sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Presídio- Episódio 21




-Você tem razão, querida! É hora de partirmos e enfrentarmos a Realidade que deixamos para trás!
Disse 133144 com convicção.
-Pois bem, então vamos lá ! Alguém aqui sabe o caminho de volta? Nunca mais passamos em frente ‘a porta enquanto tivemos aqui, depois que chegamos.
-É mesmo,100169, eu não tinha pensado nisto...
Disse 500800, com uma ponta de decepção.
-Nós vamos encontrar esta porta, querida, pode deixar!
Exclamou 133144 com confiança.
-Só quero ver de que jeito!
-Fica tranquila, amor, nós acharemos, confie em mim, vamos embora logo !
500800 lançou um olhar triste para a câmara do rio. Um pedacinho dela ficara ali, um filho muito querido e desejado que não tivera oportunidade de nascer. Uma vida desperdiçada, jogada fora. Ela culpava a si mesma ainda, depois de tanto tempo, e não se conformava, posto que seu trauma lhe gritava à consciência, não dava para entender como seu corpo podia rejeitar o que sua consciência queria.
Seria a ditadura do Inconsciente? Ela se perguntava, angustiando-se em um mar de dúvidas, inseguranças e incertezas, enquanto caminhava no escuro com seu marido e comigo. Até que não suportou mais e revelou a nós tudo o que lhe afligia, em detalhes.
133144 a ouviu atentamente e esperou à ela falar até o fim, para depois a abraçar sem dizer palavra.
Ambos choraram um no ombro do outro e só depois de algum tempo, e de um terno beijo na boca, eles voltaram a caminhar em silêncio, enquanto ele pensava numa resposta.
Penso eu que talvez a maior dificuldade para responder é o fato de ele, como eu, ser homem, e não saber nada dos sentimentos que permeiam a gestação, nem ter experiência do que é ser mãe e seus sonhos.
Mas 133144 era uma criança admiravelmente inteligente e não demorou mais que algumas horas para dar uma resposta enquanto nós três caminhávamos.
-Querida, ao relembrar ,das minhas leituras, os muitos casos de doenças psicossomáticas, eu acredito que sim, nossos corpos tem vontade própria, diferente daquela de nossas mentes. E acredito que nossos corpos sejam sim influenciados pelo nosso Inconsciente. E você sabe, a vontade de nosso Inconsciente quase nunca é a mesma da nossa Consciência.
-Mas então meu próprio corpo é meu inimigo? É meu opositor? Como posso eu lutar contra as vontades do meu próprio corpo?
-Não, querida, não creio que se trate disto. Sabe, li em um livro que éguas abortam quando estão em uma situação de penúria , de falta de comida, ou numa situação em que um nascimento colocaria em risco sua sobrevivência.
-Mas eu sou humana, não equina!
-Claro, amor, mas muitas coisas que se aplicam à outras espécies, se aplicam à nossa espécie também .
-Ainda não entendi, querido...

(Por continuar)

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