quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver- Prelúdio: Episódio 36






-Lune-san, aqui e’ o Takeo! Olha, eu queria te pedir desculpas por hoje à tarde.
-Está desculpado. Mas não redime seu gesto. O ato de perdoar , se analisado mais a fundo, implica em esquecer o que se fez de errado, e apagar perenemente o ato errado de nossas vidas, mas para isto seria necessário voltar no tempo, o que não e’ possível. Ao desculpa-lo, apenas me comprometo a não lembrar seu gesto, que me perturba até agora, não a desfazer seu ato, o que é impossível.
-Entendo, Lune. Eu estou seriamente arrependido e não paro de torturar minha mente por ter feito o que fiz, e não queria que você sofresse, nem fosse vítima do meu abuso. Mas garanto que não ocorrerá de novo.
-Takeo-san, não se torture, é inútil, não desejo isto a ninguém. Arrepender-se não fará o tempo voltar, mas por outro lado, não quero que me garanta nada. Nunca diga que não mais fará algo que eu posso um dia, quem sabe, querer que você faça um dia!
Só então Lune percebeu pelo silêncio dele que se seguiu, que Takeo estava surpreso. Ela mesma estava surpresa pelo que ela acabara de dizer, e não conseguia imaginar de onde vieram aquelas palavras, só poderia ser algo sub- consciente, instinto novamente! Lune decidiu que era melhor retomar à conversa logo:
-Takeo, eu vou te dar um voto de confiança. Estou no Restaurante Hayashibara, aqui no centro. Você conhece?
-Oh, Lune, você e’ maravilhosa! Obrigado, querida amiga! Conheço sim, estou de carro, chegarei ai bem rápido, pois não estou longe daí!
Ao ouvir a expressão “querida amiga, Lune mostrava seu ríctus de fúria na testa fortemente franzida, sombrancelhas erguidas e inclinadas de cima para baixo, olhar feroz e com um arreganhar de dentes típico de uma tigresa, ela estava furiosa, e mal se continha!
-Não me chame mais de “querida amiga”, entendeu, Takeo-san? Venha logo então, pois não tenho paciência para ficar esperando! Já estou fazendo muito de te dar esta chance, venha logo de uma vez antes que eu desista !
Ela gritou, em tom de ordem ditatorial.
-É para já, Lune!!Muito obrigado! Até já!
Ela desligou o celular. Lune sentia em si que não podia mais conversar somente consigo mesma. Uma segunda opinião subitamente lhe pareceu uma idéia interessante.
A espera dela, no entanto, durou minutos, embora tenha parecido durar uma eternidade, eis que pois o Tempo é emocional e relativo.
Lune refletiu logo a seguir que a presença de Takeo era uma intrusão, uma invasão, que lhe tolhia seus hábitos e costumes, mas por outro lado também a faz pensar se era certo ou errado manter seus hábitos e costumes, enfim, Lune não se sentia mais pura, mas influenciada, sentia- se menos ela mesma, e isto me incomodava, e muito!
Um pequenino Mazda 121, prateado, já contando com alguns anos de fabricação, estacionou bem próximo à porta do restaurante. Era Takeo, que chegou apressado, e se sentou de frente para ela. Lune sentiu o perfume que ele estava usando, e o achou agradável agradável,notou- lhe os cabelos muito arrumados, com gel, e percebeu com satisfação que tudo nele parecia denotar cuidado e atenção para consigo mesmo. Ela olhou para ele e disse:
-Em primeiro lugar, olhe para o meu rosto, não para meu corpo. Em segundo lugar, não fique fitando meus lábios, lembrando do sabor deles. Agora pode falar.
-Lune, olha, por favor, acalme-se, eu não sou nenhum tarado.
-Seus gestos o traem, seu olhar é de desejo, e penso que você já esqueceu o que ocorreu ontem e não valoriza de modo algum meus sentimentos. Seus gestos de ontem desmentem veementemente sua afirmação. Que provas você me dá de que sua afirmação seja verdadeira? Como você quer que eu acredite em você depois do que você fez comigo?
Lune corou dos pés à cabeça ao lembrar, mais ainda ao perceber que a lembrança a deixava agora sexualmente excitada, o que desesperadamente se esforçava para disfarçar!
Takeo corou também, envergonhado, baixou os olhos, depois a cabeça. Lágrimas começaram a correr dos olhos dele. Takeo estava numa posição indefensável, sem argumentos e tremendamente envergonhado e arrependido do que fizera a ela!
 Lune notou então, que, observando-o mais profundamente como pessoa, que ele era um rapaz muito sensível. O silêncio e as lágrimas dele tocou as emoções dela profundamente. A mão dela foi em direção a ele, e acariciou o rosto dele com delicadeza, e beijou-lhe na face. Naquele momento, palavras não eram necessárias!
Lune, surpreendendo a si mesma, levantou-se da cadeira, e o abraçou. Ele se agarrou ao ombro dela e explodiu em um choro convulsivo, que deixou Lune atônita, assim como a todos presentes, que ficaram olhando espantados a cena!
Ele então recompôs-se, e disse com voz embargada:
-Lune-san, eu te Amo!
-Não fale nada. Seus gestos falam por si. Sua sensibilidade me impressionou muito bem, você está me parecendo um ser humano belo de coração e alma!
-Obrigado, Lune-san. Você também a é!
A conversa dos dois logo se reiniciou, e ambos sentaram-se de novo, e Lune discorreu para ele as opiniões dela sobre tudo o que observava, em especial suas filosofices sobre o Nada, e suas críticas à sociedade.
-Temos muitos pontos em comum, Lune-san. É um prazer debater contigo sobre assuntos assim. Será você uma filosofa?
-Não sei, não no sentido estrito, acadêmico, ao menos, não tenho formação oficial para isto, mas ao menos uma pensadora e observadora eu sou. Confesso que já li um pouco, alguma coisa , de Descartes,  Kant , Maquiavel e .alguns outros.
Lune fora modesta. Ela já lera muito, mas muito mais de filosofia do que dissera!

(por continuar)

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