No dia seguinte, eles zarparam com o naviozinho,
pouco maior que um bote grande e com apenas uma vela e foram para a ilhota.
Lá arranjaram um bom lugar para atracar.
-Fique atrás daquelas palmeiras, Imediato, de
costas para mim, até eu mandar!
-Sim senhorita, Capitã !
June então se desnudou e caiu na água. Ali a
praia era rasa e ela caminhou até a ‘agua chegar na altura de seus ombros, Só
então gritou:
-Pode vir, Marujo !
Harry também se desnudou e caiu na água, e logo
começavam as aulas de natação.
Ele foi o tempo todo respeitoso para com ela, e
conseguiu, todos os dias, por meses, ensiná-la sem tocar um só dedo nela.
Por fim agora June já nadava como peixe e tinha
bom fôlego inclusive para mergulhar. Sabia boiar e até conseguiu nadar bem em
águas mais profundas.
Terminada esta fase, ao por do sol, depois do
último dia de treinamentos de natação, eles conversavam na amurada do quebra
mar do Porto:
-Finalmente você já está quase pronta, Capitã !
Agora só falta eu te ensinar a atirar com armas de fogo !
-Mas Imediato, estas armas são muito caras !
-Eu sei Capitã, mas eu tenho um par de velhas
pistolas, que guardo há muitos anos, com muito carinho.E será com elas que te
ensinarei a atirar !Daqui a alguns meses você completará treze anos e minha
missão terá terminado.
-Marujo, eu sentirei muita falta de você na minha
vida, velho amigo...
-Eu também, Capitã, mas somos como as gaivotas:
temos de aprender a voar e quando aprendemos, temos de saltar do ninho e alçar
nosso primeiro voo, e uma vez que se voou, a missão dos pais terminou, pois
agora a pequena gaivota já é capaz de voar sozinha. Se os pais a deixarem ficar
no ninho para sempre, ela nunca aprenderá a voar, e seus pais ficarão velhos e
não conseguirão dar peixe no bico , nem defende-la para sempre, este é o
destino da vida,filhos são feitos para voar ao por do Sol dos Pais...e o dia de
sua liberdade, será para a pequena gaivota , seu nascer do Sol, e ela crescerá
forte e feli e se lembrará de tudo o que lhe foi ensinado. Um dia a pequena
gaivota será uma grande gaivota, vai ter filhotes e um dia também ela terá de
se despedir de suas pequenas gaivotas, como ela mesma fora outrora, este é o
velho ciclo da vida,de nossas vidas, que temos a enfrentar! Doravante será teu
Dia de Liberdade, um dia que jamais se esquecerá, neste dia e para sempre,
lembre-se por favor deste velho lobo do mar que tanto se afeiçoou a você e que
se dedicou a seu pai e depois a você, por toda a sua vida, eu também jamais a esquecerei !
June olhou para o velho pirata:os olhos dele
estavam rasos de emoção e aquele olhar ela jamais se esquecia por toda a vida
dela.
Ela o amava, o amava muito , pois ele foi o pai
que nunca tivera, pois o pai verdadeiro nunca cuidou dela quando ela precisou.
Mas toda vez que June precisava, ou corria
perigo, lá estava ele para protegê-la. Depois que ficou muito velho, ela o
protegia usando a espada do pai.
Ela o abraçou com ternura e o deixou acariciar
seus cabelos ruivos como sangue, como fogo. E como fogo sua determinação se
incendiou, e ela se dedicou com muita garra nas últimas lições do velho Harry.
No dia anterior ao seu aniversário de treze anos,
June o chamou para um passeio em seu naviozinho.
Harry ficava de pé no pontal do barco, e então
ele abriu os braços e disse:
-Muita gente acha que ser pirata é ser um bandido
do mar, é ser um simples marujo que rouba e mata, mas este não é o verdadeiro
espírito pirata !Capitã, por favor, sede generosa com teu povo, não roubes e mate
só para ficar rica, não faças da tua ambição teu objetivo na vida: não te
esqueças de teu passado, fique apenas com o que precisar,o resto dê para as
pessoas pobres de nossa cidade. Sejas generosa com quem fez de você o que você
é e será, sede agradecida !Esta é a verdadeira nobreza de um Capitão !
-Sim, Imediato, serei! Mas é este o verdadeiro
espírito da Pirataria que falavas?
-Não, Capitã! O verdadeiro espírito do Pirata
está nos ventos, no seu navio, no mar, no céu...é a liberdade, Capitã ! Liberdade
de viver o Mundo, viver o mar, de abraçar o mundo tão gigante assim !É se
sentir tão grande quanto o Mar !
Esta fora outra cena que June jamais se
esqueceria, e aquelas palavras calaram fundo em seu coração. Ela não sabia, mas
talvez pressentisse, que aquela seria a última lição que receberia !
(Por continuar)
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