terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O Presídio- Episódio 10



A conformidade é o estado em que nossas possibilidades de estado estavam até que elas acontecessem,e o limite são as possibilidades adormecidas dentro d nós, para as quais só precisamos abrir os olhos e despertar  desta terrível ilusão chamada Realidade Concreta.
Pois na verdade a Realidade vai muito além do que pensamos dela...
Naquele mesmo dia, minha esposa veio me trazer minha refeição.
Despejei sobre ela um olhar doce e afetuoso e acariciei seu rosto com a delicadeza de quem acaricia um filhote de passarinho.
Ela deixou a refeição sobre a mesa, e conseguiu me olhar da mesma maneira.A meiguice e a doçura  esvaíam-se em seus olhos na forma de lágrimas e palavras eram desnecessárias.
Abracei-a fortemente e entrei súbitamente em um choro convulso, entrecortado por soluços, que eu não sei de onde vinham, mas que tomavam conta de meu Ser, minha alma, meu coração e fiquei ali, por minutos,enquanto ela acariciava gentilmente nossos cabelos.
Parecia que todos aqueles anos de ausência na presença agora cobravam sua dívida.Tantos anos casado, apenas mal se vendo, mal conversando algumas palavras, apenas vivendo juntos...não, não vivíamos juntos, existíamos juntos, só isto...agora é que estávamos aprendendo a viver juntos e a amar,e toda aquela rotina chata e aborrecida, o vazio que nossas vidas eram desde o nascimento, estava se preenchendo como um copo que transborda!
Eu nunca tinha reparado a maciez da pele dela, a sensação morna e reconfortante de sentir o  macio dos seios dela firmemente apertados contra o meu peito...ruborizei, e uma leve vergonha tomou conta de mim,como nunca tinha tido antes, e, o que seria aquilo afinal?
Mas logo passou, tomei coragem e a beijei, e agora parecia que dois mundos estavam em contado,inundando um ao outro de sentimentos e sensações doces e extasiantes.
Naquela mesma tarde, ali mesmo na torre, deitados no chão, fizemos amor gloriosamente, contrariando todas as regras do Presídio.
Mas o que não sabíamos eram as consequencias dramáticas que adviriam mais tarde...
No dia seguinte, fui chamado 'a Sala do Chefe dos Guardas, que me disse que outro guarda que estava em outra torre me viu cometendo violações às regras.
Levei uma dura advertência e fui preso, para ficar dois dias na Solitária, como punição, e na saída,fui novamente advertido que se eu cometesse alguma outra transgressão,seria destituído do meu posto de Guarda,e viraria prisioneiro comum,e também de que, a partir daquele dia, eu estava proibido de servir nas torres de vigília.
Logo depois da segunda reprimenda, voltei ao meu trabalho usual.Durante minha estadia na fria e escura solitária, que ficava no subsolo do Presídio,pensei muito na possibilidade de pedir minha resignação de meu posto e voltar a ser um prisioneiro comum.
Mas então pensei em 133144 e em 500800, e cheguei à conclusão de que também eles estavam transgredindo muitas regras, de que não tardaria a eles serem punidos, e de que eles estavam assim sujeitos a punições piores do que as que poderiam acontecer comigo, e de que era melhor eu permanecer como guarda, para acobertar as transgressões deles e poder proteger os dois o máximo que eu pudesse,pois era melhor que eu fosse punido do que eles,para garantir a sobrevivência deles.
E assim procedi.
Como guarda, eu tinha livre acesso aos processos que ocorriam no  Presídio, e sabia que vários processos perigosos já corriam contra os dois, principalmente para o 133144, e descobri que, no momento estavam procurando um "tutor judicial de vigília dedicada" para o caso dos dois, e que iria ser um só para os dois.Imediatamente me candidatei ao cargo, e como os meus relatórios sobre eles eram os que mais apareciam,conquistei este cargo.O Tutor Judicial de Vigília Dedicada era um cargo em que um guarda se dispunha a vigiar somente um suspeito, ou os suspeitos de um Processo de Transgressão de Regras e Leis até o final do Processo.

(Por continuar)

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