-Sentem-se !
Não deixava dúvidas ele de que se tratava de uma ordem, não de um
pedido.
Nos sentamos nas cadeiras.
Imediatamente percebemos que a cadeira dele estava num ressalto
que a deixava acima do nível das nossas, o que o fazia parecer ainda mais alto.
Não nos atrevíamos a lhe dirigir a palavra, não obstante ele
exibir um leve sorriso de malícia incontida.
No entanto estava claro que ele sabia que estávamos ali comedidos
e dominados, e tudo ali conspirava para que nos sentíssemos submissos e
humildes, a sala inteira parecia crescer e nos diminuir perante ela!
Então ele começou a falar:
-Sejam bemvindos aqui, 133144 e guarda 100169.Podem se referir a
mim como Vossa Senhoria, assim me respeitarão como é devido e esperado de
vocês.
-Sim, Vossa Senhoria! Dissemos em uníssono.
-Muito bom, gostei de ver, rapazes !É assim que se fala! Mas vamos
lá, não sou de delongas e gosto de ir direto ao assunto: Eu sei tudo o que
vocês dois e a prisioneira 500800 fizeram o tempo todo. Sei onde vocês se
esconderam por um mês, e sei tudo o que fizeram durante todo este tempo. Sei
igualmente, e muito bem, 133144 de suas incursões à Biblioteca, o que leu e o
que os outros leram também, assim como sei que foi você que os levou lá e os
levou a ler contigo. Então, vocês podem estar se perguntando: porque não foram
punidos, por que não mofaram o resto da vida de vocês nas solitárias, por que
não foram executados. Eu lhes respondo: por que eu não quis. por que, 100169, o pai que conheceste na sua
vida nunca foi seu pai biológico. Como não? Simples, fui eu quem doei o sêmen para inseminar o óvulo de sua
mãe. E você não recebeu um tapa olhos defeituoso por engano . Foi proposital,
assim como o foi você nunca ter sido punido por tê-los tirado, e tirado os da
500800 e até do 100169. E porque ninguém nunca o questionou por isto e nunca
fostes criticado? Por que eu o protegi. Protegi até agora vocês três e
principalmente, por sua causa. Oras, você poderia pensar, eu fiz isto por que
sou seu verdadeiro pai, talvez por que eu queira que você me suceda como
Diretor.
Ele parou, deu mais uma baforada, suspirou e continuou a falar com
naturalidade, apesar da voz de timbre extremamente grave e rouco:
-Ah, mas isto seria previsível demais, óbvio demais, não combina
comigo, sabem? Eu tenho bom gosto, e tua Inteligência, garoto, herdastes de mim
!
-Não...
133144 atrevera-se corajosamente a começar a falar, interrompendo
o homenzarrão.
O Diretor,porém, levantou se da sua cadeira, colérico, e bateu
violentamente com os punhos na mesa, depois pegou 133144 pela gola do uniforme
e urrou tão forte, que os cabelos do garoto voaram para trás como se tivesse
passando por um furacão:
-Escuta aqui, moleque ! Quem fala aqui sou eu! Fui Claro ? Quando
chegar a sua vez de falar, se chegar, eu o autorizarei expressamente !
-Sim, Vossa Senhoria...
-Vamos lá, mais alto, diga outra vez, enfrente-me !Quero ver sua
coragem !
-Sim, Vossa Senhoria!
Gritou 133144, com olhar desafiador, mesmo sendo fuzilado pelo
olhar impiedoso do Diretor, que sorriu triunfante:
-Aaaah, agora está melhor, é assim que gosto de te ver! Não quero
um menino submisso e fracote!
Ainda traumatizado pelo tratamento que recebera, 133144 se
esforçava para parecer o mais digno possível e permaneceu calado como deveria.
Satisfeito com a atitude do garoto, o Diretor continuou seu monólogo.
(Por continuar)
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