Vanglorius se distanciava ao longe,indo em direção ao
horizonte,enquanto Coly chorava,inconsolável.Decididamente, ela estava
perdidamente apaixonada por ele!
Desta vez não seria uma viagem curta,mas teria de ir
até o litoral,atravessar considerável distância oceânica,chegar ao continente
vizinho,quase todo tomado por floresta densa e misteriosa,e localizar a próxima
cidade a libertar,Reptériah,a cidade florestal perdida do Povo Réptil."Perdida",em
termos:ela havia sido descoberta por acaso,há muitos e muitos anos
passados,quando uma nave Troglons sofreu uma pane,e foi obrigada a descer na
floresta.Os exércitos Troglons invadiram a cidade,a saquearam,e a usaram para veraneio
dos soldados,sem ocupá-la oficialmente,graças a Solaris,avô de Vanglorius,que
presidiu a resistência,que expulsou os Troglons dali,mas não por muito
tempo.Quando Solaris desapareceu,ela voltou a ser uma "estação de férias"
para o Império,sendo vigiada,mas mantendo sua autonomia,como Canae,mas sem um
robô gigantesco para manter a vigilância.Nem precisava:perto dali funcionava a
maior e mais formidável base planetária de astronaves do Império fora do Planeta
Troglon.Um Espaçoporto militar completo,com capacidade para abrigar vinte
destróieres,setenta cruzadores e duzentas fragatas estelares,além de quatro mil
caças espaciais;sem falar no quartel com exército permanente de dez milhões de
soldados,e duzentos e cinqüenta mil tanques de todos os tipos ,mais cem mil
peças de artilharia pesadíssima,tudo lá,com disponibilidade imediata.De lá é
que saíam quaisquer reforços que fossem pedidos,para todo o planeta.A destruição
e a tomada de um lugar destes não era suficiente para libertar todo o Planeta,mas
poderia ser um golpe terrível e um tremendo prejuízo para o Império!
A cidade de Reptériah continha apenas umas setenta mil
almas,e não dispunha de armamentos que pudessem ameaçar aquela Base.Da cidade à
Base,a distância era de quatro dias a pé, em velocidade normal.
Vanglorius logo concluiu a travessia do deserto,dois
dias de tranqüila viagem.Mas finalmente chegou à praia,e um ralo bosquezinho se
interpunha entre o deserto e o litoral.
Ele usou sua espada para construir um pequeno
barco,cortando algumas árvores,usando cipó para a amarração,utilizando um poço
de betume natural para impermeabilizar as juntas,utilizando as fibras de folhas
de árvores tipo "coqueiro terráqueo" para transformar em pasta,e esta
em pano,para a vela,e depois de um dia inteiro de trabalho,um pequeno barco,com
vela e remos,estava pronto.Ele ergueu o barco inteiro,que pesava meia
tonelada,acima da cabeça,com ambas as mãos,com algum esforço,e o jogou no
mar,em que pôs-se a flutuar imediatamente.entrou no barco,e o vento,forte
naquele momento,fez o resto: pouco depois já estava em alto mar,quando viu que
as nuvens se avolumavam e escureciam ameaçadoramente:uma tremenda tempestade
estava a caminho!
A situação era grave:Vanglorius poderia se ver
arrastado para longe de sua rota,e se perder,correndo o perigo de ficar à míngua,morrendo
de fome e sede em pleno mar.Considerando que o Planeta Zukkor tinha apenas quatro
grandes continentes e umas poucas ilhas,dispostos radialmente,um em cada
semi-hemisfério,com um gigantesco oceano central,e outro oceano externo a estes
continentes,e que suas calotas polares eram feitas apenas de puro gelo,sem
terra firme,e que os quatro continentes eram muito bem separados entre
si,Vanglorius poderia perfeitamente ficar perdido no Oceano Central,ou até ser
arrastado para o Oceano Externo,como eram chamados pelos habitantes do
Planeta,pelo resto da vida.Apenas um oitavo da superfície do Planeta era de
terra firme,todo o restante era constituído de água.
As ondas começaram a se encrespar,e o vento agora
assoviava fortemente.Vanglorius calmamente recolheu a vela e os remos.Tinha
treinado sobrevivência em tempestades marinhas no simulador computadorizado em
seu treinamento,mas aquilo pelo que passava no momento era real.Real e terrível,muito
pior do que qualquer simulador poderia conseguir reproduzir:
As ondas eram agora enormes,o vento lhe açoitava a pele,o
frio era cortante,e sua única coberta era sua capa.Ele sabia que não adiantava
lutar contra a tempestade:sua vontade simplesmente não seria cumprida.Mas se
ele se guiava pelo sol e pelas estrelas,como saber se estava indo na direção
certa?
Claro que ele tinha um senso de orientação
extraordinário,mas não milagroso.Enquanto durasse a tempestade,ele não saberia
para onde estava sendo levado.
As ondas gigantescas enchiam o barquinho de água,e
girava e regirava e subia e descia loucamente,mas resistia bravamente à fúria
do mar.Até que uma particularmente gigantesca engoliu o barco e o desfez em
pedaços.Vanglorius foi arrastado pela força da onda para o fundo do mar.E dois
olhos vermelhos brilharam na escuridão da noite.Um ser vivo de enormes proporções,com
sua boca coroada de dentes enormes,e aspecto aterrador!
Uma lâmina rebrilhou na escuridão,refletindo-se nas
escamas do enorme réptil marinho.E a água ficou tinta,numa nuvem de sangue.
Vanglorius tinha rasgado a cauda da "serpente
marinha",e agora abraçava seu pescoço,quase a asfixiando.Ela foi obrigada
a subir à superfície para respirar,e só então Vanglorius pôde respirar
novamente.Guardou a espada,e dominou o animal.Recuperado o fôlego,ele tornou a
estrangular o réptil,chamado nativamente de "Drakkor",e passou a só
aliviar seus braços à medida que o animal se movia para a frente na superfície.Logo
o drakkor aprendeu o que devia fazer,e como Vanglorius notou que não
tinha,afinal de contas ,se desviado tanto assim da rota,logo o levou para o
continente mais próximo.Havia sido,antes do afundamento do barco,uma semana
inteira de tempestade contínua.E o Drakkor levou mais um dia inteiro para
continuar e terminar a viagem,quando foi libertado.
Continente de Réptia,lá estava ele.Morto de fome,
matou com sua espada o Drakkor, improvisou uma pequena fogueira, o abriu, limpou
e devorou o quanto conseguiu.Para compensar a falta de água doce, bebeu litros
do sangue do animal.
Pequenos reptilianos voadores juntavam-se em colônias
nas praias,coalhadas de ovos.Logo a diante,em terras mais elevadas,a imponente
Grande Floresta.O Calor ali era tão intenso quanto nos desertos que Vanglorius
atravessara antes,mas era um calor diferente,úmido.Mais,era quase puro vapor d
água,e a sensação do calor era multiplicada,quase insuportável.
Um calor abafado,denso,puro mormaço,a ponto de tornar
difícil a respiração,era quase como respirar água.E isto resultava em uma
verdadeira cachoeira de suor.Mata tipo tropical,entrecortada por vários rios,intensamente
cerrada e difícil de se andar.As árvores eram tipo cicas e samambaias,mas em
algumas regiões existiam árvores comuns,mas gigantescas,de centenas e centenas
de metros de altura.Vanglorius abria caminho na mata com sua espada,até que
descobriu um cipoal.Subiu em uma das árvores,e foi se balançando de cipó em cipó',e
assim,a viagem prosseguia muito mais rápido.Ele sabia que estava sendo vigiado
intensamente pelos animais nativos,que silenciavam por onde passasse,mas sabia
que a maioria deles era inofensiva.Se localizar numa floresta densa e que
cobria praticamente todo um continente era algo extremamente difícil,mas ele
sabia para onde estava indo,e confiava nas informações dos Mestres
Zukkorianos,embora,pelo menos uma vez elas tenham falhado.Mas lá ia ele,corajosa
e confiantemente,sem temer a nada,nem a ninguém!
Pequenos lagartos semelhantes a dinossauros bípedes,se
escondiam nas folhagens,fugidios,com o barulho dos cipós rangendo.Quando o
cipoal terminou,Vanglorius desceu das árvores.Agora a floresta passava a ser de
árvores coníferas e frutíferas.Um rugido sibilante se ouviu.Era um
predador,cujos olhos verde-berilo brilhantes faiscavam na escuridão de sua
toca,e Vanglorius estava bem a frente dela.O grande lagarto era parecido com um
réptil bem antigo ,do tipo pelicossauro,terráqueo,chamado Dimetrodon,mas mais
de três vezes maior em comprimento,do tamanho de uma grande cobra sucuri do
Planeta Terra.Era carnívoro,tinha nove metros de comprimento,e dois de
altura,fora a "vela":longos espinhos verticais que nasciam da espinha
dorsal cobertos e interligados por uma dobra de pele bem espessa;esta alcançava
mais três metros de altura!Simplesmente aterrador, com sua miríade de dentes em
formato de faca ,afiadíssimos e serrilhados,com até meio metro de comprimento,
que saíam da boca e se cruzavam !
(Por continuar)
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