quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 29 (Último Episódio)



Momiji, saiu de casa com a mesma pressa, com sua pequenina van.
Logo os dois chegaram e encontraram Lune no corredor do hospital, toda aflita e chorosa. Ao ver os dois, que chegaram quase ao mesmo tempo, ela os abraçou forte, e eles a procuraram consolar. Um pouco depois, Kazuo foi conversar com os médicos enquanto Momiji tomava conta de Lune.
O médico explicou que não houve nenhum coágulo cerebral, mas que a situação da perna dela era séria e que ela teria de passar por uma cirurgia, e havia risco de ter alguma sequela, e teria de ficar um tempo de muletas ou cadeira de rodas.
Os três ficaram o tempo todo da cirurgia no hospital, e assim que a cirurgia terminou, foram visitar Ruri no quarto dela.
-Papai, mamãe, posso conversar um pouco a sós com ela por favor?
Havia um olhar de súplica nos olhos de Lune e um tom idem na voz dela.
-Claro, filha! Vem Momiji, daqui a pouco a gente volta !
Assim que a porta se fechou, Lune se debruçou sobre o peito da irmã e pegou com as duas mãos na mão esquerda dela e disse:
-Desculpe, desculpe, desculpe, por favor me perdoe, irmãzinha...por minha culpa você está assim agora...
-Imagine, Lune-san, você  não tem culpa de nada...
-Tenho sim! Se eu tivesse ido com aquele bandido, nada disto teria acontecido com você!
-Nem brinque com uma coisa destas, onee-chan ! Ele iria te estuprar, e poderia inclusive te matar depois !Eu jamais permitiria uma coisa destas, de jeito nenhum ! Eu corri para tentar te socorrer porque a amo e queria te salvar, mas você não tem culpa daquele brutamontes te cantar!
-Antes perder minha virgindade do que perder minha irmãzinha, que amo tanto...eu faria este sacrifício sem pensar duas vezes, Ruri-san!
-Obrigada, mas esqueça, não aconteceu nada disto e eu vou me recuperar direitinho. Você ficou com sua virgindade, eu com a minha, e sobrevivi, graças a você, que me salvou, pois outro carro poderia não me ver e ter passado por cima de mim .O médico me disse que tive muita sorte, se a roda do carro tivesse passado por cima da minha cabeça, ou do meu peito, eu estaria morta, por sorte foram só as pernas! Mas obrigada, muito obrigada mesmo, Lune-nee-san, por ter salvo a minha vida e por se dispor a qualquer sacrifício por mim!
-Imagine, Ruri-san, irmã é para estas coisas...mas eu vou cuidar de você direitinho, com todo o carinho ! Não vou deixar nem a mamãe cuidar de você, só eu !
Lune continuava a se sentir mais culpada do que nunca e buscava uma forma de compensar este sentimento que a consumia.
De fato, Lune cumpriu sua promessa: por mais de um mês cuidou sozinha de Ruri, com dedicação e carinho e não deixava ninguém mais cuidar dela, empurrando a cadeira de rodas e depois a acompanhando com as muletas, até as pernas de Ruri sararem e ela tirar os gessos. Depois, acompanhou todo o processo de recuperação da irmã, até ela conseguir andar perfeitamente.
Porém, depois que Ruri se recuperou, Lune voltou a ignorá-la e evitar um relacionamento mais profundo com ela como sempre. Mal se viam, mal se falavam, mas o olhar de uma para a outra era sempre carinhoso. Dali por diante, Lune seria o cão de guarda de Ruri, e não deixava ninguém com segundas intenções se aproximar dela. Mesmo de longe, velava por ela. Ela encanou que como irmã mais velha, era seu dever morar cuidar e proteger a irmã mais nova.
Para quem lhe perguntasse, Lune dizia que não se importava em ter a amizade de ninguém e que não se importava com ninguém além dela mesma. Na prática, ela era a protetora vigilante e feroz dos dois irmãos.
Ela não admitia para si mesma os sentimentos que tinha por seus familiares e por Rina, mas que ela os tinha, os tinha. Só que não sabia como entender e lidar com estes sentimentos, que a deixavam confusa e desorientada e mexiam com sua racionalidade costumeira. O que a exasperava era que suas tentativas de racionalizar suas emoções e sentimentos falhavam todas, e redundavam em argumentos meramente...emocionais ! E ela não os aceitava como válidos, mesmo seu coração querendo. Mas naquela época, ela reprimia e rejeitava seu próprio coração, que com muito custo, muita dificuldade e raridade se expressavam em explosões convulsas, depois de muita auto- opressão, pois ela era a ditadora de si mesma e não se permitia exibir sentimentos nem mesmo para si mesma, quanto mais para os outros, apenas a racionalidade era permitida.
Por outro lado, este mesmo lado racional brilhava:o costume de sair depois da aula todas as tardes para passear na cidade e observar e criticar a Sociedade se cristalizou e se tornou hábito arraigado.O trajeto era sempre o mesmo,e seguia uma ordem rígida e burocrática,inclusive a mania de ,bem no meio de seu passeio, parar numa mesma praça e sentar sempre no mesmo banco e descansar por exatos vinte minutos, para depois continuar.
Poucos meses depois,viria o dia em que o passeio que mudaria toda a sua vida, o passeio em que encontraria Takeo e o conheceria de verdade,viria a acontecer,mas por enquanto Lune fitava o por do sol na praça, com suas pombas e olhava para a grande cidade, sem ter idéia de o que o futuro lhe reservava !
Este mesmo sol incidindo sobre aqueles olhinhos  de olhar meigo doce, mas pensativos, ia se pondo, enquanto ela fazia a contagem regressiva no relógio de pulso para completar os vinte minutos e se colocar em marcha novamente.Ela não sabia, mas o que estava por vir, meses depois, seria decisivo em sua vida e ela nunca mais seria a mesma!
Mas dentro daquela mente que brilhava aos últimos raios fulgurantes do poente,a Nova Lune já estava, sem que ela mesma soubesse, em gestação,para logo raiar, e a antiga, como o próprio Sol, já estava começando a se pôr no horizonte de seu complexo e maravilhoso panorama psicológico.
Por alguma razão, num rompante de emoção, Lune murmurou para si mesma uma citação de Rudyard Kipling:
-As estrelas desmaiam- Disse o Lobo Gris-Onde me aninharei amanhã?


                                                       (Fim do Primeiro Volume- Por continuar)

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