quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Conto: Tiranossauro !



Tiranossauro!




Era uma noite tempestuosa e agitada . Todo o bando viajava unido, ninguém parava , pois sabiam que não existia lugar seguro . Era uma marcha rápida  e compassada , mas , curiosamente , pouco ruidosa , somente a respiração pesada e ofegante cortava o silencio como faca .
Difícil mesmo não era percorrer quilômetros e quilômetros  dias a fio , mas sim conter os jovens filhotes que achavam que sabiam “tudo”  . Muitos já haviam morrido assim , subestimando o perigo e contando vantagens  como não temer `a ninguém . Os trovões ribombavam no céu  , clareado pelos relãmpagos . Raios zuniam no céu e embaixo tudo era tenebroso . Contavam –se em cinquenta  e agora tinham de atravessar o rio . Eles entraram na `agua  tentando vencer a forte correnteza . Era apenas uma das muitas armadilhas de uma migração. Ouviram –se os mugidos  , os berros de socorro e as lamúrias dos muitos afogados e tragados pela correnteza impiedosa .  Foi quando um  deles , adolescente , desgarrou – se do bando , e conseguir chegar `a outra margem do rio, embora tivesse sido arrastado por uns quatrocentos metros rio  abaixo. Com dificuldade, ainda engasgado , teve a sorte de sobreviver sem se deixar afogar, e saiu trêmulo e exausto, caindo na praia do rio , dormindo prontamente. Meia hora depois, apenas , acordou e a tempestade continuava, célere .
O bando sumira . Estava sozinho e amedrontado agora . E com fome .
No entanto , ele viu logo adiante, na beirada da floresta , tenras flores que ele bem sabia que mitigariam sua fome .
Noite alta , a chuva diminuiu seu ritmo finalmente . Quando ele olhou para um lado, no inicio da floresta escura avistou um par de enormes pegadas . Ele tremeu de medo , pois sabia perfeitamente de quem eram elas . Bem sabia ele que nada mais podia ser tão terrível como o dono daquelas pegadas. A noite agora estava silenciosa, e o silêncio apavora como poucas coisas na vida : a iminência de um barulho assusta muito mais do que o barulho em si mesmo!
Sem ter outra saída,  ele avançou floresta adentro . Um passo , dois passos , e ele sentiu um cheiro que o apavorou mais ainda , pois combinava com as pegadas  . e pior ainda , indicava que o portador daquele cheiro estava por perto , muito perto .Devagar , cuidadosamente , passo após  passo .
SUSTO!
Uma visão inquietante : um cadáver. Uma vitima do dono das pegadas ! Ele se tornou ainda mais nervoso e inquieto . A carcaça  estava devorada pela metade, aberta , com ainda algumas vísceras para fora e um cheiro forte e nauseante dela exalava.  O perigo para ele agora era iminente, ele bem o sabia , e poderia vir de qualquer direção .Horrorizado ele via naquela carcaça o que poderia acontecer com ele próprio . Ele mugiu para chamar seus companheiros, ninguém respondeu.
Ele começou a recuar . Seu coração estava disparado e ele se sentia mal .
Mas o pior mesmo era o silêncio . E ainda pior era o temerário fato de que não conseguia mais captar aquele cheiro, nem via mais suas pegadas. Isso poderia iludir a muitos dando a impressão que o perigo passara, mas ele sabia bem que este era o último sinal antes do desastre.Estava extremamente preocupado e apavorado ate os ossos!
O estalido de um galho. “Crack !”
O pavor recrudesceu ainda mais.
SUSTO!

Ele bramiu desesperado  , e agora não tinha para onde correr, pois atrás de si tinha um muro de arvores muito fechado que o trancou em uma armadilha sem fuga, sem saída!
A floresta parecia se abater mais ainda sobre ele , e mesmo fechar se em volta dele `a cerca – lo. Era o que ele sentia.
Ali próximo , uma mandíbula de dentes alvos e afiadíssimos , serrilhados e enormes , pingava babando sangue da sua ultima vitima .
Uma sombra medonha foi crescendo no ritmo dos relâmpagos e do estrondo dos trovões, que emudeceram de repente novamente , o que o deixou ainda mais apavorado !
Dois passos chafurdaram na lama  .                                                           
ATAQUE!
O sibilo tétrico dos dentes cortando o ar como facas rasgou o silencio e ele percebeu.
A figura pavorosa daquele predador cresceu diante dele, num rapidíssimo entreolhar . Um desvio mais rápido ainda ocorreu. Ele sabia , que com seu enorme chifre no nariz podia acertar os intestinos ou o coração daquele predador e vencer a luta. Mas sabia também que só teria uma chance . A fera não erraria mais o bote desta vez !
Avançou. E errou . Seu chifre se afundou na perna esquerda do predador, na altura do joelho, que urrou de dor.
Furioso, o carnívoro   abriu suas mandíbulas  sanguinárias e elas se fecharam no pescoço da nova víima,por detrás da carapaça . A ultima coisa que o pobre coitado daquele Monoclonius apavorado ouviu foi o “ crack” de sua própria  espinha dorsal, partida em duas pelas mandíbulas cruéis daquele... TIRANOSSAURO!

                                      FIM

Cristiano Camargo
 

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