nós mesmas nascendo de novo, de dentro de nós.É claro que tem a
herança do pai, mas esta é muito menor, um pai tem sempre a opção de aceitar ou
não o próprio filho, mas as mães nunca têm opção alguma. Nem querem ter.Uma vez
que o processo da gestação começou, ainda que no início não quiséssemos ter uma
criança, o próprio processo começa dentro de nós e não pára mais.E acabamos por
querer a criança ansiosamente, nos devotamos à ela inteiramente. Muitos pais
pensam que os deveres para com os filhos terminam quando eles completam vinte
anos (Nota do autor: a maioridade legal no Japão é alcançada somente aos vinte
anos de idade) e que depois disto eles que se virem sozinhos e que os laços
estão cortados.Mas estes laços nunca são cortados, especialmente entre mãe e
filho, a não ser que um dos dois morra.E quando um filho morre, o rompimento
deste laço, a perda deste filho é tão traumático,tão intenso é o sofrimento,
que se sente que era preferível ter morrido no lugar do filho!
(Por continuar)
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