segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Poesia: Madrugada



Amanheceu um novo dia
O Sol começa a permear as nuvens
Com raios de luz dourada
Invadindo a escuridão fria da madrugada

A neblina espessa sobre os campos verdes
Sombreados
Por sua aura mágica de mistério
E’ devassada pela luz inquietante

Que insiste em brilhar
Refletindo os grãos de poeira
Sementes e pólen
Que dançam na brisa mansa
E gélida

Uma onda crescente de calor
Amplia seus domínios pela escuridão
E o céu  esmaece em tons de vermelho
Amarelo, dourado , branco, rosa
As nuvens alvas flutuantes
Começando a se desenhar no firmamento
Suaves e marcantes como a luz das estrelas
Com quem trocam aos poucos de lugar

O vento dobra o tapete verde de capim
As sombras serpenteiam pelas campinas e morros
Seguindo o sibilo do vento veloz
Dançam as sombras ao sabor das mares
De luz solar
Que ora inundam,
Ora retraem,
O horizonte infinito

Pés leves correm pelas campinas
Um olhar feroz vislumbra
O verde dourado do capinzal
E os tapetes multicoloridos de flores
Que se espalham
Aqui e acolá
Um coração forte pulsa
Com vigor,
Cada fibra de músculo rijo
Dança com elegância
Formando passos suaves
E silenciosos

A respiração e’ leve
A alma e’ tranqüila
Um só pensamento:
Fome ! Fome ! Fome !

Uma pequena cabeça
Espreita o infinito
Olhinhos miúdos
Assustados
Correm o horizonte
Deixam o conforto das profundezas úmidas da terra
Quatro pezinhos vacilantes

As orelhas altas e esguias escaneiam a vastidão
Em busca do menor ruído
Prontas a dar o alarme
Um coração pequeno e apertado
Bate nervoso
Como se o próximo batimento fosse o ultimo
Um só pensamento:
Medo ! Medo ! Medo !

Dentes alvos e afiados estão a mostra
Passos confiantes trotam em meio aos girassóis
Então, o coração acelera furiosamente
Adrenalina corre solta
Cada fibra de cada músculo pulsa em ondas
Frenéticas e nervosas
Cada qual empurrando a próxima para a frente
Os passos são velozes
O galope a toda velocidade
A espinha arqueia e se estica
Acumulando e liberando energia continuamente
Em um frenesi acelerado
Impulsionando em um crescendo inexorável
O lobo vigoroso em sua caçada mortal
Ele sente o vento, sente o cheiro
Vive e aproveita cada momento

Pequenos pés correm pela vida,
O coração esta disparado
Desesperado,
Adrenalina corre solta,
Cada nervo corre contra o tempo
Para comandar curvas velozes e inesperadas
Acelerando ate’ a histeria cada fibra de músculo
A dor e o cansaço não contam
Cada impulso pode ser o ultimo
O terror esta estampado em cada olho
Como bem o mostram as pupilas dilatadas
Como o tempo correndo em câmara lenta

O hálito da morte se aproxima
Alerta o focinho exasperado
Do coelho aterrorizado

Saliva cai e voa ao vento
Saída da boca faminta coroada de dentes navalhinos
O cheiro da carne doce e quente se aproxima

Um pequeno mas vigoroso salto a mais
Dentes agudos penetram na pele suave e tenra
Afundam na carne macia
A dor escancara mais ainda as pupilas  em pânico

Um ultimo esforço a mais
Um arranque desesperado
A consciência da morte
A dor! A dor ! A dor lancinante não quer parar!
Mandíbulas se apertam
A pressão,
Não há mais fuga possível,
Pequenas pernas debatem-se
Relutando em aceitar seu destino
Inevitável
Como e’ dolorosa a consciência
Do final da vida
E sua inevitabilidade cruel

Dentes afiados são tingidos de vermelho
O rubro doce  e quente borbulhante
Sangue inunda a boca avida e babosa
Mandíbulas se apertam ainda mais

O terror absoluto se revela
Quando ossos são quebrados
O som terrível da espinha se despedaçando
Ante a temível pressão
Não há’ mais saída

O coelho desfalece ante a perda de sangue
E a espinha estilhaçada
Mas ainda vive
Mas já não há mais temor
Não há mais horror
Só’ conformidade

O que antes era frio e cansaço
Agora e’ descanso e paz
A vida se esvai
A cada pedaço de carne
Arrancada

O sabor da carne doce e macia
Invade todos os sentidos
O lobo se delicia
O sol já brilha inteiro
Já e’ dia.

Fim 

Cristiano Camargo

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário