Vanglorius sabia que eles iam procriar nas costas do
terceiro continente,e era para lá que ia.Foi então que viu um cardume de Selácidos
(peixes cartilaginosos parecidos com tubarões,de grandes dimensões,mas com a
cabeça parecida com a das arraias,inclusive com as nadadeiras peitorais
fundidas à cabeça,de grande
ferocidade),atacar o bando de surpresa ,em puro desespero.O mar ali não era muito
fundo,e ele jogou a sua âncora improvisada ao fundo,e saltou do barco.Nadando
rápido,atingiu com sua espada um dos Selácidos no fígado,promovendo uma nuvem
de sangue.A fêmea que ia ser atacada pelo peixe,pôde escapar.Outros Selácidos
,de nove a doze metros de comprimento cada um,atacaram o moribundo,o que
possibilitou o bando de fugir.Voltou então ao barco e prosseguiu viagem,quando
um selácido ainda maior atacou seu barco,virando-o.Sua bocarra continha dentes
tão grandes quanto sua espada (um metro),e vinha em alta
velocidade.Vanglorius,mergulhado na água,desviou-se do bote,do segundo,e do
terceiro,e corajosamente foi em direção do seu enorme opositor na quarta
vez,rasgando-lhe o focinho,e fazendo-lhe um profundo ferimento no alto da
cabeça.Pôs a lâmina para regirar,e atacou outra vez,arrancando-lhe uma
nadadeira inteira (abdominal),e a luta se encarniçou ainda mais,deixando a fera
cheia de ferimentos brutais,graças à
grande agilidade de Vanglorius.Mas ele tinha de respirar,e subiu à superfície para adquirir novo fôlego.Mas o selácido
ainda estava vivo, e o atacou de repente,pelas costas,com a rapidez de um raio.
Mas suas enormes mandíbulas chegaram a apenas um
centímetro das costas do Herói.
Um baleáceo pouco maior que ele o interceptou,salvando
a vida de Vanglorius no último instante.Logo o predador estava cercado pelo
bando,que usando suas cabeçorras como martelos,prensaram-no até matá-lo.
Sim,os baleáceos não tinham-se esquecido de que Vanglorius
tinha lhes salvo a vida,e agradeceram salvando-o também.Vanglorius montou em
cima de um deles,e com ele chegou até perto da costa,para onde nadou.Havia
chegado ao Terceiro Continente,bem no centro de sua costa,à apenas uma semana de viagem a Northbore.
Justamente por ser verão,o mar não estava
congelado,mas ainda assim,o frio era extremamente intenso.Após uma curta faixa
pedregosa,o que se via agora era neve,funda e fofa,e Vanglorius pôde notar o
quanto sua vestimenta era inadequada ao frio.Sua longa capa servia-lhe de
"cobertor",mas suas sandálias estilo legionário romano terráqueo,ótimas
no calor dos desertos,eram absolutamente inúteis na neve,pois com tantas
aberturas,enregelavam seus pés.
O vento gélido e açoitante não o ajudava em nada,mas o
controle mental que ele tinha para ignorar a dor e outras sensações,sim.Mas
claro que isto tinha limites,e seus pés começaram a ficar azulados,e estavam se
congelando.A sua capa podia isolá-lo do frio até digamos,uns cinco graus Celsius
acima de zero,mas uma temperatura negativa de sessenta e cinco graus?Era para matar
qualquer ser humano normal!
Depois de dois dias quase congelado,andando em ritmo
bem menos acelerado do que o planejado,Vanglorius decidiu-se:precisava matar um
animal peludo para usar sua pele para se proteger,ou sua jornada estaria
inviabilizada,pois ele estaria no mundo dos mortos,em pouco tempo.E não era só
o frio,mas a fome que lhe agoniava célere.Estava gastando muito mais energia
que o normal para sustentar sua temperatura constante,algo que ele já tinha
dificuldade para manter.Tinha de pensar,e rápido.
Lembrou-se de todas as informações que aprendera sobre
o terceiro continente,e lembrou-se,em meio a nevasca devastadora que enfrentava
com galhardia,que existia lá um animal que podia salvá-lo:um mamífero
local,gigantesco,herbívoro e conhecido pelo seu mau humor permanente:o
Boucefante.Lembrava,em termos gerais,um bisão terrestre,mas possuía longos
chifres cervídeos,quatro,no alto e laterais da cabeça,outro na outra
extremidade desta,e uma curta tromba.Mas sua cabeça era longa,e seus caninos
inferiores sobressaíam-se salientes no final da maxila,contrastando com os
longos incisivos inferiores centrais achatados em forma de pá.Viviam em pequenos
bandos errando pelas planícies,e conseguiam desenterrar qualquer vegetação
debaixo da neve mais espessa.Com seus sete metros de altura nos ombros (a cabeça
ficava bem mais baixa que os ombros),as pernas dianteiras bem maiores que as
traseiras,sua pelagem de mais de meio metro de espessura,e suas oito toneladas
de peso,eram animais formidáveis.
Vanglorius decidiu atraí-los e sacou a espada,e
apertou o gatilho.O lazer derreteu a neve,e deixou um rastro forte de vegetação
queimada,com um cheiro marcante e atraente.Ele sabia que o faro dos Boucefantes
era espetacularmente eficiente,e que sentiriam este aroma de muito longe.Vanglorius
sentou-se na vegetação queimada,ainda quente,e esperou.
Não demorou muito,e um deles já estava chegando.
Vanglorius levantou-se.O Boucefante não gostou nada de
ter um intruso entre ele e sua comida,logo,bufando e rugindo,apontou seus cinco
chifres e atacou.
Já descansado e um pouco mais aquecido,Vanglorius,desviou-se
do bote,saltou,usou os chifres como trampolim,e ainda segurando-se nestes,colocou-se
a frente de seu adversário,tentando pará-lo.
Mas mesmo sua força prodigiosa era pequena diante de
oito toneladas musculares em todo o seu vigor.A tromba do Boucefante o agarrou
e o arremessou longe.Mas Vanglorius não desistiu.Levantou-se,e correu em direção
ao feroz inimigo,sacou sua espada e ao se chocar com o Boucefante,enterrou sua
espada em seu crânio,bem entre os olhos,mas um dos chifres atingiu de raspão
suas costas,abrindo generoso vergão.
O Boucefante desabou no solo na hora,e pedaços de
massa encefálica saíam pela boca e pelas orelhas.Vanglorius usou sua espada
para arrancar a pele da carne,bebeu o sangue quente enquanto o esquartejava,e
comeu tanta carne quanto agüentou,retalhou a pele,utilizando os nervos como
costura,aos quais atou uma lasca de osso,e fabricou espessas "botas",que
reaqueceram seus pés.Providenciou uma quentíssima manta e luvas de pele,sequer
se incomodando com a gordura e sangue que estas rústicas vestimentas excretavam
abundantemente.Fabricou ainda uma sacola enorme,onde depositou generosas porções
de carne.Satisfeito ,aquecido e alimentado,pôde recuperar o tempo
perdido,avistando o Monte Bore,onde ficava a cidade de Northbore depois de seis
dias de caminhada.Eram altas horas da madrugada,quando os habitantes daquela tão
controvertida cidade se espantaram com aquela estranha figura que adentrara a
cidade.Muito alto,peludo,cheirando muito mal,deixando uma trilha de sangue e gordura
atrás de si.Vanglorius aproveitou o cochilo dos guardas nos portões,e
entrou.Foi direto à taverna central.
Lá,seres de todo tipo,e de todas as cidades do
planeta,e de outros planetas inclusive,se reuniam para jogar,se embebedar,e se
aproveitar de prostitutas.O tráfico de drogas pesadas ali imperava,um ou outro
brigava,e a corrupção e a desordem dominavam aquele ambiente sujo,escuro,perigoso.Quando
o Herói entrou na taverna,ninguém o reconheceu.A manta o encobria todo,até seu
rosto.Mas sua figura chamou a atenção,pois bateu a porta com força,fazendo
alarde,e a quebrando,inclusive.
Um Troglons bem forte o abordou:
-O que há forasteiro?Mas como cheira mal!Parece um
monge Troygos,do nosso vizinho planeta Upton!
-Vim para colocar ordem nesta cidade!
-Ei,amigos,este Troygos pensa que é o tal valentão
Vanglorius!Ele está sendo esperado,mas você acaba de se dar mal!.O Troglons
ensaiou um soco,mas uma mão forte o deteve com firmeza,e quebrou cada osso da
mão Troglons.
O Manto caiu.
-Eu sou Vanglorius!Se alguém tem dúvida,eis a Espada
Sagrada de Zukkor!
Ouviu-se um Uníssono:-Ooooooh!
E o Troglon gania de dor!
(Por continuar)
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