A noite estava
alta, e as brumas insistiam em não esconder o frio que fazia na cidade, com o
qual a brisa gelada corroborava. Era uma noite estranha, e uma sombra estranha
e magra a percorria pelos becos sujos e puídos de poluição negro- cinzenta que
gotejava `a óleo queimado pelos paralelepípedos escorregadios das ruas nas
quais as enormes ratazanas negras fugiam da sombra espectral que avançava poste
por poste, sem se esconder, pois não precisava- ela era a predadora ,esguia e
furtiva, tudo o mais era constituído de vítimas!
Um cão
vira latas focinhava pelas poças de chuva recente ,chapinhando na água suja Era
de tamanho médio, tinha um focinho comprido e estreito ,orelhas caídas e pêlo
curto ,malhado irregularmente de branco e marrom , muito sujo e um pouco
infestado de sarna. Estava magro e subnutrido e procurava alimento. O que viu-
não o que farejou - aquilo era inodoro- o apavorou. Tentou disparar em fuga,
mas seus reflexos não foram suficientemente rápidos.
Quais
duas molas de aço ,duas agulhas afundaram em suas ancas ,e o levantaram quase
dois metros acima do chão. Ele viu e sentiu...até morrer.
As
mandíbulas serrilhadas e poderosas romperam a pele de seu abdome e arrancavam
sua carne em pequenos nacos, num ritmo frenético. O cachorro viu como eram seus
intestinos antes de morrer e seu semblante- Ah, o horror, o horror ! Aquele
horror indescritível de quem é devorado vivo!
Foram
poucos segundos, mas perpetuaram-se como torturas como fossem horas.
O
caminhão de lixo passou, e os lixeiros mal puderam acreditar no que viram .Nem
ossos sobraram...
Olhos
brilharam na escuridão ,devassada pelos fracos faróis do veículo um tanto
arcaico. Olhos brilharam na escuridão...olhos perigosos, olhos cruéis ,
olhos...compostos, milhares de olhos facetados ,sem expressão? Juntos tinham a
personalidade aterradora, a fria personalidade assassina, dura e insensível de
quem mata sem ódio ,mas reveladores de uma ferocidade silenciosa, olhar de
fera, da pura fera que simplesmente mata!
O
caminhão arrancou num solavanco, e asas membranosas se abriram .Pela manhã,
cinco mortos na rua .Cinco restos de carne ensanguentada , o que restou daqueles homens- juntos, não
conseguiam pesar um só quilo! Os documentos pessoais de cada um ali jaziam, no
entanto.
O
detetive Fogg London ,naquela mesma manhã, entrou no prédio da X-Gem Trusth, ex
- Furs Fondation. Quis falar com o Doutor Rud
Exp, responsável pelo Departamento de Genética Militar da empresa. Teve
de esperar quase uma hora, mas conseguiu a entrevista.
- Então
, senhor Fogg London, no que posso ajudar o detetive mais famoso da cidade?
Alguém o contratou?
-De
maneira nenhuma, Doutor. Venho investigando algumas mortes misteriosas que tem
ocorrido últimamente . Acho que talvez possa vir `a ter a ver com algum de seus
experimentos.
- Muito
bem, o que direi é altamente sigiloso . O Projeto Mantis, cujo nome em latim
quer dizer Louva a Deus, escapou de nossas instalações e está causando estas
mortes.
-Um
inseto?
-Muito
mais que isto, senhor London . Há quatro anos atrás,2054,o Presidente da nossa
empresa, Rick Lankers, autorizou as pesquisas para um super inseto para
objetivos militares...
-Se bem
me lembro, o Dr. Lankers foi um dos
responsáveis pelo Projeto Iguanodon, que repovoou o planeta com
Dinossauros recriados genéticamente, causando um enorme desastre ecológico, já
que os dinossauros hoje substituíram boa parte da fauna existente até alguns
anos atrás. Depois da morte de Emil Furs, com quem trabalhou, fundador da Furs
Foundation, que deu origem `a esta empresa, Dr. Lankers acabou por
herdá-la transformando- a na XGT.
-Sim,
ele mesmo. Ocorre que na época, como agora , os novos campos para a tecnologia
militar eram os animais recriados genéticamente, ou seja derivados dos
existentes ou extintos ou ainda aqueles que são frutos de nossa imaginação, ou
os robôs e andróides. O Governo promoveu um concurso, e ganhamos a concorrência
com o Projeto Louva Deus. Ele é um Louva Deus, sim, mas de 3 metros de altura,
um predador temerário. Reprojetamos o
animal, retirando as limitações inerentes de um inseto comum. Ele tem pulmões,
e um coração sofisticadíssimo de quatro câmaras, um cérebro igualmente
requintado, com inteligência próxima `a humana, e sangue quente. Tudo muito bem
protegido por blindagens de quitina e queratina, reforçadas com cartilagens e
calcificações fortíssimas. Depois de meses de experiências, ele conseguiu
escapar do controle, e ainda não sabemos como deter esta coisa. Acho que a sua
ajuda pode ser valiosa, senhor Fogg, no sentido de nos ajudar a localizar e
destruir Mantis. Afinal, o senhor solucionou os casos mais intrigantes da cidade. Acho que nos será
de grande valia. O Dr. Lankers lhe aguarda, mas cuidado! O Deinonichus de
estimação dele, que sempre o acompanha é muito perigoso!
-Ah, já
ouvi falar de Phobos antes. Tomarei cuidado.
O escritório de Lankers ficava no mesmo prédio, mas alguns andares acima.
Já
tendo em mente o que esperar, Fogg procurou entrar cuidadosamente. Como espião
e agente secreto free lancer que era, sempre disfarçado de detetive particular
como sempre foi, sabia muito bem o valor da discrição. Antes de entrar,
acionou a retrovisão infravermelha do
seu óculos, verdadeira H.U.D. disfarcada. Assim, pensava que jamais seria
surpreendido. A imensa cicatriz na região do rim esquerdo, consequência de uma batalha
com um outro destes pequenos dinossauros carnivoros e ferozes ocorrida em seu
passado recente lhe lembrava quão espertos, oportunistas e principalmente
traiçoeiros os deinonichus são. Sem surpresas, estaria seguro. A pistola lazer
estava bem disfarçada em um dos bolsos do sobretudo cinzento.
Atento
como nunca, girou a maçaneta.
Escuridão
total.
Um
passo, dois passos, sorrateiramente, contendo até mesmo a respiração, muito
silenciosa. Uma técnica de respirar como esta valia ouro agora. Ele estava
lá. Mas, lá onde?
Permanecia
olhando sempre `a frente e via tudo ao seu redor.
"-Phobos
é sem dúvida muito esperto. Desceu sua temperatura corporal. Não consigo
dectetá - lo por termovisão " . Pensou.
Tensão.
Nada se via. Escuridão de breu. A sala era imensa!
"
-Droga, droga de dinossauro! Precisava ser tão inteligente ?",foi o que
lhe ocorreu.
Escuro.
Silêncio. Um leviíssimo deslocamento no ar, mais imperceptível que uma brisa
fraca. O sinal .A reação.
-Sheeeaaaah
! Sssssss !
O grito
obscuro no escuro ecoou pela sala, rasgando o silêncio como as garras e dentes
afiadissimos de seu dono ,sorrateiro como um ninja, mas muito mais mortal.
Quando,
no segundo seguinte, a luz se acendeu,
Fogg estava trêmulo: Cada braço seu segurava um braço do dinossauro, e cada
perna idem. Sua cabeça baixa mantinha o pescoço e as mandíbulas de Phobos
imobilizadas. Mas suas costas sangravam. Quanto tempo aguentaria ?
-Phobos
! Venha! Aqui, venha !
Phobos
levantou-se, desvencilhando-se fácilmente do homem que ,iludido ,pensava
dominá-lo.
-Já lhe
disse que não quero que brinque com as minhas visitas! Eu acabei de servir sua
refeição, não está satisfeito? Peça desculpas ao nosso convidado!
Phobos
obedeceu imediatamente. Interrompeu sua ida ao seu dono, voltou-se para Fogg, e
fêz uma mesura,mas de boca aberta mostrando toda a sua explêndida dentuça alva,
afiadíssima. Depois, postou-se ao lado de Lankers, de pé.
-Desculpe
a insolência do meu dinossauro guardião. Você não acreditaria no quanto ele é
inteligente!
-Desculpado, Doutor Lankers. Já tive outro
embate com um deinonichus antes. Deixe-me mostrar – lhe isto:
Fogg
levantou a camisa social branca que vestia,afastou o sobretudo e mostrou uma
ferida feia , mal cicatrizada na altura do rim esquerdo.
-E saiu vivo!? Ah, ah , ah ! Veja só! Que bela
marca tem. Marca de um Dromeassaurídeo, sem dúvida, reconheço. Deve ser bom
mesmo!
-Sim,e
ele era só um filhote de alguns meses! Ei, Phobos está lambendo meu sangue no
chão!
-Esqueça.
Ele é assim mesmo. Ele jamais deixara de ser um predador! Aliás, sabe porque
ele tem este nome?
.-Ah,sim...Fogg
engoliu em sêco- Phobos, o deus grego do medo, os gregos lhe atribuiam a
responsabilidade pela Morte e as guerras Hum, Huuum ! Mudando um pouco de
assunto, vim falar sobre o Projeto Louva Deus.
-Ah,
sim,os crimes... Claro. Mantis ,o inseto em questão, era a menina dos olhos da
empresa. Ele não tem sistema respiratório traqueal, como os outros insetos, e
suas partes vitais são muito blindadas. E ele é sem dúvida, um perigo Foi
criado para isto. Garanto que você não conseguiria matá –lo com uma latinha de
inseticida ou uma vassoura!. Estamos pensando em como detê-lo, mas ainda não
sabemos exatamente como podemos fazer isto sem colocarmos ainda mais vidas dos
cidadãos em risco. Temos de nos lembrar
que e a segurança pública que esta em jogo, sem falar da reputacão da minha
empresa. Alias, por falar nisto, vi na Internet 2 agora há pouco que a polícia
está tentando detê-lo agora mesmo com um Robô experimental do exército, que o
cedeu para eles.Quando os militares souberam da escapada de Mantis, ameaçaram
cancelar o contrato conosco, uma indústria robótica está aproveitando a ocasião
para mostrar serviço !
-Oh ,
não! Eles são loucos, Doutor! Aqueles robôs não são confiáveis ! Estão
arriscando muitas vidas humanas ! E melhor eu ir lá conferir isto de perto!
-Espere.
Vou com você !
Enquanto
isso, em um beco qualquer do centro da cidade, uma menina de quinze anos,
fugida de casa, chorava sentada junto `a um muro.
Quatro
patas caminharam em sua direção.
-Saia
daqui ! Não quero ver ninguém !
A
cabeçorra de olhos compostos mexeu as mandíbulas. Suas antenas se agitaram.
Permanecia silencioso, não tinha cordas vocais. O verde de sua casca blindada
refletia multicoloridamente os raios solares. As longas patas dianteiras
permaneciam em guarda. Quando se esticaram, colheram a menina, levando-a perto
da boca.
-Você
está rasgando minha roupa! Ponha -me no chão!
Ela não
tinha medo ou repugnância. As antenas vibraram no ar, e tocaram no pescoço da
menina, sentindo-a.
(Por continuar)
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