terça-feira, 12 de agosto de 2014

Conto: Phantasmagoria -PARTE 2



 Parte 2
...Ouviu-se um miado. Não um miado qualquer, mas algo cavernoso, espectral.
Uma sombra se projetou em outro corredor e parecia se aproximar, tomando proporções gigantescas, e sim, ele tremia !
Não bastasse o medo, não bastasse o frio, nem a fome, da qual seu estômago gemia,o chão agora  lhe faltava, e  tudo o que sentia, era o que não sabia, se era noite ou era dia,vertigens e náuseas eram tudo que de sensações lhe havia!
Cambaleante pelos corredores ele viu a besta fera: um tigre dentes de sabre inacreditávelmente magro e seco, qual múmia viva,que miava, urrava,rugia; denotando desespero em cada nota que soava,olhar terrífico de crueldade sem par,eis que o enorme felino pôs-se a avançar !
Rigor ,na tentativa de se esquivar, deu um passo para trás.
A fera correu em sua direção e saltou, com os terríveis dentes de sabre a rebrilhar.
Fecham-se os olhos cansados novamente, refugiando-se na mente, procurando por paz.
O olhar então novamente  se faz, e o esqueleto do tigre dentes de sabre quieto a seus pés ali jaz.
O labirinto calcário parece nunca terminar, eterno calvário à se desdobrar em lúgubres corredores e salas à perder de vista,perenidade que em tudo soa sinistra.
Perambulando como um andarilho, como que vivendo um pesadelo cujas sombras ameaçadoras de tantas criaturas pré históricas que lhe defrontam, acendendo seu pavor como da pólvora o rastilho,o paleontólogo  Rígor Mortis não mais consegue fazer distinção entre o que e real ou ilusório,realidade ou fantasia.
Fantasmagoria !
Ele não entendia, as sensações eram reais demais, ele podia jurar que via o Mamute monstruoso que berrava agora à ponto de quase ensurdecê-lo e brilhava feérico,parecendo estar agora a ponto de lhe pisar com uma patada!
Mas quando tudo parecia estar na iminência de acontecer,ossos cintilantes como jóias brancas começavam a  chover, e batiam no chão a cair, levantando  alva poeira calcária, que o fazia tossir,ilusão e verdade a se  fundir e confundir, impossível agora discernir !
O que lhe parecia era que aquele lugar era uma armadilha natural , e que em tempos ancestrais, animais pré históricos que a época viviam, lá caíram, com o tempo, dezenas, talvez centenas deles!E ali teria sido deles o túmulo,pois de lá, onde nem água nem comida havia,ninguém mais saía.Ninguém, homem ou besta, pode escapar da extinção. Quando a Natureza faz seu chamado para a morte,ser algum escapa ou tem sorte.Pode às vezes demorar, como ocorreu aos dinossauros, mas um dia, inexoravelmente, a Natureza chama as espécies para o covil do esquecimento, determinando assim com crueldade seu desaparecimento!
Aqui deve ser o lugar que a Natureza construiu para mostrar à todas as espécies, especialmente o Homem,que nada, ninguém a não ser a própria Natureza, é eterno. Antro de fantasmas, derrotados,extintos, o próprio inferno !
Assim pensou consigo Rigor Mortis.
Morte por fome, por sede, desesperança, solidão, eis que o pavor de ser mais uma vítima o prendia naquele lugar como um grilhão!
Uma nova sombra lhe pareceu no entanto, humana.Uma mulher Neandertal!
Ela parecia cansada, e quanto mais de Rigor ela se aproximava, mais envelhecia.
Quanto mais próxima, também mais emagrecia.
-Pare, por favor ! Você vai morrer se continuar se aproximando de mim!
Como resposta , uma voz ele pareceu ouvir.Porém nem ele mesmo sabia se sua própria voz soava!
-Já não importa...disse com desânimo a mulher, que continuou:
-Morta como todos aqui já estou.
-Então estou vendo fantasmas?Estarei sonhando? Se daqui eu quiser sair, para onde vou?
-Para lugar algum.Você ainda não entendeu o que lhe ocorreu.
-Como assim?Estou vivendo sonho ou realidade?Rígor Mortis a interpelou.
-Nem sonho, nem realidade, você não está vendo fantasmas, mas a si mesmo, pois para um fantasma outros não o são.Simplesmente você está morto !
E ela se ressecou até  se transformar em esqueleto, e os ossos caíram no chão e logo começaram a  se decompor.
E de sua garganta desesperada não soou  o grito de horror que da sua mente torturada emanou !
Dois esqueletos humanos agora esvoaçavam em forma de pó pelos corredores sombrios, pela eternidade....

                                                         FIM

Cristiano Camargo

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