sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Presídio-Episódio 24




Cheguei na cela deles dez minutos antes do horário marcado. 500800 se despediu dele com um longo beijo e 133144 foi comigo. Como mandavam os procedimentos padrão, eu o algemei, e, com uma corrente atrelada nas algemas, o conduzi até o Prédio Central do Presídio. Lá, dois agentes do DIIS nos esperavam, e rispidamente nos disseram que não era para subirmos as escadas, mas tomar o elevador exclusivo do Diretor.
Oras, só o próprio Diretor tinha o privilégio e o direito de ir naquele elevador, o único de todo o Presídio, e por que nós poderíamos ir?
Mas uma ordem de um agente da DIIS não se discute, cumpre, e, calados, entramos no elevador, que foi ao último andar do prédio, mais alto mesmo que as torres de vigia.
Rápidamente chegamos e a porta do elevador se abriu. Os agentes não foram conosco, continuaram a ficar de guarda na porta do elevador.
Quando as portas se abriram, nós vislumbramos uma sala enorme, toda acarpetada, e no centro, uma mesa de madeira maciça escura e com pés esculpidos com arte. Uma enorme cadeira que mais parecia um trono ficava do lado da mesa voltado para a parede direita. À frente da mesa, duas cadeiras bem mais humildes e menores.
Do lado direito da mesa havia um alçapão, que se abriu, e de lá saiu uma pequena plataforma levadiça, onde apareceu um vulto enorme. Usava coturnos pretos de couro, calças com pernas estufadas e folgadas na cor vermelha, com um cinto preto, e uma   camisa branca tendo uma casaca vermelha por cima. Acima desta casaca, um sobretudo também vermelho, com enormes abas que circulavam a cabeça por trás. Por cima ia um sobretudo igualmente vermelho, que ficava permanentemente aberto, que descia até perto do limite entre os pés e as pernas, e por fim, acima de tudo, uma imensa capa preta, que lhe abraçava os ombros, mas não cobria a parte da frente das roupas, e também ia até bem abaixo dos joelhos. Ornando a cabeça, um enorme quepe vermelho, com uma faixa preta na base acima da parte que cobria-lhe parcialmente os olhos. Acima desta faixa, um enorme zero dourado brilhava, e outro número zero aparecia no peito, instalado no sobretudo como se fosse uma medalha. Abaixo deste zero, uma placa de ouro, com letras pretas tinha nela escrito: “Diretor”.
O rosto dele era retangular, qual um livro em pé, com um grande nariz de linhas retas, mas deselegantes, como os que eu tinha visto em um livro sobre os soldados romanos.Seus olhos eram cinzentos e frios, amedrontadoramente sem expressão,mas ao mesmo tempo parecendo ferozes, difícil explicar a sensação que causavam.
Ele coçou a testa e pude ver as sombrancelhas muito espessas, ruivas, e o cabelo ruivo, cortado extremamente curto. Porém, o vasto bigode, que tinha as pontas finas e finamente viradas para cima numa curva elegante era preto, assim como o cavanhaque triangular que ficava entre o lábio inferior e o queixo duplo, bem projetado para a frente, a impressão que eu tive era a de que ele era ligeiramente prognato.
Seu corpo tinha ombros largos e torso idem, com pernas compridas, e as mangas da indumentária eram bem espessas e folgadas, mas me pareceu um homem muscularmente muito forte, apesar da idade que as rugas extensas no rosto  não conseguiam esconder. Calculei que ele deveria ter aproximadamente dois metros de altura, bem mais alto que eu.
E de fato ele nos olhava de cima para baixo e seu olhar era tão dominante que nos constrangia e amedrontava.
Agora 133144 já não parecia tão confiante de si.
Na cintura, o homenzarrão tinha uma pistola de um lado, e de outro, um chicote e um cassetete.
Mas apesar do aspecto temerário, ele parecia calmo, e tirou de um dos bolsos um cachimbo, colocou fumo nele, o acendeu e sentou-se em sua cadeira magistral.

(Por continuar)

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