domingo, 9 de novembro de 2014

Da ficção pela ficção


Observando os catálogos de diversas editoras pela internet, percebo que estou cada vez mais isolado na minha percepção da Literatura como ficção pela ficçao.
Noto que a maioria das histórias editadas tem sempre um compromisso grande com a Realidade e com fatos reais e que na verdade estas histórias nada mais são do que fatos hipotéticos, que poderiam ser reais e estar acontecendo aqui, agora, em algum lugar do mundo, ou poderia ter acontecido no passado, sempre com este compromisso odioso para com a Realidade do dia a dia das pessoas.
Ok, pode ser que seja com isto que as pessoas se identifiquem, mas a meu ver, isto não é ficção de verdade, e sim, muita falta de criatividade.
A literatura de ficção legítima não pode ter compromisso algum com a Realidade e sim com a fantasia.
Deve exercer a fantasia pela fantasia e estimular a imaginação do(da) leitor(a),pois a missão da literatura de ficção é a de distrair o leitor, servir de válvula de escape das angústias da realidade que vive,é levar o(a) leitor(a) a outros mundos,outras eras,situações irreais e muitas vezes implausíveis, mas que sirvam o propósito que é o âmago, a essência da Literatura de Ficção:fazer o (a) leitor(a) escapar da realidade e fantasiar junto o (a) autora, estimular sua criatividade e imaginação, viver estes mundos maravilhosos de fantasia que nos fazem tão bem!
Se um livro não conseguir levar quem o ler a fantasiar, ele não é literaratura de ficção, na verdade nem é literatura propriamente dita, é um mero, reles texto.
Em um bom livro de ficção, os(as) personagens não devem se comportar como pessoas de verdade se comportariam diante das situações que vivem(que também devem ser as mais originais e fantasiosas possíveis, não raro com exageros, distorcendo a realidade a níveis realmente absurdos),mas devem ser surpreendentes, imprevisíveis.Nada mais chato do que um(a) personagem previsível, que se sabe exatamente como se comportará na cena seguinte !
Literatura de ficção também é para estimular as emoções do(da) leitor(a), emocionando-o(a), comovendo-o (a), fazendo-o (a) chorar, rir e fazendo com que estas emoções do autor sejam repassadas e transmitidas a quem ler, que deve senti-las da mesma forma que o (a) autor(a) sentiu ao escrever.
Se um(a) escritor(a) não se emociona, comove, ri, chora, ou fica com raiva enquanto escreve sua história de ficção, ele(ela) precisa rever urgentemente seu dom e avaliar se nasceu mesmo para escrever profissionalmente ou é apenas um hobby.
Pois literatura de ficção é para os sensíveis, não para os frios de coração.
E deve ser dirigida aos sensíveis, belos(as) de coração e alma,os(as) que querem, por alguns momentos felizes, fugir da realidade e acolher a Fantasia em seus corações, tem de ser para quem ama a Fantasia pela Fantasia, e não para quem quer ver a realidade que vive no que lê.
Porém vejo, no mercado literário brasileiro, que pouquíssima gente prima pela fantasia pela fantasia, pela ficção pela ficção, e prefere a tristeza, a mesmice, o mais da mesma coisa da literatura aferrada 'a Realidade.
A literatura de Ficção "baseada em fatos reais" ou com um pé forte na realidade é como um cavalo amestrado, de carga, com tapa olhos e arreios, carregando a pesada carroça da Realidade,presa 'a dor de viver fria e insensível do concreto, o chicote do aqui agora.
Já a literatura de ficção pura,de ficção pela ficção, de fantasia pela fantasia, é o cavalo Mustang selvagem, indômito, livre, correndo pelas campinas sem fim!É o cavalo poderoso, feliz, que leva felicidade para quem o vê.
Por isto , apesar de o mercado insistir nesta lenga-lenga pseudo real e muitas pessoas preferirem este masoquismo, eu prefiro muito mais o cavalo Mustang e sua liberdade do que o cavalo de carroça famélico e miserável, escravo de sua carroça e oprimido pelo chicote incessante.
Prefiro continuar escrevendo, como sempre escrevi, a literatura de ficção pura, da ficção pela ficção, da fantasia pela fantasia,pois é o que gosto, escolhi e me identifico.
Não é o escritor que deve se dobrar 'a vontade do mercado ou do público, e sim , o mercado e o público que precisam despertar para o diferente, o original,o novo,e aprender descobrir e a valorizar o que o escritor produz!
Cristiano Camargo

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