quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sensibilidade de Viver Origens Episódio 14





De mansinho, e novamente contra a sua vontade, as cenas de sua briga com Ruri voltaram também, e lágrimas caíram de seus olhos, e ela disse em voz alta:
-Como eu pude fazer isto com ela...como pude?Oh, Ruri-chan, como posso reparar meus erros? O que foi que fiz com você, irmãzinha..
Mas retratos falam na memória e contam histórias e não nos deixam esquecê-las, e assim, logo as lembranças mais antigas voltaram e Lune adormeceu.
Em seu sonho ela estava com cinco anos de idade, de mãos dadas com senhores que andavam perfilados um ao lado do outro,todos barbudos e de cartolas, vestindo fraques.
Eram seus filósofos adorados. Eles dialogavam entre si, falando citações de livros que ela tinha lido e ela estava encantada em seu vestidinho cor de laranja e lacinho da mesma cor em forma de rotor de helicóptero na cabeça.
Então ela viu ao longe o que parecia ser uma família do final do século dezenove.
O ambiente era coberto por uma neblina intensa, então demorou para os vultos se mostrarem:
Era um senhor gordo e barbudo, de barba grisalha, que fumava cachimbo,, com um jornal enrolado debaixo do braço, uma senhora muito bonita, de cabelos preto, cujo rosto lembravam muito o da própria Lune,uma menina de três anos e um bebê nos braços da senhora.
Os senhores perfilados, que caminhavam por algo que parecia uma praça ou parque, pararam, e a família também parou, de frente para eles.
Lune teve uma vontade irresistível de ir para aquela família e tentou soltar-se da mão forte que a segurava.
-Para que você quer ir com eles?
Perguntou friamente o senhor que segurava sua mão.
Lune sentia que pertencia aquela família e tinha de se soltar e insistiu, mas o homem a questionou friamente:
-Você ainda não respondeu minha pergunta.
-Eu só quer ir, me larga !
-Resposta ilógica.
Respondeu um.
-Incoerência ultrajante !
Disse outro.
-Dados insuficientes! Respondeu um terceiro.
O primeiro lhe fez outra pergunta:
-O que eles tem a te oferecer que não temos?
-Me larga, quero ir !
Um rapaz sorridente com um dobermann na correia apareceu e interpôs-se entre ela e a família.
-Me deixa ir !
Lune gritava, mas a cada vez que ela gritava, o cachorro latia e rosnava, arreganhando os dentes, com olhar assassino.E o rapaz , divertido, só sorria !
Lune sentia vontade de chorar, e ficou com medo do cachorro e abraçou a perna do senhor que a segurava.
-Inútil fazer isto, nós não estamos aqui para lhe proteger, estamos aqui para te ensinar!
-Mas eu quero ir ! Eu quero !Eu quero eles !
E ao mesmo tempo que ela gritava, o cachorro latia, impedindo a família de escutar seus apelos.
-Nós temos conhecimento a te oferecer. Eles só tem amor para te dar. E para que você quer ter amor, se você só precisa de conhecimento?
-Ela não precisa do nosso amor, pois ela não nos ama. Ela apenas ama o conhecimento. Disse o senhor barbudo de cachimbo na boca,cujo olhar era gelado.
-E isto mesmo. Ela não precisa de amor, precisa apenas de conhecimento, isto basta para ela, e já decidimos por ela.Não estamos aqui para amá-la, apenas para ensiná-la, ela não precisa da educação de vocês.
Disseram os senhores perfilados, em uníssono.
-Nãaaaao ! Berrou Lune desesperada, enquanto o cachorro latia mais alto e encobria sua voz novamente.
A família desapareceu nas brumas, e o rapaz com o cachorro também.
A partida deles doeu no coração da menina, mas aquela mão parecia de ferro a oprimir sua mão e ela não conseguia se desvencilhar, e eles continuaram confabulando citações filosóficas entre si, como se nada tivesse acontecido.
-Como vocês são frios, insensíveis !
- Claro que somos. Nós somos você. E você somos nós.Uma relação perfeitamente dialética , eu diria !
E súbitamente também eles desapareceram.
O ímpeto dela era procurar por sua família, mas latidos tenebrosos ecoavam pelas brumas , sem que se conseguisse localizar de onde vinham, e o medo dela encontrar novamente o dobermann aumentava.
Aflita, desesperada, a solidão veio com tudo e se abateu sobre ela, que não sabia mais o que fazer, e chorava.Mas a cada vez que sua voz se soltava, os latidos sua voz abafavam e reprimiam, cada vez mais alto até obrigá-la a ficar calada, e as lágrimas escorriam soltas.
O cão, ou os cães, pois agora parecia ter centenas, milhares deles, latindo, rosnando e uivando medonhamente na neblina a paralisava, e ela não conseguia sair do lugar e se sentou chorando, com as mãos sobre o rosto.
-Lune-san !Lune -san ! Está na hora do meu remédio de novo!Acorda !
Ela abriu os olhos. Era Otaru, e ele tremia, mal se aguentando em pé.
-Oh, não ! Gritou Lune, abraçando seu irmão.Com muito esforço, e ainda os olhos úmidos, ela o carregou o quarto dele, e lhe deu remédio.Ficou ao lado da cima dele o tempo todo, medindo sua temperatura, que finalmente baixou, para seu alívio !
Ela ficou tão feliz, que beijou-lhe o rosto, e lhe deu um abraço.
-Ai, Onii-chan, você é tão fofinho !Adoro você, viu? Ela disse para ele, olhando nos olhos dele com um sorriso meigo e um olhar doce e carinhoso.
-Lune-chan, você que precisa tomar um banho agora, está cheirando mal...
Ela corou de vergonha, beijou a testa dele e disse:


-Então eu vou ao meu quarto e vou tomar um banho.Por favor não saia mais do seu quarto até você ficar bom.Volto daqui a pouco.
E ela foi.

(por continuar)

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