O sono pesado, sem sonhos, por fim desvaneceu-se,assim
ele pensava,levantando-se a colocar os pés nus no chão.
No quarto escuro, de janela pequena,a luz da lua cheia
perpretava o breu,abrindo caminho para
um pouquinho de luz.Talvez tivesse sido este pequeno lúmen que o tenha
despertado,mas enfim,ele estava incomumente de cabeça baixa ao continuar
dirigindo seus pés em direção ao chão.
Então,uma sombra, pequenina e rápida, vacilantemente
rápida,passou por debaixo de seus pés, quando estes já estavam em céleremente
adiantado caminho para o solo firme.
Susto !
-Aaaaaaaah!Um raaaato !Um rato! Socorrooo,tira isto
daqui ! Tira isto daqui !
-Aaaaaaaaah! Um homem ! Um homem! Socorro,socorro,tira
ele daqui!
Uma pequena e estridente voz tinha soado e vinha do chão.O
rato fugiu para o canto do quarto, ofegante e bufando,tremendo de mêdo.
O homem, encolhido em cima da cama, ajoelhado,também
tremia de mêdo.Mêdo?Não, aquilo era pavor,tanto pavor que ele estava até
enjoado !
No primeiro instante, ele nem percebera que o rato
falara !
Começou a pensar de quem era esta voz,e com o cantinho
dos olhos, ainda com as mãos sobre eles, olhou para o rato de dimensões
generosas, que jazia encostado num canto escuro, de pé nas patas traseiras,e de
costas para ele.Então ele rememorou o encontro inicial,e, estranho, a sombra
que vira passando era muito menor do que aquele monstrengo nojento que estava
encurralado em um canto!
Para sua surprêsa,o rato começou a vestir um pequeno
avental, e portou um óculos , e tinha nas patas dianteiras uma planilha com
papel e caneta.Tudo tamanho miniatura.O rato então se virou para a frente e
falou:
-Ahahaaaaam!Olá, boa noite, sou a Dra. Rattus Ratzenbergen, formada na Universidade de
Ratzford,sua terapeuta.Você foi diagnosticado como portador de Murofobia grave,
e seu tratamento começa comigo agora.Alguma objeção ou comentário?
-Oh, meu Deus, o rato falou ! O rato falou !
-Ahaam, eu sou uma fêmea, por favor respeite !Disse ela,
com olhar severo.Ao ficar brava, na visão do Paciente,ela parecia maior ainda,
do tamanho de um gato grande.
Atônito com o absurdo da situação, o Paciente
resignou-se, mas ainda jazia pálido de terror.
-Por favor responda,eu o cumprimentei, por favor seja
educado !Procure ser gentil comigo, sim?
-Boa...boa noite, senhora!
O humor da terapeuta exaltou-se num rompante:
-Senhorita, entendeu!Está me chamando de velha, por
acaso,Paciente?
O paciente encolheu-se ainda mais no canto,tremendo mais
ainda.
-Eu sou senhorita, ainda não sou casada, mas procuro
pretendentes,hihihi...ahaaaam,falando sério agora, fique à vontade, não precisa
ter mêdo de mim.
-Eu tenho sim ! Eu tenho!Estou apavorado !
-Posso interpretar sua resposta como uma necessidade
básica inconsciente e instintiva de ter mêdo de mim?Muito bem, então, me diga
agora por quê você tem necessidade de ter medo de nós ratos,e gostaria também
que você elaborasse uma lista dos danos potenciais no sentido de ameaçar a sua
vida que podemos provocar em você.
Paciente estava quase revirando os olhos para o cérebro
de tanto terror só de pensar.Após agônicos minutos de silêncio, ao ver que a
Doutora estava sentada calmamente numa poltroninha de couro ,e com as pernas tras
eiras cruzadas,
ele disse:
-A senhora...
-Senhorita, eu já disse! Pombas! Você é burro, Paciente
?
-Desculpe,desculpe,por favor ! Senhorita, a senhorita
poderia morder a minha jugular ou carótida e me matar, pular em cima de mim e
abrir minha barriga com seus dentes e devorar meus intestinos!
Estupefata, de olhos arregaladas, a ratazana
repentinamente teve um ataque de riso.A risada rápidamente se transformou numa
gargalhada histérica e ela rolava no chão, até batendo no carpete com as patas
dianteiros, de tanta graça que tinha achado!
Ele não entendia no que ela achava tanta graça.
Após se recompor, a doutora disse:
-Ai, nossa, esta foi demais!Eu, pular no seu pescoço,
morder suas artérias , abrir sua barriga, devorar seus intestinos, credo, coisa
nojenta, aaargh,uuuh!
Ela ligou um projetor de slides, e começou a mostrar
algumas imagens:
-Ratos não conseguem saltar até a altura do pescoço de
um homem adulto,e nossas mandíbulas não tem força suficiente para realizar esta
proeza, nem muito menos para abrir o abdômem de um homem,está vendo?Depois, nem
temos interesse, nem somos burros, não iríamos atacar uma "presa"
muito maior que a gente, não é muito mais fácil a gente fugir?Para quê arriscarmos nossas vidas?Você tem idéia de
quantos ratos com antropofobia eu já tratei?
-Mas uma simples mordida pode me transmitir doenças
fatais,doutora!Uma simples mordidinha e...
-Nossa, você me acha assim tão poderosa?Obrigada, você é
uma gracinha!Acho que na próxima sessão serei mais carinhosa com você!
-Ai, credo, não chega perto de mim !
-Ah, não ! Eu não acredito! Você tem nojo de mim?Você
está me rejeitando?Você me acha feia?Como você é injusto, não sabe o trabalho
que me deu fazer este penteado nos meus cílios tão longos! Eu tenho cílios
bonitos, não tenho?Se você disser que não, eu te mato, seu bastardooo!
De carinhosa ela passou ara raivosa em instantes.Mas
imediatamente acalmou-se:
-Brincadeirinha, seu bobo! Larga do ventilador de teto,
você vai cair e se machucar, nossa, mas que menino medroso!
O Paciente demorou a largar do ventilador.
-Bom, vamos voltar à consulta.
-Vamos, eu tenho mêdo de suas brincadeiras.
-Você achou que
eu estava brincando?Eu sou muito vaidosa, tenho uma reputaçao à zelar...
A doutora estava com o rosto rubro de vergonha.Mas
continuou:
-Você ainda não me respondeu porque sente necessidade de
sentir mêdo de ratos.
-Não é que eu sinta ter necessidade de ter mêdo,
doutora, é porque eu tenho mêdo mesmo!
-E porque você tem mêdo,se nem ao menos podemos te fazer
mal?Olha, aquele negócio de doença, eu cheguei a ter vontade de gargalhar de
novo, pois não tem nada a ver.Só te transmitiria doenças se eu fizesse xixi ou
cocô em você. Voce não é portador de coprofagia, não é?Ou você quer que eu faça
xixi em você?É este seu fetiche sexual comigo?
A terapeuta enrubesceu de vergonha de novo.
-Não, não, pelo amor de Deus !Credo!
-Uff, ainda bem, credo, que nojo!Mas se não é este seu
fetiche sexual comigo, qual ele é, senhor Paciente?
-Eu não tenho nenhum com a doutora não...
(por continuar)
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