Parte 2
...Ouviu-se um miado. Não um miado
qualquer, mas algo cavernoso, espectral.
Uma sombra se projetou em outro
corredor e parecia se aproximar, tomando proporções gigantescas, e sim, ele
tremia !
Não bastasse o medo, não bastasse o
frio, nem a fome, da qual seu estômago gemia,o chão agora lhe faltava, e tudo o que sentia, era o que não sabia, se
era noite ou era dia,vertigens e náuseas eram tudo que de sensações lhe havia!
Cambaleante pelos corredores ele viu
a besta fera: um tigre dentes de sabre inacreditávelmente magro e seco, qual múmia
viva,que miava, urrava,rugia; denotando desespero em cada nota que soava,olhar
terrífico de crueldade sem par,eis que o enorme felino pôs-se a avançar !
Rigor ,na tentativa de se esquivar,
deu um passo para trás.
A fera correu em sua direção e
saltou, com os terríveis dentes de sabre a rebrilhar.
Fecham-se os olhos cansados
novamente, refugiando-se na mente, procurando por paz.
O olhar então novamente se faz, e o esqueleto do tigre dentes de
sabre quieto a seus pés ali jaz.
O labirinto calcário parece nunca
terminar, eterno calvário à se desdobrar em lúgubres corredores e salas à
perder de vista,perenidade que em tudo soa sinistra.
Perambulando como um andarilho, como
que vivendo um pesadelo cujas sombras ameaçadoras de tantas criaturas pré
históricas que lhe defrontam, acendendo seu pavor como da pólvora o rastilho,o
paleontólogo Rígor Mortis não mais consegue
fazer distinção entre o que e real ou ilusório,realidade ou fantasia.
Fantasmagoria !
Ele não entendia, as sensações eram
reais demais, ele podia jurar que via o Mamute monstruoso que berrava agora à
ponto de quase ensurdecê-lo e brilhava feérico,parecendo estar agora a ponto de
lhe pisar com uma patada!
Mas quando tudo parecia estar na
iminência de acontecer,ossos cintilantes como jóias brancas começavam a chover, e batiam no chão a cair,
levantando alva poeira calcária, que o
fazia tossir,ilusão e verdade a se
fundir e confundir, impossível agora discernir !
O que lhe parecia era que aquele
lugar era uma armadilha natural , e que em tempos ancestrais, animais pré
históricos que a época viviam, lá caíram, com o tempo, dezenas, talvez centenas
deles!E ali teria sido deles o túmulo,pois de lá, onde nem água nem comida
havia,ninguém mais saía.Ninguém, homem ou besta, pode escapar da extinção.
Quando a Natureza faz seu chamado para a morte,ser algum escapa ou tem
sorte.Pode às vezes demorar, como ocorreu aos dinossauros, mas um dia, inexoravelmente,
a Natureza chama as espécies para o covil do esquecimento, determinando assim
com crueldade seu desaparecimento!
Aqui deve ser o lugar que a Natureza construiu
para mostrar à todas as espécies, especialmente o Homem,que nada, ninguém a não
ser a própria Natureza, é eterno. Antro de fantasmas, derrotados,extintos, o
próprio inferno !
Assim pensou consigo Rigor Mortis.
Morte por fome, por sede,
desesperança, solidão, eis que o pavor de ser mais uma vítima o prendia naquele
lugar como um grilhão!
Uma nova sombra lhe pareceu no
entanto, humana.Uma mulher Neandertal!
Ela parecia cansada, e quanto mais de
Rigor ela se aproximava, mais envelhecia.
Quanto mais próxima, também mais
emagrecia.
-Pare, por favor ! Você vai morrer se
continuar se aproximando de mim!
Como resposta , uma voz ele pareceu
ouvir.Porém nem ele mesmo sabia se sua própria voz soava!
-Já não importa...disse com desânimo
a mulher, que continuou:
-Morta como todos aqui já estou.
-Então estou vendo fantasmas?Estarei
sonhando? Se daqui eu quiser sair, para onde vou?
-Para lugar algum.Você ainda não
entendeu o que lhe ocorreu.
-Como assim?Estou vivendo sonho ou
realidade?Rígor Mortis a interpelou.
-Nem sonho, nem realidade, você não
está vendo fantasmas, mas a si mesmo, pois para um fantasma outros não o
são.Simplesmente você está morto !
E ela se ressecou até se transformar em esqueleto, e os ossos caíram
no chão e logo começaram a se decompor.
E de sua garganta desesperada não
soou o grito de horror que da sua mente
torturada emanou !
Dois esqueletos humanos agora
esvoaçavam em forma de pó pelos corredores sombrios, pela eternidade....
FIM
Cristiano Camargo
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