sábado, 7 de março de 2015

O Presídio-Episódio 42



Depois de muito trabalho, a mudança estava feita, e agora eles estavam melhor acomodados.
Também eu e minha esposa no mesmo dia nos mudamos para nossos novos aposentos, parecidos com os que 133144 e 500800 obtiveram, e enquanto eu e ela arrumávamos nossas coisas, 133144 levava sua esposa para exames no Curatório, conforme ele me disse que faria quando me despedi dele.
Assim, só nos vimos no dia seguinte, depois do meu expediente no DIIS.
-Somos vizinhos agora, não, 100169?
-Sim, somos.
-Está gostando de trabalhar na DIIS?
-Tem seu lado bom, e seu lado ruim. Na verdade a função do meu departamento é de punição de quem quebra as regras. Eu nunca fico diretamente envolvido nestas coisas, mas fico horrorizado de escutar os gritos de dor dos torturados e as gargalhadas sinistras da minha assistente enquanto tortura.
-É, ela é uma mulher má mesmo, mas vivemos uma ditadura. Você agora já sabe o que é uma ditadura, não?
-Sim, sei, não tenho como lhe agradecer ter me feito ler tanto lá na Biblioteca!
-Imagine, 100169 !Eu temia que você se corrompesse pelo exercício do Poder.
-Não, acho que tenho uma natureza humana parecida com você, pois nunca gostei destas coisas.
-Pois é, eu sei, já te conheço bem. Mas amanhã eu terei de passar a trabalhar no meu escritório, e isto não me agrada em nada. Penso que o Diretor me colocou neste cargo para me afastar da Biblioteca e evitar que eu conscientize os prisioneiros.
-Não podemos subestimá-lo, 133144! Ele é extremamente inteligente !Você percebeu que ele me colocou nesta posição de propósito, não? Se você conscientizar os prisioneiros, meu departamento terá de tortura-los e prende-los nas solitárias, ou até mesmo mata-los !
-Ou seja, ele está colocando a mim contra você e vice-versa. Sim, percebi, e já estou pensando na próxima jogada. Mas não será tão fácil, por que na minha posição atual como Vice Diretor, o povo  daqui me odeia, e eu estaria numa posição extremamente contraditória e hipócrita, se eu insuflasse o s prisioneiros. No mínimo, não acreditariam em mim.
-Mudando de assunto, 133144, bom, você pela sua idade é uma criança. Sempre notei que você foi sempre muito precoce em relação à outras crianças e percebi que, diferente delas, você nunca gostou de brincar com elas, aliás, nunca o vi brincar.Eu olho a elas e te olho e você simplesmente não parece uma criança, mas um adulto em tamanho miniatura, pois sua mente é de adulto. A impressão que tenho é a de que você seja uma mente de adulto presa no corpo de uma criança. O que você acha das minhas observações?
-Sabe que eu nunca tinha reparado nisto, 100169?Sim, você levantou uma boa questão. Eu nunca me vi como criança, nem nunca me identifiquei como uma.E nunca gostei de brincar e também nunca fiz questão de ter companhia, apesar de hoje em dia eu ter a da 500800 e a sua. Eu preciso parar para pensar qualquer hora para refletir sobre tudo isto !
De repente nossa conversa foi interrompida pela temida assistente de 100169, que acabara de chegar:
-Cidadão 1, o senhor está sendo convocado para uma reunião com o Cidadão Zero !
-Bom, agora saberemos o próximo passo dele !Vou indo então, até mais 100169 !
Como sempre, o encontro foi mostrado nos telões do Presídio:
-Sente-se, Cidadão 1, seja bem vindo !Vamos continuar nosso jogo de xadrez?
-Você me chamou aqui apenas para jogar?
-Não exatamente, não só para isto, mas de certo modo, em certo sentido, sim!
Enquanto conversavam, iam jogando.

(Por continuar)

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