segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Minissérie: Dommina Mundi -Episódio 13



Daphne entrou no imenso escritório, e, em pé em frente ‘a uma enorme mesa estava ele, Maximillian.
Uma montanha de papéis e documentos jazia espalhada pelo chão, numa bagunça generalizada.
-O que andou acontecendo aqui?
Max baixou sua orgulhosa cabeça e disse baixinho:
-Senti a sua falta....
-Oh, Maaaax !
Gritou  Daphne, de olhos rasos e correu para abraça-lo, e para a surpresa dela, ele abriu seus braços também.
-Perdão...perdoa, eu...eu perdi a cabeça, fiquei cego....ou como você disse, me corrompi...mas...mas no fundo eu não sou assim!
Ele disse, acariciando o rosto dela, e beijando-lhe a testa com carinho.
-Eu estava me sentindo tão vazio, tão entediado, tanto poder me isolou, me distanciou ainda mais das pessoas, e ninguém gostava espontaneamente de mim, só obedeciam ordens...tantas responsabilidades, tantos compromissos, tanta encheção de paciência, que eu não  aguentava mais! No fim, ser um Deus, ser o Imperador do mundo, não era como eu imaginava, os desejos ganharam vida própria, fora do meu controle, e por mais que eu consertasse, acabava acontecendo algo imprevisto ou que eu não queria que acontecesse, e as situações só pioravam, e no fim percebi que eu não tinha controle algum! E eu me perguntava: Porquê? Por que meus desejos não me obedeciam e depois de concretizados se desenvolviam por conta própria, fora do meu controle?Por que eu não consegui ser perfeito e prever com antecedência todas as consequencias dos meus desejos? Por que o desejo realizado é tão diferente do desejo imaginado?
-Meu querido, é por que você na verdade não é um Deus. Nunca foi um de verdade. Você é apenas um ser humano que ganhou os poderes de um Deus, mas não a sua essência divina, não nasceu divino, nem nasceu para ser divino. Na verdade nem mesmo sei se Deuses nascem, vivem e morrem, mas você me provou que existem. Se um ser imperfeito recebe a perfeição ele irá refletir sua imperfeição nestes poderes e contaminar a perfeição recebida com imperfeições. Agora, quanto aos desejos, os sonhos realizados não corresponderem ‘as nossas próprias expectativas sobre eles, é muito simples de responder: sonhos são fantasias, imaginação, e imaginação é inconsciente, o qual por sua vez é indomável e incontrolável. A fantasia tem suas próprias regras, as que nós seres humanos criamos, de modo inconsciente, emocional, não racional. Mas a Realidade tem sua própria Natureza, diferente daquela da Fantasia, e suas regras são diferentes também, são racionais, concebidas na Consciência, não no inconsciente. Regras da Realidade são construídas enquanto o inconsciente está dormindo. No entanto, quando concretizamos uma fantasia, a transformamos em Realidade, que não é feita só por nós, mas por todas as outras pessoas, cujos inconscientes não controlamos. Ao ser transformada em Realidade e existir no Mundo Real, não temos mais o controle sobre ela. O mundo tem, não nós. Então nos iludimos pensando estar controlando o Mundo, mas o Mundo continua a seguir suas próprias regras, seu próprio curso,não o que planejamos para ele. Podemos realizar sonhos, mas não podemos pretender controlar as consequencias de sua realização!
Consternado, o Deus , o Imperador do Mundo, caiu de joelhos diante de uma simples humana, atormentado pelas quimeras de suas angústias furiosas que o enlouqueciame gritou olhando em direção ao teto do escritório, que por sua vez imitava um céu azul e com algumas nuvens:
-Então, quem sou eu? O que sou eu afinal? O que é ser um Deus?
-Você é Maximillian, um estudante adolescente. Você é um Ser Humano que quis ser um Deus e recebeu uma graça. Ser um Deus é a realização de nossas mais vis ambições, a concretização de nossas mais torpes presunções, é  realizar a grandiloquencia da nossa Fantasia, é levarmos nosso individualismo e autocentrismo a níveis absurdos, posto que absolutos, ser Deuses é sermos...Humanos! É nos deixarmos levar por nossos defeitos, é ceder ‘as tentações do imoral, de ultrapassar as fronteiras do proibido, é vivermos nossas fantasias na realidade e a deixarmos nos dominar e crescer descontroladamente, é a expressão absoluta do egoísmo que temos em nós e que gostaríamos de ter realizado! Enfim, é libertarmos nosso inconsciente indomável dos domínios de nossas mentes e o aplicarmos na realidade !Você colocou para fora o Deus que queria tanto ser, mas você não dominou seu Deus interior, mas ele dominou a você. E assim, você deixou de ser você mesmo, para ser a sua idealização de si mesmo, projetada de dentro para fora, da imaginação para a Realidade! Maximillian, é hora de você voltar a ser você mesmo, aquele que você realmente é!
Max abraçou as pernas de Daphne, enxugou suas lágrimas na saia dela, e se levantou. Tinha tomado a sua decisão !

(por continuar)

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