segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens-Episódio 26





-Escute você, sua ignara, falsa, estúpida !Eu não vou ser falsa como você para agradar a ninguém ! Quem quiser gostar de mim que goste do jeito que eu sou !
-Ah, é?É assim, é? Pois é por isto que ninguém gosta de você e você está encalhada até hoje !Eu vou é te ensinar uma bela lição aqui na rua mesmo!
-Prefiro que não gostem de mim pelo que sou, não sou como você, que abre as pernas para qualquer um só para agradar, quem troca virgindade por dinheiro é prostituta!Sinto muito, mais eu não me corrompo !Agora se você quer apelar para a violência física é porque a retardada aqui é você, pois não consegue nem ter argumentos para rebater os meus !
SPLAAAFT !
Marika  respondeu com um tapanão, e Lune se levantou do chão logo depois e devolveu outro belo tapa nela e as duas se engalfinharam no meio da rua e começaram a rolar no chão, uma sobre a outra, se mordendo,beliscando, arranhando e puxando os cabelos.
O que elas nem perceberam é que as duas famílias estavam do lado de fora da casa assistindo a tudo...
Não teve jeito, Kazuo e Momiji pediram solenes desculpas pelo acontecido e enquanto Momiji ia apartar a briga, Kazuo tratou de dar a partida no carro e buscar todas as malas de volta.
Momiji arrancou Lune de cima da prima e a puxou para dentro do carro pela orelha e a jogou com violência no banco de trás.
Rápidamente e em silêncio, toda a Família Tamasuki partia e voltava para casa. A visita de fim de semana estava estragada e as relações com a família da irmã de Kazuo idem.
O clima dentro do carro era sombrio e constrangedor, de um silêncio sepulcral.
Mas na mente de Lune o clima era de desolação,pois como Marika era mais forte que ela, ela tinha apanhado bastante na briga e estava cheia de hematomas , descabelada e com dores por todo o corpo, mas o que mais lhe doía era ter perdido a briga e ter tido de improvisar sem usar os argumentos que poderia ter usado.Ela não gostava que emoções predominassem sobre sua racionalidade, e um forte sentimento de inferioridade tomou conta de sua mente, incendiando-a. Ela sentia o peso da censura pública a oprimi-la e de repente se sentiu mais só do que nunca, num mundo em que todos estavam contra ela e ela tinha todas as culpas do mundo em fazer o que julgou ter sido o correto.A mágoa dela com a incompreensão de todos e para com o que ela chamava de Ditatorialidade da Falsidade e da Hipocrisia era enorme, e sua vontade era de chorar abundantemente.Mas seu orgulho próprio, sempre tão forte ,  reprimia em expressar o que sentia. Não, não ali na frente de todo mundo, não para se sentir mais inferior ainda...
Para seu alívio, finalmente chegaram em casa e ela foi correndo direto para o seu quarto, já se imaginando chorando aos cântaros ao chegar lá.
Mas para sua surpresa, as lágrimas não saíam. Não desta vez.Mesmo os sentimentos tão poderosos como estavam não conseguiam quebrar os muros de sua auto repressão, e quanto mais triste e deprimida ficava, e mais vontade de chorar tinha, mais este muro se fortalecia.Numa angústia torturante, ela não entendia o por que de isto acontecer!
O desespero rasgava sua alma como as garras de uma leoa ensandescida e sua mente sempre tão perfeitamente ordenada,burocrática, entrou em colapso, no abismo do caos imprevisível!
Os pensamentos eram arbitrários e desconexos, nada fazia sentido e auto críticas e censuras pipocavam em sua mente em profusão frenéticamente, de modo incessante e cada vez mais intenso.
Em um suposto delírio pensou ter visto o rosto  carinhoso de Rina, mas se nem ela sabia mais se sonhava ou vivia,onde estava e o que fazia,como poderia sua amiga estar ao seu lado, como poderia?
Lune ao entrar no quarto pensara ter trancado a porta do quarto, mas na verdade não o fizera.
De fato, Kazuo ficou tão preocupado com ela que pediu a Rina para ir consolá-la, pois sabia que ela seria a única pessoa que a filha escutaria naquele momento.Momiji se trancara no quarto de casal chorando sem parar e Ruri e Otaru também tinham ido para seus respectivos quartos.
Logo Rina chegou e Kazuo a atendeu e pediu para que ela subisse ao quarto de Lune.
A amiga bateu na porta, mas Lune sequer a escutou.Então ela entrou e encontrou a amiga deitada meio de bruços na cama,num estado que parecia catatônico.
Rina se deitou ao lado dela e abraçou por trás, acariciando os cabelos dela.
Então Lune começou a sentir ondas que iam e vinham em sua cabeça, que pareciam ter um efeito calmante sobre ela.Ela se virou de barriga para cima e viu a amiga, mas não acreditou direito no que viu.Na verdade nem sabia mais no que acreditar!
Demorou alguns minutos, mas depois de Rina levantar seu torso e a abraçar com força e as lágrimas dela molharem as costas de Lune, ela finalmente entendeu o que via e olhou para os olhos encharcados de Rina, que era toda  pura preocupação!
Num átimo, Lune inconscientemente agarrou a amiga num abraço e uma onda incontível de emoção, como uma tsunami contra o quebra mar, finalmente quebrou o muro de auto repressão e auto censura dela e seus sentimentos extravasaram como um vulcão em erupção!
Demorou, mas finalmente a ordem foi retornando e tudo foi tomando seus lugares de volta na velha ordem bem organizada de sempre e sua consciência  reiniciou-se como um computador que acabou de ser ligado.
-Calma, calma, eu estou aqui com você, Lune-san...
-Obrigada, Rina-san, obrigada mesmo, olha, eu realmente precisava disto...
-Imagine, amigas são para estas coisas...quer me contar o que aconteceu?
-Você sempre me socorre quando eu mais preciso, não, Rina-san?Você é mesmo um doce de pessoa humana...
E Lune contou todo o ocorrido,esquecendo-se completamente que tinha brigado com a amiga anteriormente.
Foi difícil Rina esconder da amiga a surpresa e o espanto com tudo o que aconteceu, mas pegou um kit de primeiros socorros na sua bolsa e enquanto ia tratando os ferimentos de Lune,e cuidando dela com carinho, foi dizendo:
-Entendi, Lune, é, são as regras sociais,que na nossa cultura são muito rígidas e não podem ser quebradas, e você quebrou todas elas como quem dá um soco no espelho...mas eu entendo também como você se sentiu, e gostaria de poder ter estado lá, certamente a teria defendido!
-Obrigada, Rina-san, você é uma amiga de verdade !
-Imagine,Lune-san. Bom,eu já sei bem claramente o que pensas sobre as regras sociais, mas você gostaria de saber o que penso delas?
-Sou toda ouvidos !
-Obrigada !Então, ora, minha vontade muitas vezes é dizer danem-se as regras sociais!E não é só por que muitas delas são pura falsidade e hipocrisia,vou mais longe: elas são grilhões que aprisionam nossa identidade, nossa natureza, nosso jeito de ser,nossos diferenciais.Regras sociais para que as pessoas meramente se tolerem umas às outras e evitem situações constrangedoras para ambos os lados.São, como você frisou muito bem, máscaras sociais que as pessoas usam entre si,pois nossa sociedade é superficial e vive de aparências, não de essências.Mas eu queria te dizer que tudo isto depende do modo com que você as usa.Você pode usar as regras sociais contra elas mesmas e assim, manter-se sendo você mesma, preservando sua identidade e coerência consigo mesma.
-Como assim, Rina-san?Não entendi...
-Lembra dos princípios de Maquiavel?Junte eles à uma ironia fina e sofisticada, com argumentos sofisticados, ridicularizando a pessoa de um modo que a humilhe, mas ela demore a perceber.Quem for inteligente irá perceber e irá rir ou sorrir,pois a ofensa transformada em humor descontrai o ambiente, manda a mensagem e faz com que a outra pessoa não tenha argumentos.Assim, ao invés de todos ficarem constrangidos, só a pessoa ficará e perante todos você será vista como vencedora.Diplomacia, Lune-san,poucas coisas são mais irônicas do que a diplomacia,usar a falsidade dos outros contra eles mesmos !Enfim, dividir para reinar!
-O que exatamente eu estria dividindo?Perguntou Lune.
-A própria pessoa que você quer desmascarar.Ela ficará dividida entre a raiva, a dúvida,o constrangimento e a angústia de não ter como se defender, além da humilhação das regras sociais imporem a ela reconhecer sua superioridade e ter de pedir desculpas a você a todos.
-Huum, bem interessante, gostei !

(por continuar)

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