segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Conto: O Rato que sabia pensar- PARTE 1



O sono pesado, sem sonhos, por fim desvaneceu-se,assim ele pensava,levantando-se a colocar os pés nus no chão.
No quarto escuro, de janela pequena,a luz da lua cheia perpretava  o breu,abrindo caminho para um pouquinho de luz.Talvez tivesse sido este pequeno lúmen que o tenha despertado,mas enfim,ele estava incomumente de cabeça baixa ao continuar dirigindo seus pés em direção ao chão.
Então,uma sombra, pequenina e rápida, vacilantemente rápida,passou por debaixo de seus pés, quando estes já estavam em céleremente adiantado caminho para o solo firme.
Susto !
-Aaaaaaaah!Um raaaato !Um rato! Socorrooo,tira isto daqui ! Tira isto daqui !
-Aaaaaaaaah! Um homem ! Um homem! Socorro,socorro,tira ele daqui!
Uma pequena e estridente voz tinha soado e vinha do chão.O rato fugiu para o canto do quarto, ofegante e bufando,tremendo de mêdo.
O homem, encolhido em cima da cama, ajoelhado,também tremia de mêdo.Mêdo?Não, aquilo era pavor,tanto pavor que ele estava até enjoado !
No primeiro instante, ele nem percebera que o rato falara !
Começou a pensar de quem era esta voz,e com o cantinho dos olhos, ainda com as mãos sobre eles, olhou para o rato de dimensões generosas, que jazia encostado num canto escuro, de pé nas patas traseiras,e de costas para ele.Então ele rememorou o encontro inicial,e, estranho, a sombra que vira passando era muito menor do que aquele monstrengo nojento que estava encurralado em um canto!
Para sua surprêsa,o rato começou a vestir um pequeno avental, e portou um óculos , e tinha nas patas dianteiras uma planilha com papel e caneta.Tudo tamanho miniatura.O rato então se virou para a frente e falou:
-Ahahaaaaam!Olá, boa noite, sou a Dra. Rattus  Ratzenbergen, formada na Universidade de Ratzford,sua terapeuta.Você foi diagnosticado como portador de Murofobia grave, e seu tratamento começa comigo agora.Alguma objeção ou comentário?
-Oh, meu Deus, o rato falou ! O rato falou !
-Ahaam, eu sou uma fêmea, por favor respeite !Disse ela, com olhar severo.Ao ficar brava, na visão do Paciente,ela parecia maior ainda, do tamanho de um gato grande.
Atônito com o absurdo da situação, o Paciente resignou-se, mas ainda jazia pálido de terror.
-Por favor responda,eu o cumprimentei, por favor seja educado !Procure ser gentil comigo, sim?
-Boa...boa noite, senhora!
O humor da terapeuta exaltou-se num rompante:
-Senhorita, entendeu!Está me chamando de velha, por acaso,Paciente?
O paciente encolheu-se ainda mais no canto,tremendo mais ainda.
-Eu sou senhorita, ainda não sou casada, mas procuro pretendentes,hihihi...ahaaaam,falando sério agora, fique à vontade, não precisa ter mêdo de mim.
-Eu tenho sim ! Eu tenho!Estou apavorado !
-Posso interpretar sua resposta como uma necessidade básica inconsciente e instintiva de ter mêdo de mim?Muito bem, então, me diga agora por quê você tem necessidade de ter medo de nós ratos,e gostaria também que você elaborasse uma lista dos danos potenciais no sentido de ameaçar a sua vida que podemos provocar em você.
Paciente estava quase revirando os olhos para o cérebro de tanto terror só de pensar.Após agônicos minutos de silêncio, ao ver que a Doutora estava sentada calmamente numa poltroninha  de couro ,e com as pernas tras

eiras cruzadas, ele disse:
-A senhora...
-Senhorita, eu já disse! Pombas! Você é burro, Paciente ?
-Desculpe,desculpe,por favor ! Senhorita, a senhorita poderia morder a minha jugular ou carótida e me matar, pular em cima de mim e abrir minha barriga com seus dentes e devorar meus intestinos!
Estupefata, de olhos arregaladas, a ratazana repentinamente teve um ataque de riso.A risada rápidamente se transformou numa gargalhada histérica e ela rolava no chão, até batendo no carpete com as patas dianteiros, de tanta graça que tinha achado!
Ele não entendia no que ela achava tanta graça.
Após se recompor, a doutora disse:
-Ai, nossa, esta foi demais!Eu, pular no seu pescoço, morder suas artérias , abrir sua barriga, devorar seus intestinos, credo, coisa nojenta, aaargh,uuuh!
Ela ligou um projetor de slides, e começou a mostrar algumas imagens:
-Ratos não conseguem saltar até a altura do pescoço de um homem adulto,e nossas mandíbulas não tem força suficiente para realizar esta proeza, nem muito menos para abrir o abdômem de um homem,está vendo?Depois, nem temos interesse, nem somos burros, não iríamos atacar uma "presa" muito maior que a gente, não é muito mais fácil a gente fugir?Para quê  arriscarmos nossas vidas?Você tem idéia de quantos ratos com antropofobia eu já tratei?
-Mas uma simples mordida pode me transmitir doenças fatais,doutora!Uma simples mordidinha e...
-Nossa, você me acha assim tão poderosa?Obrigada, você é uma gracinha!Acho que na próxima sessão serei mais carinhosa com você!
-Ai, credo, não chega perto de mim !
-Ah, não ! Eu não acredito! Você tem nojo de mim?Você está me rejeitando?Você me acha feia?Como você é injusto, não sabe o trabalho que me deu fazer este penteado nos meus cílios tão longos! Eu tenho cílios bonitos, não tenho?Se você disser que não, eu te mato, seu bastardooo!
De carinhosa ela passou ara raivosa em instantes.Mas imediatamente acalmou-se:
-Brincadeirinha, seu bobo! Larga do ventilador de teto, você vai cair e se machucar, nossa, mas que menino medroso!
O Paciente demorou a largar do ventilador.
-Bom, vamos voltar à consulta.
-Vamos, eu tenho mêdo de suas brincadeiras.
-Você  achou que eu estava brincando?Eu sou muito vaidosa, tenho uma reputaçao à zelar...
A doutora estava com o rosto rubro de vergonha.Mas continuou:
-Você ainda não me respondeu porque sente necessidade de sentir mêdo de ratos.
-Não é que eu sinta ter necessidade de ter mêdo, doutora, é porque eu tenho mêdo mesmo!
-E porque você tem mêdo,se nem ao menos podemos te fazer mal?Olha, aquele negócio de doença, eu cheguei a ter vontade de gargalhar de novo, pois não tem nada a ver.Só te transmitiria doenças se eu fizesse xixi ou cocô em você. Voce não é portador de coprofagia, não é?Ou você quer que eu faça xixi em você?É este seu fetiche sexual comigo?
A terapeuta enrubesceu de vergonha de novo.
-Não, não, pelo amor de Deus !Credo!
-Uff, ainda bem, credo, que nojo!Mas se não é este seu fetiche sexual comigo, qual ele é, senhor Paciente?
-Eu não tenho nenhum com a doutora não...

(por continuar) 


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