-Lune-san, aqui e’ o Takeo! Olha, eu queria te pedir desculpas por hoje à
tarde.
-Está desculpado. Mas não redime seu gesto. O ato de perdoar , se
analisado mais a fundo, implica em esquecer o que se fez de errado, e apagar
perenemente o ato errado de nossas vidas, mas para isto seria necessário voltar
no tempo, o que não e’ possível. Ao desculpa-lo, apenas me comprometo a não
lembrar seu gesto, que me perturba até agora, não a desfazer seu ato, o que é
impossível.
-Entendo, Lune. Eu estou seriamente arrependido e não paro de torturar
minha mente por ter feito o que fiz, e não queria que você sofresse, nem fosse
vítima do meu abuso. Mas garanto que não ocorrerá de novo.
-Takeo-san, não se torture, é inútil, não desejo isto a ninguém. Arrepender-se
não fará o tempo voltar, mas por outro lado, não quero que me garanta nada. Nunca
diga que não mais fará algo que eu posso um dia, quem sabe, querer que você
faça um dia!
Só então Lune percebeu pelo silêncio dele que se seguiu, que Takeo estava
surpreso. Ela mesma estava surpresa pelo que ela acabara de dizer, e não conseguia
imaginar de onde vieram aquelas palavras, só poderia ser algo sub- consciente,
instinto novamente! Lune decidiu que era melhor retomar à conversa logo:
-Takeo, eu vou te dar um voto de confiança. Estou no Restaurante
Hayashibara, aqui no centro. Você conhece?
-Oh, Lune, você e’ maravilhosa! Obrigado, querida amiga! Conheço sim,
estou de carro, chegarei ai bem rápido, pois não estou longe daí!
Ao ouvir a expressão “querida amiga, Lune mostrava seu ríctus de fúria na
testa fortemente franzida, sombrancelhas erguidas e inclinadas de cima para
baixo, olhar feroz e com um arreganhar de dentes típico de uma tigresa, ela estava
furiosa, e mal se continha!
-Não me chame mais de “querida amiga”, entendeu, Takeo-san? Venha logo
então, pois não tenho paciência para ficar esperando! Já estou fazendo muito de
te dar esta chance, venha logo de uma vez antes que eu desista !
Ela gritou, em tom de ordem ditatorial.
-É para já, Lune!!Muito obrigado! Até já!
Ela desligou o celular. Lune sentia em si que não podia mais conversar
somente consigo mesma. Uma segunda opinião subitamente lhe pareceu uma idéia
interessante.
A espera dela, no entanto, durou minutos, embora tenha parecido durar uma
eternidade, eis que pois o Tempo é emocional e relativo.
Lune refletiu logo a seguir que a presença de Takeo era uma intrusão, uma
invasão, que lhe tolhia seus hábitos e costumes, mas por outro lado também a
faz pensar se era certo ou errado manter seus hábitos e costumes, enfim, Lune
não se sentia mais pura, mas influenciada, sentia- se menos ela mesma, e isto
me incomodava, e muito!
Um pequenino Mazda 121, prateado, já contando com alguns anos de
fabricação, estacionou bem próximo à porta do restaurante. Era Takeo, que
chegou apressado, e se sentou de frente para ela. Lune sentiu o perfume que ele
estava usando, e o achou agradável agradável,notou- lhe os cabelos muito
arrumados, com gel, e percebeu com satisfação que tudo nele parecia denotar
cuidado e atenção para consigo mesmo. Ela olhou para ele e disse:
-Em primeiro lugar, olhe para o meu rosto, não para meu corpo. Em segundo
lugar, não fique fitando meus lábios, lembrando do sabor deles. Agora pode
falar.
-Lune, olha, por favor, acalme-se, eu não sou nenhum tarado.
-Seus gestos o traem, seu olhar é de desejo, e penso que você já esqueceu
o que ocorreu ontem e não valoriza de modo algum meus sentimentos. Seus gestos
de ontem desmentem veementemente sua afirmação. Que provas você me dá de que
sua afirmação seja verdadeira? Como você quer que eu acredite em você depois do
que você fez comigo?
Lune corou dos pés à cabeça ao lembrar, mais ainda ao perceber que a
lembrança a deixava agora sexualmente excitada, o que desesperadamente se
esforçava para disfarçar!
Takeo corou também, envergonhado, baixou os olhos, depois a cabeça. Lágrimas
começaram a correr dos olhos dele. Takeo estava numa posição indefensável, sem
argumentos e tremendamente envergonhado e arrependido do que fizera a ela!
Lune notou então, que,
observando-o mais profundamente como pessoa, que ele era um rapaz muito
sensível. O silêncio e as lágrimas dele tocou as emoções dela profundamente. A
mão dela foi em direção a ele, e acariciou o rosto dele com delicadeza, e beijou-lhe
na face. Naquele momento, palavras não eram necessárias!
Lune, surpreendendo a si mesma, levantou-se da cadeira, e o abraçou. Ele
se agarrou ao ombro dela e explodiu em um choro convulsivo, que deixou Lune
atônita, assim como a todos presentes, que ficaram olhando espantados a cena!
Ele então recompôs-se, e disse com voz embargada:
-Lune-san, eu te Amo!
-Não fale nada. Seus gestos falam por si. Sua sensibilidade me impressionou
muito bem, você está me parecendo um ser humano belo de coração e alma!
-Obrigado, Lune-san. Você também a é!
A conversa dos dois logo se reiniciou, e ambos sentaram-se de novo, e
Lune discorreu para ele as opiniões dela sobre tudo o que observava, em
especial suas filosofices sobre o Nada, e suas críticas à sociedade.
-Temos muitos pontos em comum, Lune-san. É um prazer debater contigo
sobre assuntos assim. Será você uma filosofa?
-Não sei, não no sentido estrito, acadêmico, ao menos, não tenho formação
oficial para isto, mas ao menos uma pensadora e observadora eu sou. Confesso
que já li um pouco, alguma coisa , de Descartes, Kant , Maquiavel e .alguns outros.
Lune fora modesta. Ela já lera muito, mas muito mais de filosofia do que
dissera!
(por continuar)
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