Os piratas tiveram de deixar de lutar com
Bestini, para lutar com as invasoras, e o Imediato tratou de soltar Amélie das
correntes e a carregar nos braços, procurando protege-la.
Foi quando ele se viu frente a frente com June:
-Por favor, leve-a, cuide bem dela! Salve-a, pelo
amor de Deus !
June ficou espantada com o gesto dele, mas sequer
teve tempo:
Tobias, já morrendo, mas ainda vivo, se
arrastando para fora da cabine, tinha uma pistola na mão e gritou:
-Morra, traidor desalmado !
E atirou !
O tiro acertou-o em cheio e Bestini caiu, e June
aparou a garota jogada no ar na direção dela, e o Imediato chocou-se com o chão
numa poça de sangue:
-Papai ! Papai ! Nãaaaaooooo !
Gritou Amélie, aos prantos.
Mas Bestini estava morto. E Tobias também. E eram
os dois últimos piratas a morrerem.
-Vamos embora daqui, não há mais nada a fazer
nestas paragens de morte !
As piratas voltaram ao seu navio, retiraram os
ganchos de invasão e o pranchão , levantaram ãncora e zarparam.
O Interventor, devido ao rombo no casco provocado
com seu choque na rocha afiada, começou a afundar, com seus mortos.
Enfim, o pesadelo de Amélie terminava.
Mas a culpa que ela sentia por ter odiado o único
homem que se revelou um verdadeiro pai para ela, que a cuidou, que a protegeu
como pôde, e deu sua vida para que ela pudesse viver e ser feliz, a perseguia
como um fantasma.
Ao se afastar daquelas ilhas malditas, o Black
Marlin agora navegava em águas seguras.
Amélie foi acolhida com carinho pelas garotas e
por Celine e Melissa também, que com ela se identificaram muito, por serem da
mesma faixa de idade.
Ela recebeu novas roupas e um tapa olho de couro.
Naquela noite, Amélie foi dormir na rede. Mas não
conseguia ferrar no sono.
Ela se levantou, ainda de camisolão, no meio da
madrugada e subiu ao tombadilho naquela noite de Lua Cheia, e murmurou:
-Bestini, oh, Bestini...papaizinho...nunca vou me
esquecer de você...eu...eu te amo !
Ela olhava o mar, do parapeito, e então, uma
imagem algo leitosa se formou na água, e tomou
uma forma humana.
-Papai !
-Sim, filha, eu não estou mais vivo, mas não
temas...eu também te amo, minha filha, e estou muito feliz por agora você estar
em segurança e cercada de amor e carinho como você merece !
-Obrigada, papai, muito obrigada, eu...eu nunca
vou me esquecer de você, o único homem que nunca me fez mal, nunca fez maldades
comigo...vou sempre te amar, eu juro...
-Eu também, minha filha, agora que não estou mais
entre os vivos para poder cuidar de você, cuide-se, por favor e viva, viva
muito e seja muito feliz !Agora preciso ir...
-Papai, ai, papai...vou ficar com tantas saudades...
-Olhe em seu bolso nas suas roupas. Lá tem um
lencinho que bordei para você, nunca o perca, guarde sempre consigo, para que
sempre se lembre de mim...Adeus, filha...Te amo !
-Adeus, Papai....te amo, te amo muito...
E a imagem desapareceu.
Amélie chorou copiosamente, com as mãos no rosto.
Voltou para sua rede, e procurou nas sua roupas e
encontrou o lencinho, dobrado com cuidado. Abriu-o. Havia uma inscrição nele:
“De Bestini para Amélie, com amor, carinho e
devoção,para sempre se lembrar de mim. Assinado:Papai !”
As lágrimas não paravam de escorrer pelo rostinho
delicado de Amélie, de seu único olho.Ela abraçou o lenço e o colocou junto ao
coração, e o sentiu reconfortado e quentinho.
Depois de muito chorar, dormiu, lembrando do
sorriso amável e franco de seu pai adotivo, que ela nunca mais em sua vida
esqueceria...
(Por continuar)
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