segunda-feira, 3 de abril de 2017

Episódio 1- Minissérie- O Mundo Secreto de Kaspar Kasperger



 O Mundo Secreto de Kaspar Kaperger
(Minissérie)

Episódio 1


Alemanha, 1974:

Ah, ninguém sabia ainda o verdadeiro Kaspar Kasperger que existia dentro do Kaspar Kasperger, os dois, um público e outro privado, eram muito diferentes entre si, mas ao mesmo tempo muito iguais em muita coisa, sobretudo a Essência de Ser.
Naqueles meus saudosos tempos de menino, Kaspar viva ali, naquela pequena vila perdida no interior da Alemanha, uma cidadezinha dominada por sua Universidade, um velho conjunto de prédios em que seu pai trabalhava, perdido em meio a uma floresta de buretas, pipetas, frascos, balcões e geladeiras daquilo que na época muita gente  achava “um trabalho meio louco de cientista”.
Na verdade talvez Kaspar fosse muito mais que um simples menino, por conta do seu Mundo Secreto que ele guardava a sete chaves dentro de si, porém, não deixava de ser um menino!
-Kaaaspaaaaar ! Era o que ele ouvia sempre que ele  aprontava alguma coisa, mas seus pais sabiam sempre exatamente onde podiam  encontra-lo: na garagem de casa!
Eles achavam que ele não batia muito bem da cabeça, por ficar tanto tempo ali, de costas para eles e de frente para os carros, sentado no degrau em silêncio, com um olhar que a eles parecia perdido no nada, sozinho, isolado, parado ali por horas!
-Mas que raio de menino diferente era aquele, por que ficava todo dia daquele jeito? Porque será que ele nasceu assim?
Eles diziam um ao outro !
Na verdade isto fazia parte do seu Mundo Secreto, no entanto, numa coisa eles tinham razão: ele já nascera assim, e desde que ele se  conhecia por gente sempre foi e sempre gostou de ser assim, aquele menino obstinadamente diferente, recusando-se terminantemente a ser como todos os outros, inconvencível !
Aquela parecia uma manhã de domingo como tantas outras, e ele desceu as escadas e tomou o café da manhã correndo e foi direto para a garagem, como ele sempre fazia.
Lá ele entrava no seu Mundo Secreto e lá ele se divertia!
Naquelas dependências ficavam dois automóveis Mercedes: uma 450 SEL 6.9, verde e uma perua 280TE, marrom.
Às vezes eles ficavam para fora da garagem, no jardim, onde dava para ver os carros dos vizinhos , estacionados dos lados de minha casa.
E ele sempre teve fascinação por automóveis desde a mais tenra idade, era uma fixação, eu colecionava revistas de carros, tinha uma coleção de carrinhos de ferro, e sabia tudo sobre eles, detalhes técnicos que muito adulto nem tinha idéia, ou não se interessava em saber. Uma das coisas que ele mais adorava era percorrer as ruas da vizinhança, olhando os carros que estavam estacionados e os que  andavam por ali.
Naquele dia, como sempre, ele se sentou no degrau da soleira que separava a cozinha da garagem, e começou o seu ritualzinho diário:
- Bom dia, Bigodão !
-Ow, bom dia, Kaspar! Está um lindo dia hoje, não?
Ele olhava o 450 SEL 6.9 e o identificava com um senhor de fartos bigodes, pois ele tinha, logo acima do para choques, umas lâminas de metal com borracha, que ele chamava de sobre para choques, que pareciam bigodes do lado da boca, ou seja, da grade, e abaixo dos olhos(faróis).
-Bom dia, Teresa!
Ele agora falava com a 280TE. Ele a chamava de Teresa, por que ela tinha as letras T e E no nome e porque um dia ele assistiu um filme que tinha uma moça extraordinariamente bonita que se chamava Teresa. Como era um nome muito diferente dos tradicionais alemães, ele gostou dele e quando a perua chegou, logo a chamou de Teresa.
-Bom dia, Kaspar, como você está bonito hoje !
-Obrigado, Teresa, você é muito gentil !
-Eh, rapazinho, alto lá ou eu vou ficar com ciúmes! Ela é minha esposa !
-Deixa de ser bobo, meu bem, ele é só um menino, não está vendo? E ele não é carro como nós!
-É verdade, é verdade, criei uma situação meio constrangedora, desculpe, Kaspar!
Kaspar riu e respondeu:
-Imagine, Bigodão, fica tranquilo!
-Obrigado. bom, e aí, Kaspar, quais são as suas novidades de hoje?
Ele ia responder, mas o vizinho da esquerda tirou seu BMW da garagem e o deixou estacionado no jardim, próximos dos seus carros.
É, na verdade eram dos seus pais, mas ele os considerava seus, pois eram seus amigos de quem ele gostava muito!
-Ah, mas tinha que aparecer este bendito dentuço convencido !
Disse Bigodão, contrariado, com desprezo.
Kaspar chamava os BMW de dentuços por que sua grade parecia dois dentes incisivos salientes no meio da boca.
-Ah, qual é, ô, do bigode? Convencido é você, com esta estrela enfiada no nariz, mais parece um nariz empinado!

(Por continuar)

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