Tiranossauro!
Era uma noite tempestuosa e agitada . Todo o
bando viajava unido, ninguém parava , pois sabiam que não existia lugar seguro
. Era uma marcha rápida e compassada ,
mas , curiosamente , pouco ruidosa , somente a respiração pesada e ofegante
cortava o silencio como faca .
Difícil mesmo não era percorrer quilômetros e quilômetros dias a fio , mas sim conter
os jovens filhotes que achavam que sabiam “tudo” . Muitos já haviam morrido assim , subestimando
o perigo e contando vantagens como não temer
`a ninguém . Os trovões ribombavam no céu
, clareado pelos relãmpagos . Raios zuniam no céu e embaixo tudo era
tenebroso . Contavam –se em cinquenta e
agora tinham de atravessar o rio . Eles entraram na `agua tentando vencer a forte correnteza . Era
apenas uma das muitas armadilhas de uma migração. Ouviram –se os mugidos , os berros de socorro e as lamúrias dos
muitos afogados e tragados pela correnteza impiedosa . Foi quando um
deles , adolescente , desgarrou – se do bando , e conseguir chegar `a
outra margem do rio, embora tivesse sido arrastado por uns quatrocentos metros
rio abaixo. Com dificuldade, ainda
engasgado , teve a sorte de sobreviver sem se deixar afogar, e saiu trêmulo e
exausto, caindo na praia do rio , dormindo prontamente. Meia hora depois,
apenas , acordou e a tempestade continuava, célere .
O bando sumira . Estava sozinho e amedrontado
agora . E com fome .
No entanto , ele viu logo adiante, na beirada
da floresta , tenras flores que ele bem sabia que mitigariam sua fome .
Noite alta , a chuva diminuiu seu ritmo
finalmente . Quando ele olhou para um lado, no inicio da floresta escura
avistou um par de enormes pegadas . Ele tremeu de medo , pois sabia
perfeitamente de quem eram elas . Bem sabia ele que nada mais podia ser tão terrível
como o dono daquelas pegadas. A noite agora estava silenciosa, e o silêncio
apavora como poucas coisas na vida : a iminência de um barulho assusta muito
mais do que o barulho em si mesmo!
Sem ter outra saída, ele avançou floresta adentro . Um passo ,
dois passos , e ele sentiu um cheiro que o apavorou mais ainda , pois combinava
com as pegadas . e pior ainda , indicava
que o portador daquele cheiro estava por perto , muito perto .Devagar ,
cuidadosamente , passo após passo .
SUSTO!
Uma visão inquietante : um cadáver. Uma
vitima do dono das pegadas ! Ele se tornou ainda mais nervoso e inquieto . A
carcaça estava devorada pela metade,
aberta , com ainda algumas vísceras para fora e um cheiro forte e nauseante
dela exalava. O perigo para ele agora era
iminente, ele bem o sabia , e poderia vir de qualquer direção .Horrorizado ele
via naquela carcaça o que poderia acontecer com ele próprio . Ele mugiu para
chamar seus companheiros, ninguém respondeu.
Ele começou a recuar . Seu coração estava
disparado e ele se sentia mal .
Mas o pior mesmo era o silêncio . E ainda
pior era o temerário fato de que não conseguia mais captar aquele cheiro, nem
via mais suas pegadas. Isso poderia iludir a muitos dando a impressão que o
perigo passara, mas ele sabia bem que este era o último sinal antes do
desastre.Estava extremamente preocupado e apavorado ate os ossos!
O estalido de um galho. “Crack !”
O pavor recrudesceu ainda mais.
SUSTO!
Ele bramiu desesperado , e agora não tinha para onde correr, pois
atrás de si tinha um muro de arvores muito fechado que o trancou em uma
armadilha sem fuga, sem saída!
A floresta parecia se abater mais ainda sobre
ele , e mesmo fechar se em volta dele `a cerca – lo. Era o que ele sentia.
Ali próximo , uma mandíbula de dentes alvos e
afiadíssimos , serrilhados e enormes , pingava babando sangue da sua ultima
vitima .
Uma sombra medonha foi crescendo no ritmo dos
relâmpagos e do estrondo dos trovões, que emudeceram de repente novamente , o
que o deixou ainda mais apavorado !
Dois passos chafurdaram na lama .
ATAQUE!
O sibilo tétrico dos dentes cortando o ar como facas
rasgou o silencio e ele percebeu.
A figura pavorosa daquele predador cresceu
diante dele, num rapidíssimo entreolhar . Um desvio mais rápido ainda ocorreu.
Ele sabia , que com seu enorme chifre no nariz podia acertar os intestinos ou o
coração daquele predador e vencer a luta. Mas sabia também que só teria uma
chance . A fera não erraria mais o bote desta vez !
Avançou. E errou . Seu chifre se afundou na
perna esquerda do predador, na altura do joelho, que urrou de dor.
Furioso, o carnívoro abriu suas mandíbulas sanguinárias e elas se fecharam no pescoço da
nova víima,por detrás da carapaça . A ultima coisa que o pobre coitado daquele Monoclonius apavorado
ouviu foi o “ crack” de sua própria
espinha dorsal, partida em duas pelas mandíbulas cruéis daquele...
TIRANOSSAURO!
FIM
Cristiano Camargo
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