terça-feira, 18 de novembro de 2014

Vanglorius- Episódio 28



Vanglorius se distanciava ao longe,indo em direção ao horizonte,enquanto Coly chorava,inconsolável.Decididamente, ela estava perdidamente apaixonada por ele!
Desta vez não seria uma viagem curta,mas teria de ir até o litoral,atravessar considerável distância oceânica,chegar ao continente vizinho,quase todo tomado por floresta densa e misteriosa,e localizar a próxima cidade a libertar,Reptériah,a cidade florestal perdida do Povo Réptil."Perdida",em termos:ela havia sido descoberta por acaso,há muitos e muitos anos passados,quando uma nave Troglons sofreu uma pane,e foi obrigada a descer na floresta.Os exércitos Troglons invadiram a cidade,a saquearam,e a usaram para veraneio dos soldados,sem ocupá-la oficialmente,graças a Solaris,avô de Vanglorius,que presidiu a resistência,que expulsou os Troglons dali,mas não por muito tempo.Quando Solaris desapareceu,ela voltou a ser uma "estação de férias" para o Império,sendo vigiada,mas mantendo sua autonomia,como Canae,mas sem um robô gigantesco para manter a vigilância.Nem precisava:perto dali funcionava a maior e mais formidável base planetária de astronaves do Império fora do Planeta Troglon.Um Espaçoporto militar completo,com capacidade para abrigar vinte destróieres,setenta cruzadores e duzentas fragatas estelares,além de quatro mil caças espaciais;sem falar no quartel com exército permanente de dez milhões de soldados,e duzentos e cinqüenta mil tanques de todos os tipos ,mais cem mil peças de artilharia pesadíssima,tudo lá,com disponibilidade imediata.De lá é que saíam quaisquer reforços que fossem pedidos,para todo o planeta.A destruição e a tomada de um lugar destes não era suficiente para libertar todo o Planeta,mas poderia ser um golpe terrível e um tremendo prejuízo para o Império!
A cidade de Reptériah continha apenas umas setenta mil almas,e não dispunha de armamentos que pudessem ameaçar aquela Base.Da cidade à Base,a distância era de quatro dias a pé, em velocidade normal.

Vanglorius logo concluiu a travessia do deserto,dois dias de tranqüila viagem.Mas finalmente chegou à praia,e um ralo bosquezinho se interpunha entre o deserto e o litoral.
Ele usou sua espada para construir um pequeno barco,cortando algumas árvores,usando cipó para a amarração,utilizando um poço de betume natural para impermeabilizar as juntas,utilizando as fibras de folhas de árvores tipo "coqueiro terráqueo" para transformar em pasta,e esta em pano,para a vela,e depois de um dia inteiro de trabalho,um pequeno barco,com vela e remos,estava pronto.Ele ergueu o barco inteiro,que pesava meia tonelada,acima da cabeça,com ambas as mãos,com algum esforço,e o jogou no mar,em que pôs-se a flutuar imediatamente.entrou no barco,e o vento,forte naquele momento,fez o resto: pouco depois já estava em alto mar,quando viu que as nuvens se avolumavam e escureciam ameaçadoramente:uma tremenda tempestade estava a caminho!

A situação era grave:Vanglorius poderia se ver arrastado para longe de sua rota,e se perder,correndo o perigo de ficar à míngua,morrendo de fome e sede em pleno mar.Considerando que o Planeta Zukkor tinha apenas quatro grandes continentes e umas poucas ilhas,dispostos radialmente,um em cada semi-hemisfério,com um gigantesco oceano central,e outro oceano externo a estes continentes,e que suas calotas polares eram feitas apenas de puro gelo,sem terra firme,e que os quatro continentes eram muito bem separados entre si,Vanglorius poderia perfeitamente ficar perdido no Oceano Central,ou até ser arrastado para o Oceano Externo,como eram chamados pelos habitantes do Planeta,pelo resto da vida.Apenas um oitavo da superfície do Planeta era de terra firme,todo o restante era constituído de água.
As ondas começaram a se encrespar,e o vento agora assoviava fortemente.Vanglorius calmamente recolheu a vela e os remos.Tinha treinado sobrevivência em tempestades marinhas no simulador computadorizado em seu treinamento,mas aquilo pelo que passava no momento era real.Real e terrível,muito pior do que qualquer simulador poderia conseguir reproduzir:
As ondas eram agora enormes,o vento lhe açoitava a pele,o frio era cortante,e sua única coberta era sua capa.Ele sabia que não adiantava lutar contra a tempestade:sua vontade simplesmente não seria cumprida.Mas se ele se guiava pelo sol e pelas estrelas,como saber se estava indo na direção certa?
Claro que ele tinha um senso de orientação extraordinário,mas não milagroso.Enquanto durasse a tempestade,ele não saberia para onde estava sendo levado.
As ondas gigantescas enchiam o barquinho de água,e girava e regirava e subia e descia loucamente,mas resistia bravamente à fúria do mar.Até que uma particularmente gigantesca engoliu o barco e o desfez em pedaços.Vanglorius foi arrastado pela força da onda para o fundo do mar.E dois olhos vermelhos brilharam na escuridão da noite.Um ser vivo de enormes proporções,com sua boca coroada de dentes enormes,e aspecto aterrador!
Uma lâmina rebrilhou na escuridão,refletindo-se nas escamas do enorme réptil marinho.E a água ficou tinta,numa nuvem de sangue.
Vanglorius tinha rasgado a cauda da "serpente marinha",e agora abraçava seu pescoço,quase a asfixiando.Ela foi obrigada a subir à superfície para respirar,e só então Vanglorius pôde respirar novamente.Guardou a espada,e dominou o animal.Recuperado o fôlego,ele tornou a estrangular o réptil,chamado nativamente de "Drakkor",e passou a só aliviar seus braços à medida que o animal se movia para a frente na superfície.Logo o drakkor aprendeu o que devia fazer,e como Vanglorius notou que não tinha,afinal de contas ,se desviado tanto assim da rota,logo o levou para o continente mais próximo.Havia sido,antes do afundamento do barco,uma semana inteira de tempestade contínua.E o Drakkor levou mais um dia inteiro para continuar e terminar a viagem,quando foi libertado.
Continente de Réptia,lá estava ele.Morto de fome, matou com sua espada o Drakkor, improvisou uma pequena fogueira, o abriu, limpou e devorou o quanto conseguiu.Para compensar a falta de água doce, bebeu litros do sangue do animal.
Pequenos reptilianos voadores juntavam-se em colônias nas praias,coalhadas de ovos.Logo a diante,em terras mais elevadas,a imponente Grande Floresta.O Calor ali era tão intenso quanto nos desertos que Vanglorius atravessara antes,mas era um calor diferente,úmido.Mais,era quase puro vapor d água,e a sensação do calor era multiplicada,quase insuportável.
Um calor abafado,denso,puro mormaço,a ponto de tornar difícil a respiração,era quase como respirar água.E isto resultava em uma verdadeira cachoeira de suor.Mata tipo tropical,entrecortada por vários rios,intensamente cerrada e difícil de se andar.As árvores eram tipo cicas e samambaias,mas em algumas regiões existiam árvores comuns,mas gigantescas,de centenas e centenas de metros de altura.Vanglorius abria caminho na mata com sua espada,até que descobriu um cipoal.Subiu em uma das árvores,e foi se balançando de cipó em cipó',e assim,a viagem prosseguia muito mais rápido.Ele sabia que estava sendo vigiado intensamente pelos animais nativos,que silenciavam por onde passasse,mas sabia que a maioria deles era inofensiva.Se localizar numa floresta densa e que cobria praticamente todo um continente era algo extremamente difícil,mas ele sabia para onde estava indo,e confiava nas informações dos Mestres Zukkorianos,embora,pelo menos uma vez elas tenham falhado.Mas lá ia ele,corajosa e confiantemente,sem temer a nada,nem a ninguém!
Pequenos lagartos semelhantes a dinossauros bípedes,se escondiam nas folhagens,fugidios,com o barulho dos cipós rangendo.Quando o cipoal terminou,Vanglorius desceu das árvores.Agora a floresta passava a ser de árvores coníferas e frutíferas.Um rugido sibilante se ouviu.Era um predador,cujos olhos verde-berilo brilhantes faiscavam na escuridão de sua toca,e Vanglorius estava bem a frente dela.O grande lagarto era parecido com um réptil bem antigo ,do tipo pelicossauro,terráqueo,chamado Dimetrodon,mas mais de três vezes maior em comprimento,do tamanho de uma grande cobra sucuri do Planeta Terra.Era carnívoro,tinha nove metros de comprimento,e dois de altura,fora a "vela":longos espinhos verticais que nasciam da espinha dorsal cobertos e interligados por uma dobra de pele bem espessa;esta alcançava mais três metros de altura!Simplesmente aterrador, com sua miríade de dentes em formato de faca ,afiadíssimos e serrilhados,com até meio metro de comprimento, que saíam da boca e se cruzavam !

(Por continuar)

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