segunda-feira, 16 de março de 2015

O Presídio- Episódio 45



Logo voltei ao gabinete de 133144, e entreguei o precioso livrinho de Regras de volta para ele e mostrei os carimbos.
-Aprovadas !
-Muito bom, 100169 !Muito obrigado! Pode se retirar!
500800 abriu a porta para mim e voltei para meus aposentos, onde transmiti, com alegria, para a minha esposa, as novidades, em especial o fato de a reprodução não precisar mais ser artificial, nem precisar de autorizações e processos longos e complicados.
Ela ficou exultante e me beijou fortemente.
No dia seguinte, resolvi caminhar pelo Presídio antes de ir ao trabalho.
Tímidamente alguns presos tiravam seus tapa olhos e ficavam tontos, desacostumados que estavam em poder ter uma visão ampla e receber uma enorme quantidade de luz nos olhos, e pareciam perdidos, desorientados.
Passei pelos aposentos de 133144 e 500800, onde também eles saíam de seus aposentos para uma caminhada matinal, depois de tomar o café da manhã, que era entregue pelos internos entregadores, como em todas as refeições do dia.
Caminhando com eles, percebi então grupos de senhores e senhoras que estavam por completar sessenta anos de idade cumprimentando 133144, dizendo a ele que tinha salvo a vida deles e o agradecendo com lágrimas nos olhos.
Também 133144 ficara emocionado e , humilde, apesar de seu uniforme  pomposo, sorria e abraçava a todos e a todas retribuindo-lhes as gentilezas e cumprimentos.
Agora eu entendia por que ele fizera as novas regras: ele começava a se popularizar entre os prisioneiros e ser amado por eles.
Passamos então em frente à biblioteca, e, aos poucos, algumas pessoas lá entravam e começavam a ler: a conscientização das pessoas começava, sem que fosse necessário convoca-las ou obriga-las. Eram gestos espontâneos movidos pela curiosidade .
Os dias e semanas iam-se passando, e os ventres da minha esposa e de 500800 iam se avolumando, com o avançar de suas gestações.
Agora a Biblioteca era um lugar popular, e 133144 foi criando regras que criavam escolas para professores de Literatura e de Filosofia, para que os novos cursos fossem implantados.
Repentinamente, com meu olhar perdido, notei que faltavam alguns tijolos nos muros do Presídio e fui conversar com 133144 no gabinete dele.
-É simples, meu caro amigo. À medida que as pessoas vão se conscientizando, o Presídio que construíram em volta de si vai desaparecendo, e como cada pessoa é um tijolo, que compõe esta edificação, a cada pessoa que se esclarece e ganha conhecimentos, um tijolo do Presídio também  desaparece!
-Então um dia nosso Presídio vai desaparecer?
-Sim, irá, 100169.
-Mas, como viveremos sem ele?
-Ah, como é perigoso libertar um povo que ama sua escravidão...
-Maquiavel?
-Isto mesmo, tens aprendido muito, meu amigo. É por isto que optei por esta conscientização passiva, sem revoluções, sem alarde, sem palavras de ordem. Estou deixando o povo pensar por si mesmo e ter opinião própria. Quando o Presídio se for, já estarão conscientes o suficiente e aptos para viver sem o Presídio. Eles inconscientemente e espontaneamente irão aspirar pela liberdade!
-Ainda não consigo imaginar como conseguirão viver sozinhos, em Liberdade, que , para mim ainda é uma idéia um tanto abstrata e estranha!
Talvez seja, porque, como dizia Rousseau, você esteja se tornando um homem natural, e assim, não consegue prever o futuro!
-É, pode ser...ops, a minha assistente vem vindo, hora de voltar ao meu escritório.
Eu disse, olhando pela tela de vigilância da porta do escritório.
-Vai lá então !

(Por continuar)

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