domingo, 17 de agosto de 2014

Conto: Admiração



A frente dele agora se descortinavam, majestosas, as montanhas.Uma inteira cordilheira se iniciava ali, depois que as planícies finalmente terminaram.
Um vento gelado corria por ali,o sol brilhava forte, fazendo as gotas de suor de Mitthu  brilharem sobre seu corpo musculoso e amorenado pelo sol.
Ele enxugou o suor da testa e prosseguiu em sua caminhada. Estava fraco, pois não comia nada desde o dia anterior. Ao sopé da cordilheira encontrou algumas arvores frutíferas, e matou a fome e a sede com aqueles frutos suculentos e nutritivos.Saciado, deitou-se ‘a sombra de uma das arvores e cochilou.
O Sol se pôs e o colorido do anoitecer deu lugar as estrelas.
Mitthu então acordou.Era um momento mágico, em que dia e noite se misturam.O céu ainda tinha as ultimas cores do por do sol e o brilho da Lua e das estrelas.Ele olhou para o céu maravilhado, e alguma coisa chamou sua atenção, pois lhe deu uma sensação de que algo maravilhoso estava por acontecer em sua vida.Eram as estrelas: ela pareciam fazer no céu um enorme e brilhante sorriso!
Então, uma mão tocou seu ombro.Era uma mão delicada, de mulher, e parecia ser ainda bastante jovem, quase uma criança.
Os olhares se cruzaram e havia algo de misterioso , profundo e belíssimo naqueles olhos cor de mel dela.Os cabelos dela, de um castanho brilhante, esvoaçavam ao vento.
Nenhuma palavra foi proferida. Ela pegou a mão dele e o conduziu montanha acima, por um caminho íngrime e difícil, algo perigoso.
A lua estava cheia e brilhante, num brilho azulado que dava ao lugar uma atmosfera de magia, no que era ajudada pela espessa neblina que começou a se formar.Quando chegaram ao topo, a noite toda já tinha passado, e começava a amanhecer.Ambos sentaram-se la, um ao lado do outro.
O sol iniciou sua subida de maneira magistral, tingindo o céu e a terra aos poucos com matizes de luz, amarela, vermelha, rosa, laranja, num espetáculo inesquecível.
O brilho do sol refletia-se nos rostos deles, colorindo e realçando os sorrisos um para o outro.Dava a impressão de que eles ficavam maiores, mais belos, mais jovens.
-Que maravilha...nunca vou me esquecer...e´o nascer do Sol mais incrível que já vi...
-Eu já vi muitos destes, mas realmente hoje parece mesmo especial. Acho que e´porque você esta aqui.Meu nome e´ Serhuu. Fui criada pelo meu avo aqui nestas montanhas, minha vida toda passei aqui.Ele já faleceu, mas me ensinou muito.Nunca me esqueço o que ele me disse antes de morrer...
-O que ele te disse?
-Para viver sempre, pois a Vida e´um dom precioso que a Natureza nos da, é o que existe de mais belo.Me disse que e´preciso que eu me sinta viva sempre.E que as dificuldades que encontrarei pela vida a frente são como a subida da Montanha,quanto mais difícil e penosa, mais bela e grandiosa é a vista, e  tudo o que existe de belo e´o que a Natureza nos presenteia quando chegamos ao topo. O topo não e´o objetivo a atingir,mas a sensação de orgulho e deslumbramento que esta vista nos causa, pois é esta beleza, este poder, de a gente se sentir tão alta quanto a própria montanha,que faz realmente a vida valer a pena ser vivida.
-Mas não e´ algo ilusório,Serhuu?Toda esta grandiosidade natural me faz pensar na pequenez e insignificância humanas.Ah, meu nome é Mitthu.
-Ai é que esta a sapiência da Natureza, Mitthu.Pois o Homem, ao subir a montanha e subir ao topo, pode ficar presunçoso e se sentir tão grandioso quanto a própria natureza que o criou.Mas ocorre que sempre haverá uma montanha mais alta  depois da que nos subimos, e ainda mais difícil de escalar.
Por isto o objetivo não pode nunca ser chegar ao topo.Se você notar, vai ver que o topo de cada montanha vai te mostrar uma vista diferente, uma sensação diferente.A subida, no final, nunca termina.E descer também faz parte da vida.Não se deve ficar no topo muito tempo, senão perde-se a noção da vista que o sopé da montanha nos da, que e´ uma visão igualmente bela, a majestade absoluta da Natureza.Nada é insignificante na Natureza, nem mesmo a espécie humana,tudo tem o seu significado, e não existe so´por existir.Há que se aprender com as lições do alto e do baixo, e o objetivo deve ser sempre prosseguir, e buscar novas visões de mundo, sempre há um ângulo diferente pelo qual se pode ver a vida.
-Seu avo era um homem sábio, Serhuu.
-Tudo isto ele me ensinou nos últimos anos.
-Você deve ter sofrido muito quando ele se foi.
-Nem tanto.Nada e´eterno, nem mesmo as montanhas, e um dia e´hora de parar de caminhar e cair no caminho.Assim como sempre há uma nova montanha a subir, sempre há alguém mais jovem para ocupar o nosso lugar, e que precisa ter a sua chance.Ser eterno e´como permanecer no topo da montanha perenemente: você tem uma visão linda, mas esta perdendo os outros ângulos e outras vistas que podem ser ainda mais belas.Quando se desce a montanha e´mais ou menos quando se morre: precisamos ser generosos como a natureza foi conosco e dar a chance para outra pessoa poder olhar de cima a nossa montanha, e descermos para aprendermos a lição de baixo, e ver a vida de outro modo.Considero que meu avo apenas desceu a montanha e o imagino procurando novas montanhas para subir.Olho esta vista e me lembro dele, para mim o coração dele vive aqui entre estes montes nevados, não há como esquece-lo!Vem, vamos descer, há um lago no fundo do vale que vale a pena conhecer !
E ambos iniciaram a descida da montanha , rumo a um vale explendido, cercado pela cadeia de montanhas qual coroa, e no centro deste vale um lago jazia,o qual compunha uma paisagem de sonho, que deleitava os olhos, alma e corações...

FIM

Cristiano Camargo

Nenhum comentário:

Postar um comentário