Assim, no mesmo dia, passei a ficar encarregado de vigiar somente os dois, e não
precisava mais percorrer o Presídio inteiro em rondas intermináveis como antes.
Tinha acesso agora a todas as câmaras escondidas e a todos os
microfones.
Mas ainda não seria tão cedo que eu viria a vigiar os dois.
Um anúncio se fez nos alto falantes de todo o Presídio:
-Atenção, todos os presidiários,o Dia da Liquidação Anual dos Inválidos chegou.Todos os que forem
completar sessenta anos de idade dirijam-se à Sala dos
Inválidos para assinar sua prescrição.Lembrando que quem se opor à
Liquidação será dirigido para o Departamento de Torturas Gerais!
O Dia da Liquidação Anual era o dia mais terrível do ano do
Presídio.Uma regra estabelecia que, com excessão única do Diretor, todos os
cidadãos tinham a validade de suas vidas prescritas ao completar sessenta anos
de idade e seriam mortos em massa.Todas as pessoas de ambos os sexos, que
naquele ano fossem completar esta idade, fosse este aniversário antes ou depois
do dia marcado, desde que fosse naquele ano,tinham de morrer.
Eram todos conduzidos para uma sala no subsolo, a Sala dos
Inválidos, onde tinham de assinar um documento que atestava que seu prazo de
validade como pessoa humana e de sua vida tinha vencido e prescrito, e depois
suas roupas eram retiradas e recebiam algemas com correntes nos pulsos e nas
pernas, acorrentados em fila um atrás do outro e elevados ao centro do pátio
principal, onde , de uma comporta no solo, saía uma máquina gigantesca, com
vidro transparente, onde as pessoas tinham suas algemas e correntes retirados,
assim como seus tapa olhos e depois eram levados por uma esteira rolante para
dentro da máquina, que moía as pessoas ainda vivas, e o sangue era separado do
bagaço do corpo, que era triturado até virar farinha, que seria depois
utilizada(secretamente,apenas os guardas tinham acesso a esta informação
secreta) na ração dos prisioneiros , como comida.
Os guardas tinham de escoltar os inválidos para dentro da máquina.
Se algum inválido ou parente de inválido protestasse ou
resistisse, seria torturado,dependendo da gravidade do delito, que seja o
tamanho de sua resistência,até a morte.Se bem que se fosse um inválido, seria
até a morte de qualquer maneira.
Eu já assistira a algumas dezenas de execuções em massa destas, e nunca
gostei de ver estas coisas. A máquina girava lentamente, e cada pessoa começava
a ser moída pelos pés, depois pernas , tronco e cabeça, e levava cerca de suas
horas para ser moída inteira, e mais uma hora para se transformar em farinha.Podia-se
ouvir as pessoas gritando de dor e sendo cruelmente esmagadas pela máquina impiedosa.O barulho dos
ossos se partindo era também amplificado
pelos alto falantes da máquina de forma perturbadora.
A execução era pública e todos os detentos eram obrigados a se
reunir em volta da máquina e assistir.Quem fechasse os olhos, tampasse os
ouvidos ou tentasse ir para outro lugar era espancado pelos guardas até que
voltasse a assistir.Choro também era punido com solitária.
Mas a turba parecia gostar de ver tudo aquilo e ainda aplaudia e
vibrava com cada osso quebrado.E eles diziam gostar por que era a única
diversão deles por ano, algo que quebrava a dura rotina de não ter nada o que
fazer, já que, a não ser para os detentos que já nasceram com esta incumbência,
executada por gerações e gerações da mesma família, era proibido aos
presidiários comuns trabalhar.
Então, os serviços essenciais para as pessoas eram prestados
sempre pelas famílias designadas, como lavar, passar roupas,cozinhar e
outros.Eu mesmo descendia de gerações passadas de guardas.Havia uma escola no
Presídio, onde as crianças aprendiam a
ler e escrever, e tinham de decorar uma cartilha com as principais Leis e
Regras que o Diretor achava que deveriam saber, a Cartilha Restrita de Leis e
Regras.Somente administradores e guardas tinham acesso à esta
classe de prisioneiros, e tínhamos,nós guardas e adminstradores,uma escola
especial só para nós.
(Por continuar)
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