Daphne entrou no imenso escritório, e, em pé em
frente ‘a uma enorme mesa estava ele, Maximillian.
Uma montanha de papéis e documentos jazia
espalhada pelo chão, numa bagunça generalizada.
-O que andou acontecendo aqui?
Max baixou sua orgulhosa cabeça e disse baixinho:
-Senti a sua falta....
-Oh, Maaaax !
Gritou
Daphne, de olhos rasos e correu para abraça-lo, e para a surpresa dela,
ele abriu seus braços também.
-Perdão...perdoa, eu...eu perdi a cabeça, fiquei
cego....ou como você disse, me corrompi...mas...mas no fundo eu não sou assim!
Ele disse, acariciando o rosto dela, e
beijando-lhe a testa com carinho.
-Eu estava me sentindo tão vazio, tão entediado,
tanto poder me isolou, me distanciou ainda mais das pessoas, e ninguém gostava
espontaneamente de mim, só obedeciam ordens...tantas responsabilidades, tantos
compromissos, tanta encheção de paciência, que eu não aguentava mais! No fim, ser um Deus, ser o
Imperador do mundo, não era como eu imaginava, os desejos ganharam vida
própria, fora do meu controle, e por mais que eu consertasse, acabava acontecendo
algo imprevisto ou que eu não queria que acontecesse, e as situações só
pioravam, e no fim percebi que eu não tinha controle algum! E eu me perguntava:
Porquê? Por que meus desejos não me obedeciam e depois de concretizados se
desenvolviam por conta própria, fora do meu controle?Por que eu não consegui
ser perfeito e prever com antecedência todas as consequencias dos meus desejos?
Por que o desejo realizado é tão diferente do desejo imaginado?
-Meu querido, é por que você na verdade não é um
Deus. Nunca foi um de verdade. Você é apenas um ser humano que ganhou os
poderes de um Deus, mas não a sua essência divina, não nasceu divino, nem
nasceu para ser divino. Na verdade nem mesmo sei se Deuses nascem, vivem e
morrem, mas você me provou que existem. Se um ser imperfeito recebe a perfeição
ele irá refletir sua imperfeição nestes poderes e contaminar a perfeição
recebida com imperfeições. Agora, quanto aos desejos, os sonhos realizados não
corresponderem ‘as nossas próprias expectativas sobre eles, é muito simples de
responder: sonhos são fantasias, imaginação, e imaginação é inconsciente, o
qual por sua vez é indomável e incontrolável. A fantasia tem suas próprias
regras, as que nós seres humanos criamos, de modo inconsciente, emocional, não
racional. Mas a Realidade tem sua própria Natureza, diferente daquela da
Fantasia, e suas regras são diferentes também, são racionais, concebidas na
Consciência, não no inconsciente. Regras da Realidade são construídas enquanto
o inconsciente está dormindo. No entanto, quando concretizamos uma fantasia, a
transformamos em Realidade, que não é feita só por nós, mas por todas as outras
pessoas, cujos inconscientes não controlamos. Ao ser transformada em Realidade
e existir no Mundo Real, não temos mais o controle sobre ela. O mundo tem, não
nós. Então nos iludimos pensando estar controlando o Mundo, mas o Mundo
continua a seguir suas próprias regras, seu próprio curso,não o que planejamos
para ele. Podemos realizar sonhos, mas não podemos pretender controlar as
consequencias de sua realização!
Consternado, o Deus , o Imperador do Mundo, caiu
de joelhos diante de uma simples humana, atormentado pelas quimeras de suas angústias
furiosas que o enlouqueciame gritou olhando em direção ao teto do escritório,
que por sua vez imitava um céu azul e com algumas nuvens:
-Então, quem sou eu? O que sou eu afinal? O que é
ser um Deus?
-Você é Maximillian, um estudante adolescente. Você
é um Ser Humano que quis ser um Deus e recebeu uma graça. Ser um Deus é a
realização de nossas mais vis ambições, a concretização de nossas mais torpes
presunções, é realizar a grandiloquencia
da nossa Fantasia, é levarmos nosso individualismo e autocentrismo a níveis
absurdos, posto que absolutos, ser Deuses é sermos...Humanos! É nos deixarmos
levar por nossos defeitos, é ceder ‘as tentações do imoral, de ultrapassar as
fronteiras do proibido, é vivermos nossas fantasias na realidade e a deixarmos nos
dominar e crescer descontroladamente, é a expressão absoluta do egoísmo que
temos em nós e que gostaríamos de ter realizado! Enfim, é libertarmos nosso
inconsciente indomável dos domínios de nossas mentes e o aplicarmos na
realidade !Você colocou para fora o Deus que queria tanto ser, mas você não
dominou seu Deus interior, mas ele dominou a você. E assim, você deixou de ser
você mesmo, para ser a sua idealização de si mesmo, projetada de dentro para
fora, da imaginação para a Realidade! Maximillian, é hora de você voltar a ser
você mesmo, aquele que você realmente é!
Max abraçou as pernas de Daphne, enxugou suas lágrimas
na saia dela, e se levantou. Tinha tomado a sua decisão !
(por continuar)
Nenhum comentário:
Postar um comentário