Momiji, saiu de casa com a mesma pressa, com
sua pequenina van.
Logo os dois chegaram e encontraram Lune no
corredor do hospital, toda aflita e chorosa. Ao ver os dois, que chegaram quase
ao mesmo tempo, ela os abraçou forte, e eles a procuraram consolar. Um pouco
depois, Kazuo foi conversar com os médicos enquanto Momiji tomava conta de
Lune.
O médico explicou que não houve nenhum coágulo
cerebral, mas que a situação da perna dela era séria e que ela teria de passar
por uma cirurgia, e havia risco de ter alguma sequela, e teria de ficar um
tempo de muletas ou cadeira de rodas.
Os três ficaram o tempo todo da cirurgia no
hospital, e assim que a cirurgia terminou, foram visitar Ruri no quarto dela.
-Papai, mamãe, posso conversar um pouco a sós
com ela por favor?
Havia um olhar de súplica nos olhos de Lune e
um tom idem na voz dela.
-Claro, filha! Vem Momiji, daqui a pouco a
gente volta !
Assim que a porta se fechou, Lune se debruçou
sobre o peito da irmã e pegou com as duas mãos na mão esquerda dela e disse:
-Desculpe, desculpe, desculpe, por favor me
perdoe, irmãzinha...por minha culpa você está assim agora...
-Imagine, Lune-san, você não tem culpa de nada...
-Tenho sim! Se eu tivesse ido com aquele
bandido, nada disto teria acontecido com você!
-Nem brinque com uma coisa destas, onee-chan ! Ele
iria te estuprar, e poderia inclusive te matar depois !Eu jamais permitiria uma
coisa destas, de jeito nenhum ! Eu corri para tentar te socorrer porque a amo e
queria te salvar, mas você não tem culpa daquele brutamontes te cantar!
-Antes perder minha virgindade do que perder
minha irmãzinha, que amo tanto...eu faria este sacrifício sem pensar duas
vezes, Ruri-san!
-Obrigada, mas esqueça, não aconteceu nada
disto e eu vou me recuperar direitinho. Você ficou com sua virgindade, eu com a
minha, e sobrevivi, graças a você, que me salvou, pois outro carro poderia não
me ver e ter passado por cima de mim .O médico me disse que tive muita sorte,
se a roda do carro tivesse passado por cima da minha cabeça, ou do meu peito,
eu estaria morta, por sorte foram só as pernas! Mas obrigada, muito obrigada mesmo,
Lune-nee-san, por ter salvo a minha vida e por se dispor a qualquer sacrifício
por mim!
-Imagine, Ruri-san, irmã é para estas
coisas...mas eu vou cuidar de você direitinho, com todo o carinho ! Não vou
deixar nem a mamãe cuidar de você, só eu !
Lune continuava a se sentir mais culpada do que
nunca e buscava uma forma de compensar este sentimento que a consumia.
De fato, Lune cumpriu sua promessa: por mais de
um mês cuidou sozinha de Ruri, com dedicação e carinho e não deixava ninguém
mais cuidar dela, empurrando a cadeira de rodas e depois a acompanhando com as
muletas, até as pernas de Ruri sararem e ela tirar os gessos. Depois,
acompanhou todo o processo de recuperação da irmã, até ela conseguir andar
perfeitamente.
Porém, depois que Ruri se recuperou, Lune
voltou a ignorá-la e evitar um relacionamento mais profundo com ela como
sempre. Mal se viam, mal se falavam, mas o olhar de uma para a outra era sempre
carinhoso. Dali por diante, Lune seria o cão de guarda de Ruri, e não deixava
ninguém com segundas intenções se aproximar dela. Mesmo de longe, velava por
ela. Ela encanou que como irmã mais velha, era seu dever morar cuidar e
proteger a irmã mais nova.
Para quem lhe perguntasse, Lune dizia que não
se importava em ter a amizade de ninguém e que não se importava com ninguém
além dela mesma. Na prática, ela era a protetora vigilante e feroz dos dois
irmãos.
Ela não admitia para si mesma os sentimentos
que tinha por seus familiares e por Rina, mas que ela os tinha, os tinha. Só
que não sabia como entender e lidar com estes sentimentos, que a deixavam
confusa e desorientada e mexiam com sua racionalidade costumeira. O que a
exasperava era que suas tentativas de racionalizar suas emoções e sentimentos
falhavam todas, e redundavam em argumentos meramente...emocionais ! E ela não
os aceitava como válidos, mesmo seu coração querendo. Mas naquela época, ela
reprimia e rejeitava seu próprio coração, que com muito custo, muita
dificuldade e raridade se expressavam em explosões convulsas, depois de muita
auto- opressão, pois ela era a ditadora de si mesma e não se permitia exibir
sentimentos nem mesmo para si mesma, quanto mais para os outros, apenas a racionalidade
era permitida.
Por outro lado, este mesmo lado racional
brilhava:o costume de sair depois da aula todas as tardes para passear na
cidade e observar e criticar a Sociedade se cristalizou e se tornou hábito
arraigado.O trajeto era sempre o mesmo,e seguia uma ordem rígida e
burocrática,inclusive a mania de ,bem no meio de seu passeio, parar numa mesma
praça e sentar sempre no mesmo banco e descansar por exatos vinte minutos, para
depois continuar.
Poucos meses depois,viria o dia em que o
passeio que mudaria toda a sua vida, o passeio em que encontraria Takeo e o
conheceria de verdade,viria a acontecer,mas por enquanto Lune fitava o por do
sol na praça, com suas pombas e olhava para a grande cidade, sem ter idéia de o
que o futuro lhe reservava !
Este mesmo sol incidindo sobre aqueles
olhinhos de olhar meigo doce, mas
pensativos, ia se pondo, enquanto ela fazia a contagem regressiva no relógio de
pulso para completar os vinte minutos e se colocar em marcha novamente.Ela não
sabia, mas o que estava por vir, meses depois, seria decisivo em sua vida e ela
nunca mais seria a mesma!
Mas dentro daquela mente que brilhava aos últimos
raios fulgurantes do poente,a Nova Lune já estava, sem que ela mesma soubesse,
em gestação,para logo raiar, e a antiga, como o próprio Sol, já estava
começando a se pôr no horizonte de seu complexo e maravilhoso panorama
psicológico.
Por alguma razão, num rompante de emoção, Lune
murmurou para si mesma uma citação de Rudyard Kipling:
-As estrelas desmaiam- Disse o Lobo Gris-Onde me
aninharei amanhã?
(Fim do Primeiro Volume- Por continuar)
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