sábado, 17 de janeiro de 2015

O Presídio-Episódio 1





 

 

O Presídio




Episódio 1

Voa, voa,
Pássaro do Pensamento,
Liberta das grades ,
Teus sentimentos,

Eis que  toda prisão,
Em toda sua opressão,
É frágil e refratária,
Desafiá-la,
Ó, atitude temerária!
Posto que a pior penitenciária,
É estar confinado em si mesmo,
Pois presos só estamos,
Quando não percebemos,
Que não é nossa voz autoritária,
Que nos oprime,
Posto que toda dor exprime,
Nossa ânsia de liberdade,

É a nossa inconsciência,
De ignorar o que há por trás
De nossos próprios muros,
Que construímos para nós,
Que nos reprime,

Voa, voa,
Pássaro da Liberdade,
Suba para além de nossas próprias grades,
Descobre este novo mundo que é teu,
Liberta-te de si mesmo e vai,

Só serás realmente a ti mesmo,
Ao descobrires,
Que ao voar,
Cresceste,
Para seres teu próprio Sol
E brilhares !

Era um prédio todo cinza, em matizes de cinza escuro e tons ainda mais escuros.Labirinto de concreto e ferro, com incontáveis celas a perder de vista, e incontáveis prisioneiros a habita-las.
Dos muros altos a ponto de se ficar tonto ao tentar achar  toda a sua altura,estendia-se aqui e ali torres de vigília, mas , curiosamente, estas  só tinham janelas  voltadas para dentro da penitenciaria.
Não se sabia onde o presídio ficava, mas era dito a todos que ficava no meio de um deserto, e que não havia nada lá fora para se ver.
Cada prisioneiro tinha na cabeça tapa olhos estranhos, que so´deixavam os internos  olharem para uma única direção, direto em frente.
O mais inusitado, porem, e´que os guardas também tinham estes tapa olhos.
Havia o gabinete do Diretor, mas ninguém sabia onde era e quem seria esta pessoa.
Os guardas se vestiam de preto, os internos, de cinza.
Todos eram chamados por números,e o meu era Cidadão Guarda 100169.Todos eram quietos, muito pouco se conversava, e em ultima análise, não havia o que se conversar.Apenas uma perene rotina de vidas iguais.
Um dia, fui chamado para ir atender a uma cela. Uma reprodutora tinha dado a luz a um novo prisioneiro, e no relatório do caso era afirmado que o novo interno tinha recebido, por alguma razão a ser investigada,um tapa olhos defeituoso.
Quando cheguei a cela que procurava, encontrei a cidadã reprodutora 967133 com seu filho no colo.Eu tinha trazido comigo o protocolo de entrada do filho dela, que certificava que ele se chamaria 133144.A razão era simples: ele era filho dos cidadãos 1707144 e 967133 e  o Regulamento determinava que , na hora de se estabelescer um novo numero para um novo cidadão, deveria-se usar os três últimos números do cidadão reprodutor masculino, e acrescentar então os três últimos números da cidadã reprodutora feminina.
-Este então e´ o 133144?
-Sim, senhor Guarda.
-Ele recebeu um tapa olhos defeituoso?
-Sim, senhor Guarda.Há um defeito nele, que faz com que um cantinho de cada olho não esteja coberto.Então ele enxerga um pouco mais do que deve.
-Entendi.Vou encaminhar o processo para a solução do problema.Levarei o protocolo para que seja arquivado, carimbado, então ele seguirá para o setor de cópia, onde será homologado, e será despachado um auto de investigação, que será  confrontado em análise com todos os documentos devidamente  carimbados, homologados e reconhecidos legalmente, então sairá uma ordem de investigação que será analisada, e se aprovada,será carimbada, homologada e reconhecida,então ela dará entrada a uma ordem de escolha dos cidadãos investigadores, e depois de todo o processo de arquivamento, carimbação, homologação e reconhecimento,será despachada uma ordem oficial de autorização dos cidadãos investigadores escolhidos, que depois de transitado todo o processo, ira iniciar a investigação.Uma vez terminada a investigação, o relatório será examinado por cinqüenta repartições competentes e hierárquicas, ate´chegar ao gabinete do Cidadão Diretor Zero.Então ele despachara uma solução para o seu caso, que percorrera todo o caminho de volta, por cerca de sessenta instâncias e então receberás a ordem e as instruções pormenorizadas de como proceder.
O bebê estava no peito da reprodutora, mas ainda assim,enquanto eu falava, ele conseguiu me ver. Estranhei muito.O olhar dele era  de uma curiosidade intrigante.Resolvi então que eu deveria acompanhar pessoalmente o caso deste menino, que parecia ter alguma coisa diferente dos outros.

(Por continuar)

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