-Mas tudo na vida tem limites, nós somos limitados mesmo...
-100169,quem comanda o movimento dos dedos da mão?
-É o Cérebro, oras.
-Tudo bem, mas de que jeito a nossa mente em nosso cérebro se
manifesta?
-Ih, agora foi demais para mim...
-A nossa Vontade.É nossa vontade que nos manda abrir e fechar a
mão para esmagar o passarinho.
-Mas se a mão é a Sociedade,e os dedos são as grades, então o que
é a Vontade?
-Nesta analogia, meu amigo, vocês guardas são os olhos que vigiam
, mas o Diretor é a Vontade.É o Poder que é a Vontade da Sociedade, aquele
responsável pela criação das Regras e por fazer
de nós o que somos.Mas o grande
contra senso é que a Vontade é a Prisioneira de sua própria Ditadura.Ao impor
as Regras e confinar seus habitantes, esmagá-los e transformar os passarinhos
em bagaços mortos que não mais vivem, apenas existem,a própria Vontade da
Sociedade, ou seja, o Poder, aprisiona-se a si mesma em suas próprias Regras e
confina-se em seu próprio Presídio.Isto por que o Poder torna também ele um
bagaço de passarinho, e está tão morto quanto a própria Sociedade que
escravizou.
Então olhei para o horizonte,
o deserto sem fim, e fiquei a contemplar o Sol em todo o seu esplendor,
enquanto 133144 libertava o pássaro, que saiu voando sem destino enquanto o
garoto descia as escadas e ia embora..Não, pensei comigo, não era sem
destino.Ele tinha um,ele tinha para onde ir,sabia para onde queria ir, e
vivia,vivia...aquilo era mesmo a Liberdade, e como é linda a Liberdade... eu
sentia como se asas tivessem sido abertas dentro de meu Ser, de meu viver,e
coloquei a mão no meu coração e o sentir bater...apesar de preso dentro do meu
corpo,de onde não poderia sair, pois senão eu não poderia mais viver, mesmo
assim sentia que ele tinha asas e as querida abrir, voar, voar, nascer como
Sol...definitivamente, depois daquela manhã gloriosa, eu nunca mais seria o mesmo!
Lágrimas de meus olhos desceram novamente...como pude ser tão
limitado?
Nunca mais fui a mesma pessoa...
Solicitei para, e consegui, ficar o dia todo na torre de vigília.
Mas meus olhos não estava
fixados nos presidiários como deveriam , pela minha profissão, mas no céu azul,
no infinito, que de vazio nada tinha, e sim, uma grandiosidade espetacular!
Comparando-me ao mundo,eu me sentia pequeno diante
dele.Minúsculo.Mas súbitamente, eis que me sentir pequeno me fez sentir bem.Era
confortável, aconchegante, seguro.Fez-me lembrar a criança que 133144 é, e que
eu nunca pude ser.
Criado desde pequeno para ser um Guarda, não tive infância.
E na mesma velocidade do fluxo da minha memória, minhas lágrimas
desciam cristalinas pelo rosto e se misturavam ao meu suor.E brilhavam ao Sol, levadas, leves,
pela brisa que insistia em não as secar.Elas eram manifestações do meu viver,
sentimentos que escoavam do coração através dos olhos, que graças ao 133144,agora
enxergavam mais longe!
Encorajado pela sabedoria do garoto,eu podia agora vislumbrar um
novo mundo, um mundo inteiramente deslumbrante, que só os livros mesmo poderiam
me proporcionar,uma dimensão totalmente nova, um mundo de conhecimentos que eu
jamais supunha que existisse,pois cego estava pelas Regras.Um mundo vasto,
infinito,de espetacular beleza, que despertava em mim, tal como um Sol nascente
a raiar, a Sensibilidade...
Eu não era Limitado, afinal!
Cheguei então a conclusão de que limitação é algo que nós mesmos
embutimos em nossas mentes quando não queremos conhecer a realidade do que
somos,e de quando admitir para nós mesmos que somos muito mais belos e fortes
do que julgamos ser,eis que pois que todo auto julgamento nos veda o nosso
verdadeiro potencial, nos nega todo um vasto, vasto mundo incrível de
capacidades, conhecimentos e possibilidades, nos nega e nos cega na ignorância
da conformidade, que nos ilude, levando-nos a pensar que somos muito menos do
que realmente somos.
(Por continuar)
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