Subúrbia
Caos.Total
desorganização , ordenação desvairada, fractal,confusão.
Pessoas,
multidões, rostos sem rosto, faces sem expressão, expressando suas
angústias,borboleteando em meio à vidas sem sentido.
O vento
frio irrompe pelas largas avenidas, frio que reflete a desumanidade espelhada
na impessoalidade profissional das ruas e avenidas iluminada por gases luminosos
frios como a própria subúrbia.
Veículos
circulam em alta velocidade, pressa de se chegar a nenhum lugar, não há um
objetivo,nem sentido.Placas, números,textos,pessoas estampadas,consumo.Todos
estão ocupados com suas próprias vidas, seus pequenos problemas.
Mas esta
é apenas a superfície.Como as galerias fluviais da cidade, nela há um fluxo
subterrâneo e subconsciente de sentimentos e emoções aprisionados, que se
escondem em meio à desolação da frustração.
Por trás
dos edifícios o Sol se põe e nasce,o arco íris brilha, mas ninguém os vê.Por
trás dos rostos, decepção continua, angústia de se ter sonhos tão
carinhosamente acalentados que ficam a cada novo dia mais distantes.
Por
dentro dos veículos e de sua pressa,uma fome de viver,uma noção barata de
amor,solidão.
Por trás
da Subúrbia ,grande e poderosa, por trás do brilho néon cegante, mas gelado, a
esperança conduz todos a lugar nenhum, e nega sua própria impossibilidade de
existir.
Por trás
da Subúrbia, grande e poderosa, ou melhor, por baixo dela, se esconde a
pequenez humana e suas limitações, estampadas a cada novo dia em cada rosto
aparentemente conformado.
Por trás
da Subúrbia,grande e poderosa,se esconde o Poder corrupto, a riqueza da Elite
como contraponto da massa uniforme e indistinta e sua falta de identidade.
Por trás
da Subúrbia, grande e poderosa,enfim,esta a grandiosidade da miséria humana, em
todo seu drama e pungência, para a qual a multidão sem rosto e sem dignidade sucumbe
qual gado, e qual gado é tangida pelas regras ditatoriais da Sociedade de
Consumo,a própria Subúrbia, que faz de sua miséria sua grandeza e opulência.
Quem
esta a margem dela, como Uthuu, a pedinte,sabe bem os segredos da Subúrbia,pois
sofre em sua pele arrepiada de frio e o vento gelado que corre com os veículos
pelas avenidas espelhando a frieza da indiferença humana, impiedosa e cruel.
Uthuu já
perdeu a esperança.Não espera mais da vida nada além do que morrer.Ainda jovem,
sua pele feminina tão maltratada e rija,ressente-se da falta de calor humano, e
clama por carinho, cuidado e proteção, sonhos outrora tão acalentados, mas
agora perdidos, jogados fora em meio ao labirinto infinito de ruas da cidade.Os
olhos verdes estão sem brilho, e os cabelos loiros estão duros e ressecados.As
roupas estão rotas e os pés endurecidos de frio não tem nada para vesti-los e
aquecê-los.
As mãos
trêmulas tem unhas quebradas e enegrecidas por maus tratos.
Uma
sensação de imensa fome devora seu abdômen.Fome não apenas de alimento, mas de
falta, saudades, solidão,e a mente sabe, não adianta refugiar-se no passado,
ele é medonho, e mais assustador do que a própria madrugada congelante que ela
tem de enfrentar todos os dias.
O nada
que possui é constantemente usurpado, e ela sabe, que mais uma vez, quando a
noite chegar, como ocorre todo santo dia, ela será mais uma vez estuprada.
O
respeito, o amor, a dignidade, o carinho , o conforto, são sonhos distantes.
Então um
dia, Uthuu olha para o céu,pela primeira vez em sua vida.
Mesmo
ali, entre os prédios,em meio a todo o frenesi louco e vazio da Subúrbia,em
meio a tamanha multidão sem rosto, um pedacinho de Arco Íris aparece depois de
um pouco de chuva.
O rosto
dela se ilumina.O que ela vê lhe parece um sorriso, franco, iluminado,
carinhoso, colorido, como seu sorriso estampado com dificuldade em sua face tão
sofrida.Lágrimas brotam de seus olhos de brilho estrelado, e ela salta no
ar,levanta as mãos e grita:
-Que
lindo !
FIM
Cristiano Camargo
Nenhum comentário:
Postar um comentário